quarta-feira, 16 de março de 2016

É uma forma ainda assim educada de nomear os burros

Vitor Cunha
Tencionava passar uma tarde tranqüila, sem grandes aborrecimentos, ignorando o orçamento da geringonça em vigor até ao rectificativo de Abril, eis que sou confrontado com um artigo de opinião do doutor Rui Tavares1.

Nesta brilhante obra de ficção, o doutor Tavares conclui que o Brasil está reconhecível, os brasileiros é que não, o que quer que isto queira dizer. Provavelmente, pensa o leitor, significa que o doutor Tavares reconheceu Copacabana – “sim, lembro-me, é isto” -, mas não reconheceu a senhora que a ele se dirigiu, pedindo para não lhe pisar o pé – “ei, eu conheço você! Você é o Antônio Sala, cara! Sou eu, a Gabrielly!”

Mas não, não se trata disso, trata-se do doutor Tavares reconhecer Copacabana mas estranhar os “vícios machistas, racistas e classistas ainda alojados na psique coletiva de parte da sociedade brasileira”. Da última vez que o doutor Tavares esteve no Brasil, há “cinco anos”, não havia qualquer sinal de “vícios machistas, racistas e classistas ainda alojados na psique coletiva de parte da sociedade brasileira”, pelo que os “vícios machistas, racistas e classistas ainda alojados na psique coletiva de parte da sociedade brasileira” devem ter sido implantados desde 2011, altura em que o doutor Tavares não deu pela existência deles. Faz pensar se o doutor Tavares tem consciência do significado de “ainda alojados”, né?

O doutor Tavares continua, afirmando que “este não é o Brasil dos últimos anos, quando dois presidentes — Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva — mudaram para muito melhor a economia e a sociedade do país, a partir de uma política que sempre pareceu uma catástrofe adiada”. Vai-se a ver, doutor Tavares, acabou o adiamento da catástrofe, né?

Depois, mais à frente, o doutor Tavares questiona se o cargo ministerial a atribuir a Lula será simbólico ou não; eu diria, doutor Tavares, que o simbolismo associado é bastante evidente, servindo apenas para safar o biltre com quem, inquestionavelmente, o doutor Tavares simpatiza. Não escolhemos as nossas simpatias, às vezes são elas que nos escolhem, se pensarmos na tragédia que foi a campanha do candidato da ala Livre do PS, o professor doutor Sampaio da Nóvoa; outras vezes, as simpatias são o que se consegue arranjar.

Apesar de tudo, queria saudar o doutor Tavares por identificar aquelas que, a partir de agora, são as culpas do Universo a tudo que desagrade o doutor Tavares: machismo, racismo e classismo. A solução para os males do mundo parecem ser o feminismo, miscigenação e abolição de classes.

Para a última tenho uma solução imediata para o doutor Tavares: estou a precisar de um trolha que venha cá erguer um muro. Para restantes, também tenho: quem quiser – não pode ser branco – vir miscigenar-se com o doutor Tavares sem olhar a identificação retrógrada de géneros, que venha também.

1 Líder emérito do movimento unipessoal Livre, criado no âmbito do plano de diversidade de fauna e flora promovido pelo Partido Socialista.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 16-3-2016

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