Aparecido Raimundo de Souza
“Para esse prédio virar gente de respeito, precisamos eleger um síndico o
mais rápido possível”.
Cézar, o ‘Cavernoso’.
O síndico é antes de tudo um destemido, valente, afoito, arrojado, pelo
menos, no espírito. Como diria Euclides da Cunha, “um forte”. Sujeito cabra
macho, bom de briga sabe como descer o braço, sem dó nem piedade, nos costados
dos moradores para os obrigarem a pagar em dia o condomínio.
Síndico é ainda aquele que faz tudo o que todos deveriam fazer, mas não
têm tempo de porra nenhuma, pelo bem da comunidade que administra. Aprendeu,
desde cedo, com o diabo, a difícil arte de se manter disfarçado, como um cordeirinho,
por períodos que duram exatos trinta dias.
Passada essa vacância, retorna com toda corda, ou mais precisamente no
quinto dia útil de cada novo mês, transformado numa espécie de lobo faminto e
devorador, pior que o asqueroso Lula, quando pediu dinheiro à empreiteira
Odebrecht. Só para lembrar aos leitores, o ex-presidente pulou com tanta sede
nos colhões do pote, que um dos diretores chegou a comparar o ato desse verme
nojento, como a goela muito aberta e escancarada do PT (Partido dos Trambiqueiros)
de um jacaré com fome de crocodilo.
Como tal, em suas “funções” o síndico ataca sem contemplação as suas
presas e vítimas, começando pelas vovozinhas. É meio aparentado do tal bicho
papão. Tem a estranha mania de se manter por detrás da moita, sentado, numa
cadeira confortável, vendo televisão pelo circuito interno e, quando menos se
espera, cria vida, asas e se materializa, dando o bote.
Aparece do nada e assusta como se fosse um barco descontrolado diante de
banhistas incautos. Existe um ditado rolando entre os arranha-céus, que diz
mais ou menos o seguinte: “quando um síndico começa a afundar com o prédio onde
você mora, não reze. Mude imediatamente de edifício”.
Saibam, senhoras e senhores, que existem dois tipos distintos e
conhecidos de síndico. Além do síndico comum (aquele que administra nossos
espaços de moradias), temos também o síndico da massa falida, ou seja, o
síndico (ou vulgarmente o sínico) da massa falida, aquela pessoa altamente
qualificada que cuida dos bens de um inventário, até que o verdadeiro dono
morra e ele tome posse definitivamente, passando a usufruir desses frutos e
haveres, como se fossem adquiridos com o suor do seu trabalho.
Nos prédios onde temos nossos lares, esposas e filhos, é muito comum
depararmos o síndico da massa não a falida, mas a fodida. Que diabo venha ser
isso? Explicamos. Do alto do seu nobre cargo, todo síndico que se preza se
sente na pele do ilustre Saddam Hussein, falecido nos idos de 2006.
Como o estadista iraquiano, o desnaturado não tem complacência. Apela
sempre para meios escusos, não dorme, está constantemente em vigília
(principalmente de butuca nos condôminos que tentam fugir na calada da noite,
disfarçados de Renan Galheiros ou Fernando Pó de Melo) e se o porteiro ou o
vigia noturno entram numa de cochilar, aplica-lhes uma advertência de três dias
(o famoso balão) e aproveita para embromar e comer os trocadinhos que os
infelizes teriam a receber no final do mês.
Salvador Decá, com muita propriedade, apregoava. “A diferença entre um
homem e um síndico, é que o homem é ponderado, o síndico não sabe o que é
isso”. Daí, senhoras e senhores, afirmarmos que geralmente essas figuras não
têm mãe. Talvez, em razão disso, as más línguas, asseverem que as putas que os
pariram, morreram de puro desgosto, –
uma porque um miserável, logo que se viu eleito, teve a coragem de cobrar da
própria genitora, uma taxa extra, em aberto, referente à troca dos cabos dos
elevadores –, enquanto o outro estuprou o cofrinho com as economias da pobre da
velha, para ajudar no complemento do dinheiro para saldar o décimo terceiro dos
funcionários alegando falta de caixa e alta inadimplência.
Observem que somos obrigados a acreditar na sorte. Como lecionava o
francês-brasileiro Jean Coquiteull “sem ele, o síndico, como explicarmos o
sucesso de um maldito vagabundo que tanto detestamos?”. Falando em vagabundo,
em cada edificação urbana existe um sindico tido como malandro. Aquele
espertalhão com ares de anjinho bucólico, pacato, bom falador, bem-apessoado,
todavia, que faz da gente um completo idiota. Geralmente eles põem a culpa nas
escadarias, que é para parecerem menos ladrões.
“Precisamos trocar – berram nas reuniões enfadonhas - os degraus do
terceiro, do quinto, do novo, do décimo oitavo, os corrimãos do ‘vinte e dois’
ficaram velhos, se faz mister substituirmos as lâmpadas do décimo segundo e do
décimo quinto, por estarem queimadas, sem falarmos, mas agora o fazendo, nos
sensores de presença do onze e do treze por aparelhos mais modernos”.
No final das contas, amadas e amados, fora os eteceteras, eteceteras e
tais, nada é substituído e o mais desgastante para os bolsos dos residentes:
todo mês vem no boleto, de boca aberta, a parcela equivalente ao extra das
escadas, mas as bostas elencadas continuam na estaca zero, pior que os degraus
dos porões sombrios e mafiosos do antigo DOPS, na Rua da Relação, com
Inválidos, no centro do Rio de Janeiro.
Síndico no entender do Burrão de Itararé, “é aquela grotesca alma penada
que faz muito barulho, porém, é extremamente oca por dentro e por fora”.
Sindico, não tem rosto. No lugar dele, uma estonteante e sádica cara de pau.
Seu perfil masturbado já vem com uma boa camada de verniz que é para não ficar
vermelha na hora de aumentar a taxa destinada à limpeza das caixas d’água ou a
substituição dos extintores de incêndios por outros que não funcionam. O
síndico, no geral, não pede, manda, não dá ordens, vende pensamentos, não
perdoa, esfola, não pensa, age e jamais visa o bem-estar de seus semelhantes a
não ser para lhes arrancarem os couros, às unhas afiadas como um patrocinador
do terrorismo de um estado islâmico interno.
O síndico é, visto por uma ótica mais abrangente, um elemento tido como
useiro e vezeiro, ou contumaz e impertinente, amoldado aos sinônimos de taxas
extras e cotizações de impostos e contribuições a se perderem de vistas. Usa
dessas artimanhas, para maquiar as companhias de água, luz e fornecimento de
gás com as desculpas de permutar meia dúzia de canos ou vistoriar redes com
suspeitas de gatos latindo.
É, ainda, o síndico, o advogado e juiz, que ingressa na justiça para
“tomar” (dentro da lei), a unidade daquele Mané desempregado, que por ter
várias prestações em aberto, e não tendo como adimplir, de vez, se vê, de
repente, jogado na rua da amargura com todos seus cacarecos.
O síndico, por derradeiro, é aquele pai desnaturado, que deixa o filho
com fome e a mulher de olho no big brother merda Brasil, enquanto nesse
intervalo desce as carreiras à casa da administração para dar uns agarros
vapt-vupt na faxineira boazuda.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De
Fortaleza, no Ceará. 13-4-2017
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