segunda-feira, 10 de abril de 2017

Crivella, as três cartas e os cem dias

Cesar Maia
               
1. Conta-se que no ato da posse de um novo governante, aquele que saía, ao passar o cargo, entregou três cartas ao que assumia. E disse: “Abra a primeira carta quando enfrentar sua primeira crise; abra a segunda carta ao enfrentar sua segunda crise; e abra a terceira carta ao enfrentar sua terceira crise.” E assim foi.
                   
2. Na primeira crise, o governante abriu a primeira carta e leu: “Coloque toda a culpa no governo anterior, na herança perversa que recebeu”. Passou um tempo e veio a segunda crise. O governante abriu a segunda carta e leu: “Faça uma ampla reforma de seu secretariado e informe que este não vem conseguindo enfrentar os problemas”.
                    
3. Passado um tempo, surgiu uma terceira crise. Aberta a terceira carta o governante leu: “Escreva três cartas e entregue a seu sucessor.”
                   
4. Após cem dias de governo, Crivella realizou uma reunião com seus auxiliares e a imprensa. Abriu a primeira carta e discorreu sobre a herança perversa que recebeu das quatro últimas administrações dos dois governos que o antecedeu. Citou números e dívidas, obras paradas, programas interrompidos. Restos a pagar. Déficits recebidos do Tesouro e da Previdência Municipal.
                   
5. Se tivesse lido o seu próprio Diário Oficial de 30/03/2017, teria visto números muito diferentes dos que apresentou através de um tradicional Power Point colorido, emoldurado e bem diagramado, de forma a impressionar os presentes. Não há o déficit do tesouro que alardeou. E o déficit corrente projetado da previdência social municipal é seis vezes maior que o déficit projetado, constante daquele Diário Oficial. 

6. O fato é que Crivella organizou um governo heterogêneo em que nenhuma das secretarias tem políticas públicas sequer para um ano de governo. Os cem primeiros dias são muito mais de não-governo. Extrapolando para o ano todo, Crivella abrirá 2018 com uma segunda crise. Abrirá a segunda carta e fará uma ampla reforma de seu secretariado. E oferecerá como desculpa que vários de seus auxiliares serão candidatos a deputado estadual e federal e que, por isso, precisa designar substitutos.
                  
7. Mas se não superar o não-governo e se não construir, até o início do segundo ano, um governo homogêneo, coordenado e com políticas públicas orientadoras da dinâmica das ações e das funções de governo, em breve a terceira carta fará cócegas em seu bolso. E o slogan de campanha e de governo só servirá aos contemplados com comissionamentos e contratos que estarão, então e por isso, bem cuidados.
Título e Texto: Cesar Maia, 10-4-2017

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