Paulo Hasse Paixão
Os cristãos da Nigéria estão a
ser massacrados. Mais de 62.000 desde 2009, 7.087 mortos só em 2025. Os
jihadistas fulanis, o Boko Haram e o ISWAP travam uma campanha implacável de
assassinatos, violações, incêndios e aniquilação, mas a UE mantém-se em silêncio,
dando prioridade aos acordos petrolíferos em detrimento das vidas humanas.
Porque é que os progressistas se manifestam por Gaza, mas ignoram este banho de
sangue? Porque as vítimas cristãs não se enquadram na sua narrativa. Algumas
vidas negras aparentemente não importam.
A Nigéria, com os seus 229
milhões de habitantes, divide-se em 46% de cristãos e 54% de muçulmanos. O
norte muçulmano aplica a Sharia em 12 estados, marginalizando, perseguindo e
deslocando os cristãos, enquanto o sul cristão oferece refúgio. O Cinturão do
Meio, onde os agricultores cristãos se encontram com os pastores muçulmanos
fulanis, é o Ground Zero.
As disputas por recursos,
agravadas pela desertificação, evoluíram para a jihad. Armada com AK-47 e
machetes, a Milícia Étnica Fulani (FEM) ataca aldeias cristãs com a intenção de levantar um
califado islâmico no país. Em 2025, só o estado de Benue registou 1.100 mortes,
incluindo 280 no massacre de Yelewata. As milícias Fulani superam o Boko Haram
em número de mortos, causando 42% das mortes de civis no centro da Nigéria
desde 2021.
O infame Boko Haram, nascido em 2002 para rejeitar a educação e a cultura ocidentais, lançou a sua insurgência em 2009, visando um emirado islâmico. A sua célula, o Estado Islâmico da Nigéria (ISWAP), juntou-se formalmente ao ISIS em 2015. Bombardeiam mercados, raptam estudantes (como os 276 de Chibok em 2014) e executam cristãos durante o culto. Desde 2009, mataram dezenas de milhares de civis e incendiaram 1.400 escolas.
Os números são de genocídio:
13.000 assassinatos motivados pela fé entre 2015 e 2023 (Open Doors), ou 52.250 em 14 anos (Intersociety). Em 2024, 5.000 cristãos morreram e 2.000
foram raptados. Os raptos alimentam uma economia multimilionária de resgates
que visam padres e seminaristas. Em 2025, 7.800 foram raptados, incluindo 14
padres católicos. As mulheres enfrentam violação e conversão forçada. Mais de
mil aldeias cristãs foram saqueadas e 52.000 quilómetros quadrados anexados. As
zonas da Sharia aplicam leis de blasfémia, impedindo os cristãos de obter
emprego e educação.
O governo nigeriano é
cúmplice. Sob o presidente Bola Tinubu, as forças de segurança, muitas vezes de
tendência islamista, abandonam aldeias ou cidades e até armam militantes.
Nenhuma condenação foi emitida pelas autoridades pelo massacre da igreja de Owo
em 2022, ou pelos assassinatos de Natal no Planalto em 2023. O ex-Presidente
Muhammadu Buhari, muçulmano fulani, foi acusado de facilitar a acção dos
jihadistas no âmbito da sua campanha pela islamização da Nigéria.
O governo chama-lhe “conflitos
entre pastores e agricultores” para se esquivar às acusações de “islamofobia”,
mas as milícias fulani poupam as aldeias muçulmanas e atacam as igrejas. O Boko
Haram e o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) executam os cristãos por
recusarem a conversão aos islão. Tudo isto faz eco das conquistas do Califado
de Sokoto no século XIX.
A UE, que se manifesta contra
a perseguição dos muçulmanos uigures na China, ignora os cristãos nigerianos.
Uma resolução do Parlamento Europeu de 2024 condenou os assassinatos, mas não
houve sanções nem cortes na ajuda humanitária. Em 2025, os eurodeputados do ECR
exigiram acção. Bruxelas ofereceu vagas promessas “humanitárias”. O comércio
UE-Nigéria atingiu os 35 mil milhões de euros em 2024, dando prioridade aos
acordos petrolíferos e migratórios. Porquê? Bem, os cristãos não se enquadram
nos requisitos progressistas de vítimas. Então, que morram.
A violência entre negros na
Nigéria, com pastores muçulmanos como opressores e agricultores cristãos como
vítimas, quebra o guião de que “a islamofobia é o verdadeiro mal”. Como
observou o apresentador de televisão norte-americano Bill Maher:
“Isto é mais genocida do
que Gaza, mas sem judeus, portanto sem notícias”.
Progressistas, elites, ONG e
companhia simplesmente ignoram que 82% dos assassinatos religiosos globais
acontecem na Nigéria (Open Doors) porque tal facto não marca pontos ideológicos.
Como se viu repetidamente ao
longo da história, a apatia e a duplicidade de critérios encorajam os
assassinos. Bispos nigerianos alertam que o cristianismo pode desaparecer do
país em 50 anos. A UE deve responsabilizar o governo nigeriano, impor sanções,
defender uma força de paz da ONU e tratar os terroristas islâmicos como aquilo
que são: terroristas islâmicos.
Seria bom que Bruxelas
deixasse de mimetizar Pôncio Pilatos.
E, já agora, que o Vaticano,
por uma vez, levantasse a sua voz e mobilizasse os seus recursos para defender
as populações cristãs em risco de extinção.
Título, Imagem e Texto: Paulo
Hasse Paixão, ContraCultura,
3-11-2025

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