Maria Lucia Victor Barbosa
A frase que dá título a este
artigo, de autoria de Pedro Malan, é um misto de ironia e humor e visa traduzir
o que somos, especialmente quando atualmente é desnudada de modo mais amplo a
barafunda nacional na qual os governantes, associados a grandes magnatas, nos
transformaram numa Réucracia que luta para continuar impune.
Para reforçar a ideia cito
Raymundo Faoro que em sua obra-prima, “Os Donos do Poder”, escreveu de modo
lapidar: “A civilização brasileira, como personagem de Machado de Assis,
chama-se Veleidade, sombra coada entre sombras, ser e não ser, ir e não ir, a
indefinição das formas e da vontade criadora”.
Escrito em 1958, a afirmação
de Faoro continua atual sendo que as sombras que nos envolvem se estendem agora
mais tenebrosas, envolvendo os Três Poderes e obscurecendo o futuro cada vez
mais imprevisível.
Desse modo, quando a
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, exorta o povo a
acreditar na Justiça, dá a impressão de que a ilustre magistrada paira fora da
realidade na medida em que nos atuais julgamentos, em que pese o linguajar
jurídico das sentenças, o conteúdo é claramente político.
Por exemplo, nada acontece com
o senador Renan Calheiros, que acumulando processos há anos debochou do STF ao
não atender um oficial de Justiça. Por uma manobra política ele continuou no
cargo de presidente do Senado, portanto do Congresso. Relembre-se o episódio do
impeachment de Dilma Rousseff em que Calheiros, em articulação com o PT, rasgou
a Constituição juntamente com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, ao
salvaguardar os direitos políticos da presidente cassada. Como se vê, ele tem
boas relações políticas.
Ao contrário, o STF mandou
prender o senador Delcídio do Amaral. Afastou o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha que, finalmente cassado foi preso. Os ministros discutem sobre foro
privilegiado, mas parece que isso é algo relativo, pois tudo começa com o
afastamento do parlamentar feito por eles e não pelo Congresso.
Recentemente, o senador Aécio
Neve foi afastado de suas funções, sua prisão chegou a ser pedida, mas, em um
daqueles “ir e vir” que faz parte de nossa Veleidade foi restituído ao cargo.
Tudo isso não quer dizer que
os políticos que cometem crimes não devam ser julgados, mas, sim que sejam
feitos julgamentos a partir da lei igual para todos e não do Direito
Alternativo, aquele que julga conforme as emoções, inclinações pessoais e
interesses de juízes. Pode-se dizer também diante do que acontece, que o
Judiciário rompeu o equilíbrio entre os Poderes e governa o país.
E o que comentar sobre um dos
casos mais clamoroso, o dos Irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da J&F o
triunfante conglomerado de empresas? Sua trajetória fulminante foi fruto de
esforço, competência, trabalho árduo? Não. Quem lhes abriu as portas às
instâncias governamentais para que pudessem subornar, traficar influência,
receber bilhões, cometer quaisquer práticas criminosas e ajudar a desgraçar
ainda mais a combalida economia brasileira foi Lula da Silva.
Joesley, na sua famosa gravação
clandestina com o presidente Temer acabou de conturbar o quadro político e
ainda ganhou com compra de dólares. O que aconteceu com ele? Nada. O
procurador-geral, Rodrigo Janot, defendeu os termos de sua delação premiada, o
que foi referendado pelo ministro Edison Fachin e os irmãos receberam uma
espécie de “indulgência plenária”.
Inclusive, qualquer denúncia oferecida contra eles será transformada em
perdão judicial e nenhuma denúncia futura será apresentada. Desculpe, ministra
Cármen Lúcia, mas não dá para acreditar na Justiça. Infelizmente.
Numa outra vertente destaca-se
de modo diferente o Juiz Sérgio Moro. Íntegro, competente, correto ele entrou
para a História com a Operação Lava Jato a mais importante, consistente,
efetiva já havida no país. Entretanto, conseguirá o juiz de primeira instância
condenar o chefão Lula, presidente que logrou institucionalizar nossa histórica
corrupção?
O que se tem visto ultimamente
é o STF mandando soltar o que Moro prendeu, sendo que a decisão do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4 de reformar a decisão de Moro e absolver o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, apelidado de Moch por carregar uma
mochila recheada de propinas, é sinal do que pode acontecer deixando livre o
“homem mais honesto do mundo”, inclusive, para continuar em campanha. Conforme
o resultado do que virá seremos todos condenados ou não.
Não poderia finalizar esse
texto deixando de lembrar um pequeno trecho do artigo do melhor analista
político brasileiro, J. R. Guzzo (Veja, 05/06/2017):
“Os dois mandatos de Lula na Presidência da República foram um monumento
sem precedente ao vício. Sua performance mais espetacular, como ficou
demonstrado com dezenas de confissões públicas e provas materiais, foi a
capacidade sem limites para roubar dinheiro público”.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga,
3-7-2017
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