Rodrigo Constantino
O leitor lembra da Carta
Capital? É aquela revista do Mino Carta, que tinha Lula como uma espécie de
editor informal e que agora está quase falindo, sem as verbas estatais, a ponto
de a senadora petista Gleisi Hoffmann parar seu importante trabalho de convocar
militância para pedir uma vaquinha e salvar a empresa companheira.
Pois bem: a CC, como todo
veículo de esquerda, sempre adotou bandeiras “progressistas”, como as cotais
raciais e o feminismo. Qual não foi minha surpresa, então, ao ver uma foto da
equipe toda da revista reunida, e não ser capaz de encontrar um só negro, nem
mesmo um mais escurinho ali? Nenhuma, claro. A hipocrisia é a marca registrada
dessa gente, e nunca me surpreendo com ela.
Agora foi a vez da BBC
londrina passar pelo mesmo sufoco. É o que dá alimentar monstrinho por tempo
demais: ele um dia se volta contra você. O canal britânico é campeão de
reportagens sobre as “desigualdades entre os sexos”, uma baboseira que vem
seduzindo não só as feministas xiitas como até pessoas normalmente sensatas.
O gap de salário é martelado até entrar na cabeça dessas
pessoas e não deixar espaço para mais nada, muito menos para lógica ou fatos.
Há um hiato nos ganhos médios entre
homens e mulheres? Sim! Há algum tipo de machismo de uma terrível sociedade
patriarcal por trás disso? Não! Economistas sérios, como Thomas Sowell e Walter
Williams, já mostraram o absurdo dessa acusação. É não entender nada de
economia – ou, no caso, de biologia, ignorando que a mulher ainda é quem fica
grávida em nossa espécie (por pouco tempo, se depender das feministas).
Se a diferença entre salários
fosse mesmo por puro preconceito machista, então faria todo sentido do mundo o
ganancioso empresário só contratar mulheres. Ele economizaria uns 30% do custo
e arrasaria com a concorrência machista. Será que a esquerda está pronta para
afirmar agora que empresários capitalistas não são ambiciosos e nem desejam
maximizar seus lucros?
Está claro que o buraco é mais
embaixo, que passa por produtividade distinta, por privilégios estatais, pelo
tipo de emprego que normalmente homens e mulheres escolhem etc. Uma mulher e um
homem, no mesmo trabalho, com a mesma produtividade, ganham o mesmo salário.
Mas pedir para feministas ajustarem os dados da análise a esses fatores é pedir
demais. A conclusão antecede a “análise”, e a lógica desaparece do cenário.
Voltando à BBC, eis uma das
chamadas sensacionalistas que fez: “Você provavelmente não estará viva para ver igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho”. No caso brasileiro, o alarde da
manchete foi ainda maior: “Brasil levará 95 anos para alcançar igualdade de gênero, diz Fórum Econômico Mundial”.
Que horror!
Mas acontece que uma nova
lei obriga empresas
a expor diferença entre salários de homens e mulheres no Reino Unido, uma
“conquista” que contou, sem dúvida, com a ajuda da BBC em sua campanha
“igualitária”. E sabe o que aconteceu, caro leitor? A BBC ficou nua, exposta em
praça pública, como aquela que pratica gritantes diferenças salariais entre os
sexos!
Foi alvo imediato de ataques,
escárnio e reportagens, como essa do The Telegraph, que mostra como dois terços dos que
recebem maiores salários na empresa são homens. Dos 96 que ganham 150 mil
libras ou mais por ano, 62 são homens, 34 mulheres. Seria a BBC machista? Ou
estaria simplesmente adotando a meritocracia e pagando de acordo com a
produtividade?
A BBC logo se viu no papel que
gosta de colocar os outros: na defensiva. Primeiro, assumiu o hiato, e disse:
“não é onde gostaríamos de estar”. Depois, escreveu uma justificativa que nega a coisa de ser exatamente como ela aparenta, e
logo no começo elenca o ponto principal: a diferença dos salários não é fruto
da discriminação. O segundo ponto é que o trabalho “part-time” explica boa
parte do gap. Não diga? Então quer dizer que mulheres escolhem empregos
mais flexíveis, talvez para se dedicar mais aos filhos?
Eis o ódio verdadeiro das
feministas: a maternidade, essa dádiva de Deus ou da natureza. Sua revolta é
contra a biologia, a emoção normalmente inata das mulheres no ato de gerar
outra vida de seu ventre e seus instintos maternos para cuidar bem da prole
depois. Aqui em frente à minha casa tem uma patinha que circula há semanas com
seus seis filhotinhos a seguindo. Dou comida a eles, e quando me aproximo mais
de um, a patinha vem rapidamente em sua defesa contra o potencial inimigo. A
patinha entende o fenômeno, as feministas, não.
Elas gostariam que as mulheres
não tivessem esse instinto materno, que de preferência nem engravidassem,
deixando o ovo humano em gestação numa capsula como em Admirável Mundo
Novo. O conceito “mãe” seria diluído, até se tornar alvo de ojeriza. E os
filhos seriam criados pelo estado de bem-estar social, por babás do governo, em
creches públicas. Eis a perfeição feminista, e todos teriam salários iguais,
porque homens e mulheres não são complementares, e sim inimigos mortais.
Em Esquerda
Caviar falei bastante do feminismo, dessa suposta diferença de
salários como resultado do machismo, e usei um exemplo gritante de hipocrisia
que nunca foi explorado pela mídia, muito menos pelas feministas:
Obama
posa, como todo grande esquerdista caviar, como protetor das minorias,
incluindo a maioria feminina. Sua retórica é toda voltada para o combate ao
machismo, que supostamente reduz o salário das mulheres (falso, como já vimos).
Curiosamente, quando Obama era senador, as suas funcionárias recebiam um
salário médio de quase US$ 45 mil por ano, contra mais de US$ 57 mil da média
masculina.
Para
acrescentar insulto à injúria, o concorrente das primeiras eleições
presidenciais de Obama, John McCain, pagava não só 24% de salário médio
feminino a mais que Obama, como suas funcionárias recebiam mais que os homens
da equipe. McCain, o Republicano, fechara o gap e invertera a equação, tudo sem
a necessidade de leis estatais como as defendidas por Obama.
Pergunte
se a grande imprensa explorou esse abismo entre discurso e prática nas
eleições. Claro que não! E Obama colheria os frutos de seu sensacionalismo em
prol das “minorias”, recebendo uma quantidade desproporcional de votos dessas
categorias de eleitores. O populismo vende bem.
Sabem o motivo de tanta
hipocrisia passar despercebida? Eu explico. O feminismo não tem nada a ver com
a mulher, com seus direitos, ou com seu “empoderamento”. Tem tudo a ver com o
esquerdismo, isso sim. E é por isso que a BBC pode empurrar sua pauta feminista
de igualdade numa boa, que será poupada pela turma agora, que veio a público
sua hipocrisia. No olho dos outros pimenta é refresco, não é mesmo?
Mas tudo bem. Vou desistir do
liberalismo e abraçar o igualitarismo também. Quero salários iguais ao de Oprah
Winfrey! Não é justo eu ganhar menos só porque sou homem e branco…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, para o Instituto
Liberal, Gazeta do Povo, 19-7-2017
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