Cesar Maia
1. Pesquisas têm sido feitas e todas elas mostram um enorme apoio à
operação Lava-Jato e ao Juiz Sérgio Moro. Quase uma unanimidade. Exatamente e
da mesma forma, isso ocorreu na Itália em relação à operação Mãos Limpas e ao
Juiz Pietro.
2. No entanto, se avaliarmos o impacto das mesmas pesquisas nas
perguntas que se referem aos políticos e candidatos presidenciais hipotéticos,
esse quadro aponta a direções estranhas.
3. Observando as pesquisas realizadas em 2015, 2016 e 2017,
verificamos que o impacto do amplo noticiário das mídias, impressas,
radiofônicas e especialmente televisivas sobre a opinião pública - política/eleitoral
- as tendências são preocupantes.
4. Nos primeiros períodos, desde 2015 a 2016, já com o noticiário
da Lava-Jato ativo, mesclado com o processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff, o quadro eleitoral hipotético reproduzia a opinião política de 2014
com Lula liderando, seguido de Aécio e Marina - estes tecnicamente empatados e
próximos a Lula.
5. A partir de 2017, da concentração do noticiário na Lava-Jato,
incluindo as novas delações com os diretores da Odebrecht, além das anteriores
com diretores da Petrobras e doleiros, o quadro anterior foi sendo alterado.
Essa tendência foi acentuada com as delações dos dirigentes da JBS.
6. Lula - ainda liderando - perdeu fôlego. Aécio desapareceu. Os
nomes do PSDB, Alckmin e Doria, passaram a se fixar na metade de Lula, se
tanto. Ciro Gomes ficou na mesma, em 5% ou menos. Álvaro Dias idem, em 2% ou
3%.
7. E a grande surpresa foi a forte ascensão de Bolsonaro, que saiu
de seu patamar, entre 5% e 7%, e foi crescendo de forma sistemática, até
alcançar o patamar de Lula, no entorno dos 20%. Em geral, com Lula na frente,
mas também junto com Bolsonaro.
8. O noticiário sobre as denúncias a Lula era amplo antes da
condenação pelo Triplex. Assim mesmo
produziu um impacto aquém do que se imaginava. Acompanhamos agora os
desdobramentos da condenação de Lula na opinião pública.
9. Curiosamente, Marina que antes vinha em empate técnico com
Aécio, teve forte oscilação negativa e perdeu quase a metade das intenções de
voto que tinha.
10. Bolsonaro, com 20% ou mais, deve levar os analistas a
entenderem que correlação é essa do noticiário sobre Lava-Jato e delações e a
forte ascensão de Bolsonaro. É claro que a operação Lava-Jato não tem
responsabilidade sobre isso.
11. É provável que as lideranças políticas se concentrando no
ataque ou na defesa em relação ao noticiário, conforme o caso, sem qualquer
conexão com o caminho aberto pela Lava-Jato, explique este vácuo ocupado por
Bolsonaro neste momento. E, quem sabe, sobre a antipolítica em seguida.
12. Na operação Mãos Limpas aconteceu uma situação semelhante. Os
dois principais partidos (DC e PS) naufragaram. Quatro chefes de governo foram
condenados. E o caminho aberto levou a liderança de um novo ciclo político – Berlusconi
- por cerca de quinze anos, como chefe de governo, criando um novo partido,
Força Itália, repicando a marca do Milan, time de futebol que presidia.
13. E depois ascendendo o MV5, do humorista na TV Beppe Grillo,
passando a ter maioria -simples - na câmara de deputados e elegendo prefeitos
de grandes cidades, como Roma. E a política italiana continua patinando com a
derrota e o afastamento do primeiro-ministro após o plebiscito e a expectativa
de uma nova eleição.
14. Esse deve ser um alerta a nossos partidos políticos para, além
dos ataques e defesas em função da Lava-Jato, oferecerem alternativas
programáticas e políticas. De outra forma, termina-se construindo aqui, como na
Itália, um forte ciclo de antipolítica.
15. E também a mídia e aos intelectuais.
Título e Texto: Cesar Maia, 19-7-2017
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