Aparecido Raimundo de Souza
MANUELINO TEM UNS TIQUES estranhos. Mastigar gelo e torcer o fio do
telefone toda vez que vai usar o aparelho. O mais esquisito, entretanto, é o de
se contorcer todo para comer as unhas do pé esquerdo. Carlito, o irmão mais
novo, adora tirar meleca do nariz e limpar na roupa dos amigos. Diferente do
Joselito, o do meio. Esse adora cuspir à distância. Aliás, é campeão nessa modalidade. Na escola
ninguém consegue ganhar dele. É o oitavo ano que leva o troféu “Cuspidor Inveterado”,
uma vez que nenhum outro conseguiu alcançar a sua marca de três metros e dez.
Manuelino começou a namorar
recentemente. A garota dele, a Catulipa Xorobó não fica atrás. Os dois quando
se encontram, passam horas triturando e contorcendo o fio do telefone. Até
chegam a disputar, para ver quem consegue cochar ou dobrar mais a porcaria do
cordel. Quando o vencedor é ela, ganha um beijo na ponta do nariz. Todavia,
quando o campeão é ele, Joselito, o do meio, pula nos pés da garota e come
todas as unhas dos seus pés, sem claro, ter que precisar se distender para
levá-los até a boca.
Carlito, o irmão mais novo,
dia desses, se deu mal. Após tirar uma suculenta resolveu se livrar da gosma
limpando o dedo na camisa de um sujeito que brincava de ficar vesgo dos olhos.
Pego de surpresa, Carlito levou uma porrada no meio da fuça. Por minutos
rodopiou sobre o próprio corpo num turbilhão de pequenas estrelinhas
multicoloridas. Manuelino jura por tudo quanto é mais sagrado, que pretende se
livrar dessa coisa chata de ficar o tempo todo ruminando gelo. Os reflexos
dessa brincadeira lhe causaram um pigarro irritante na garganta, que dura o dia
inteiro e, à noite, quando está dormindo, dana a ranger os dentes. A Catulipa Xorobó, por sua vez, não conseguiu
parar de esguichar.
Cada jorrada sai uma enxurrada
de bactérias numa velocidade que atinge 160 km por hora. Aliás, essa é a real
aceleração de um nariz constipado quando resolve expelir tudo que o está
aprisionando. Voltando ao casal, ambos pensam em pôr um fim nessa história do
gelo e da linha do telefone. Segundo ela, é mais cômodo roer o lápis ou mamar a
tampa da caneta. Na ausência desses dois, quebra um galhão chupar canudinhos de
plásticos.
Joselito, lembrando, o do
meio, ao oposto dos irmãos Manuelino e Carlito se diverte com a nova loucura que
inventou, aliás, já está em prática faz um bom tempo. Mágicas. Tem dado certo.
Contudo, na última tentativa realizada, conseguiu sumir com a carteira de
dinheiro de seu tio Ambrosiano. Em razão disso, todas as contas da criatura
venceram inclusive o aluguel. O senhorio do cubículo onde Ambrosiano reside,
cidadão conhecido como Velvel concedeu três dias. Três dias. Nem mais, nem
menos. Em resumo: ou Ambrosiano paga tudo o que deve, ou vai para o olho da
rua, com todas as quinquilharias. E bota quinquilharias nisso!
Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza,
jornalista. Do Rio de Janeiro RJ. 25-7-2017
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