João Lemos Esteves
Não deixa de ser curioso notar que a
extrema-esquerda que se indigna com as declarações de Pedro Passos Coelho e
André Ventura é a mesma que se pronuncia sempre contra os “estrangeiros”, que é
“antieuropeia” e que promete dar prioridade às empresas portuguesas e aos
trabalhadores portugueses contra os estrangeiros.
1. Calma, muita calma, meus caros elementos da trupe dos
“João-Galambas” que por aí pululam, que o mesmo é dizer todos aqueles cuja
função social é somente defender acerrimamente (devemos afirmar acefalamente?)
o PS, atacando com violência todos aqueles que ousam criticar o respetivo
“querido líder” (chame-se ele José Sócrates ou António Costa, até porque as
semelhanças entre os dois inúmeras – são dois géneros da mesma espécie
política). Solicita-se que não fiquem excessivamente indignados com o título:
afinal de contas, o próprio autor destas linhas é contrário a qualquer
generalização na imputação de frases ou declarações que revelam um preconceito
contra um cidadão ou classes de cidadãos, partindo do pressuposto de que o
único responsável pelas opiniões emitidas é o sujeito que as emite, não o grupo
social ou político ao qual pertence; bem como sempre se assumiu contrário à
banalização de conceitos que exprimem realidades de vivência social adversas,
as quais comprometem a coesão da própria sociedade.
2. Com efeito, a utilização indevida de conceitos como racismo ou
xenofobia conduz à desvalorização da gravidade dos comportamentos que pretendem
expressar: os verdadeiros casos de exclusão de pessoas ou grupos motivados por
fatores de origem social, racial ou étnica acabam obnubilados por aqueloutros
que são tratados como racistas ou xenófobos apenas por razões de conveniência
político-partidária. Na verdade, infelizmente, entre nós, os casos de discriminação,
ilícita e contrária à dignidade da pessoa humana, não têm merecido a devida
atenção por parte dos nossos concidadãos e dos poderes públicos justamente
porque se partidarizou o tema da luta contra as desigualdades.
3. De facto, em Portugal não se discute o caminho a seguir para
combater a discriminação (seja ela qual for), que medidas adotar para promover
a igualdade de oportunidades e uma sociedade mais inclusiva, prefere-se antes
discutir quem pode reivindicar a luta contra a discriminação social. Mais
concretamente, a “elite” política diverte-se a debater se a igualdade é um
reduto exclusivo da esquerda ou se, ao invés, a direita pode assumir do mesmo
modo a luta contra a desigualdade como um eixo central do seu programa de ação
política. Neste ponto (também neste ponto!), o Bloco de Esquerda ganhou: ao
institucionalizar o discurso sectário e (esse sim!) preconceituoso, segundo o
qual a esquerda é dotada de uma superioridade moral que lhe confere uma
legitimidade acrescida e singular para lidar com determinadas matérias,
designadamente a efetivação do princípio da igualdade, metade dos portugueses
(se não mais) foram excluídos de qualquer debate (sério!) sobre este tema tão
fulcral para o nosso futuro coletivo.
4. Com a emergência do Bloco de Esquerda, a retórica política
radicalizou-se, gerando as “convicções por natureza”: a esquerda é igualitária
e antidiscriminação por natureza; a direita é “desigualitária” e
discriminatória por natureza. Acresce ainda que o Bloco de Esquerda tem um
poder desproporcional na comunicação social àquele de que dispõe em termos de
apoio popular: apesar de os bloquistas raramente chegarem aos 10% nas urnas,
dispõem de uma representação a rondar os 75% nas redações da maioria dos
principais jornais portugueses. A retórica sectária do Bloco de Esquerda
converte-se, assim, no discurso mediático oficial: sempre que há uma notícia
sobre igualdade, discriminação ou exclusão social, lá aparece – em grande
destaque – uma figura do Bloco ou da ala mais radical do PS.
4.1. Pense-se, por exemplo, em Boaventura Sousa Santos, que se
tornou o único português preocupado com a desigualdade social, de acordo com os
jornais diários portugueses do politicamente correto (ou do regime, conforme se
quiser). E na simpatia de que este académico militante do BE goza nos media
portugueses, apesar de o próprio se confessar como um “antidemocrata” e
conseguir detectar qualidades políticas notáveis em Nicolás Maduro, esse
político tão democrata quanto a democrata União Soviética.
5. Pois bem, tal como já havia sucedido relativamente aos
homossexuais, o Bloco de Esquerda e o PCP aproveitam agora a polémica em torno
dos ciganos e dos imigrantes como pura manobra de diversão política. Ao
contrário do que apregoam, os bloquistas e os comunistas cometem um verdadeiro
atentado contra a dignidade da pessoa humana: utilizam grupos de pessoas como
simples meios para prosseguir os seus interesses político-partidários. Acusar o
PSD de racismo ou xenofobia serve apenas para PCP e BE manterem o seu tom de
protesto, omitindo a circunstância de que são o verdadeiro governo.
6. É, enfim, a forma de comunistas e bloquistas não abdicarem da
sua postura cúmplice com a política económica e financeira de António Costa,
fingindo ao mesmo tempo que são oposição – enquanto se fala nos direitos das
minorias não se fala da economia, da qualidade do emprego criado, dos salários
dos portugueses e das reivindicações frustradas da base de apoio popular de
comunistas e bloquistas. Defender os direitos dos ciganos e das minorias étnicas
e raciais passaria por promover um debate sério e alargado sobre a matéria,
algo que a extrema-esquerda não quer. Porquê? Porque não tem soluções – apenas
slogans publicitários fantasiosos. Ora, um debate implica a apresentação de
soluções divergentes para chegar à melhor solução possível – logo, o BE e o PCP
perderiam sempre. Não admira, por conseguinte, que prefiram a acusação
simplista, o monólogo ensaiado e repetido, o labelo acusatório inconsequente –
este é o seu terreno predileto, o único em que sabem atuar.
7. Para mostrar o quão ridículo é o PCP acusar o PSD de racismo por
considerar que não se pode banalizar a atribuição da nacionalidade portuguesa
ou a entrada permanente de estrangeiros em Portugal – por razões legítimas de
interesse público e da própria respeitabilidade do Estado português -, basta
pensar que seria o mesmo que o PSD acusar o PCP de ser um partido ladrão – isto
porque o PCP incita ideologicamente à destruição da propriedade privada, o que
corresponde à subtração de património privado pelo Estado de forma arbitrária e
contrária aos direitos naturais da pessoa humana. Portanto, o PCP, no fundo,
quer roubar os portugueses! Assim se vê a incoerência e o ridículo do PCP… e
restantes companheiros da extrema-esquerda.
8. Por outro lado, não deixa de ser curioso notar que a
extrema-esquerda que se indigna com as declarações de Pedro Passos Coelho e
André Ventura é a mesma que se pronuncia sempre contra os “estrangeiros”, que é
“antieuropeia” e que promete dar prioridade às empresas portuguesas e aos
trabalhadores portugueses contra os estrangeiros. E que na campanha autárquica
em Lisboa protesta contra o “turismo rasca”, ou seja, contra o turismo dos
“mais pobres”. Conclusão: a esquerda geringonçada (PS de Costa, PCP e BE) tem
tiques racistas e xenófobos. Uma vergonha democrática.
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