Gonçalo Dorotea Cevada
Que suposta superioridade moral é essa que
não nos permite admitir que o problema não está na suposta falta de integração
social, mas na propaganda feita por certas mesquitas localizadas na Europa?
Já se escreveram dezenas,
centenas de artigos de opinião sobre o terrorismo islâmico. Sobre os ataques
que assassinaram nesta e naquela cidade Europeia, gente como nós. Inocentes.
Muitos deles crianças. (Eu próprio já o fiz: o meu último artigo no Observador foi aliás sobre o 22 de Março em Londres).
Impõe-se a pergunta: será que
depois de tantas palavras ainda há alguma coisa a dizer sobre o terrorismo
islâmico? Será que já não foi escrito tudo e mais alguma coisa? Não. Falta
sempre, e há sempre alguma coisa a dizer. E este gesto é provavelmente a única,
e a melhor homenagem que nós, cidadãos, podemos fazer às vítimas de Barcelona.
Escrever mais um texto é
simultaneamente não cair na tentação da indiferença de mais um ataque
terrorista, e não cair na tentação da banalidade dos acontecimentos, nas
estatísticas das vítimas. É evitar o quotidiano do medo. E é por isto que sou
mais um a escrever sobre os ataques das Ramblas.
A 17 de Agosto, Barcelona
entrou para a lista negra das cidades Europeias vítimas do terror. Palcos do
pior que há nos homens.
E não tentemos racionalizar
estes acontecimentos. Não tentemos justificar actos criminosos com explicações
conjunturais de natureza social ou económica. Não há justificação para a
matança das Ramblas, como não houve justificação para a matança de London
Bridge ou para a matança no mercado de Natal de Berlim.
O atentado de Barcelona não
foi diferente dos anteriores em Manchester, Londres ou Nice. Tal como nesses,
no de Barcelona há um “nós” e há um “eles”. E a diferença não reside no ser, no
acreditar ou no pensar mas no fazer. Eles mataram inocentes. Nós fomos as suas
vítimas.
E isto tem que ficar claro: há
um “nós” inocentes e há um “eles” terroristas islâmicos. Há um “nós” vítimas e
há um “eles” culpados.
O 17 de Agosto em Barcelona
não revela uma potencial fraqueza das autoridades Espanholas, que como sabemos
têm neutralizados várias células terroristas e evitado vários ataques aqui e
ali, mas a imprevisibilidade característica deste tipo de ataques.
Já o escrevi e repito: devemos
fazer ou mudar alguma coisa? Não. Pelo menos se quisermos continuar a viver à
nossa maneira. Como escrevi na altura do 22 de Março em Londres, a vida
continua para aqueles que tiveram a sorte, sim, a sorte, de não estar naquela icónica
Rambla que nos leva ao Mediterrâneo.
Mas não mudar nada no nosso
quotidiano não significa que não possamos exigir mais aos nossos Governos. E
exigir mais significa identificar mesquitas de propaganda política que não são
mais do que buracos de lavagem cerebral de jovens e adultos. Exigir mais
significa encerrar mesquitas onde se ensina o manifesto do Estado Islâmico e
onde se planeiam ataques cobardes a inocentes como nós. Exigir mais significa
repensar as relações diplomáticas com países do Golfo como o Qatar, a Arábia
Saudita e o Kuwait. Países que não são mais do que fontes de financiamento de
mesquitas salafistas que não servem mais do que centros de propagação da Sharía
na Europa.
Dirão: este delirou. Respondo:
longe disso.
Que suposta superioridade
moral é essa que não nos permite admitir que o problema não está na suposta
falta de integração social, mas na propaganda feita por certas mesquitas
localizadas na Europa, e financiadas por Estados supostamente “amigos”? Quantos
mais vão ter que ser esmagados por carros para dizermos basta? Se queremos
manter as nossas Democracias temos que ser claros quanto a isto: não há espaço
para ninhos de culto terrorista na Europa.
Em 2015, a Tunísia, país
maioritariamente muçulmano, encerrou perto de 100 mesquitas salafistas que não
eram mais do que antros de fanáticos e potenciais assassinos. Porque é que não
fazemos o mesmo? Que suposta superioridade moral é essa que nos impede de
reconhecer que para mantermos as nossas liberdades há linhas que têm que ser cruzadas?
De quê é que estamos à espera?
Perdoem-me mas não há diálogo
possível ou integração possíveis. E não há diálogo possível ou integração
possíveis porque não podemos desculpar, racionalizar ou justificar os atentados
de Barcelona, Bruxelas, Paris e Estocolmo.
Não temos que pedir desculpa
por sermos Europeus, por nos embebedarmos a níveis de pré-coma alcoólico nas
Ramblas ou por irmos nus tomar banho às seis da manhã a Barceloneta. Somos
assim. É esta a nossa natureza. Acusem-nos de “infiéis”. Assumirei tal
adjectivo como um elogio sobre os Homens livres.
Basta de justificação, basta
de pedirmos desculpa, basta de acharmos que o problema é nosso e que está em
nós e no nosso modo de vida. Nós somos os inocentes e eles, os terroristas, os
culpados.
Como escreveu Rosa Díez, “El
mejor homenaje a las víctimas y la mejor herencia que podemos dejar a las
próximas generaciones es que no pidamos perdón por vivir en democracia”.
Título e Texto: Gonçalo Dorotea Cevada, Jurista, vive e trabalha em Londres, Observador, 20-8-2017
Título e Texto: Gonçalo Dorotea Cevada, Jurista, vive e trabalha em Londres, Observador, 20-8-2017
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