Cesar Maia
1. "Desbotado" é o adjetivo que o Le Figaro usa para
definir o estado de graça de Emmanuel Macron depois de cem dias no Palácio do
Eliseu. A avaliar pelas sondagens, a cor já está mesmo bastante desbotada. Um
estudo da Ifop mostra que apenas 36% dos franceses estão satisfeitos com o
presidente. Por esta altura, o seu antecessor François Hollande ostentava 46%
de taxa de aprovação.
2. Macron conseguiu algo que parecia impossível. No ano passado,
por esta altura, ainda era ministro da Economia do governo Manuel Valls, ao
mesmo tempo que Hollande ia se arrastando nos últimos meses de presidência,
carregando nos ombros uma taxa de aprovação que caíra para mínimos históricos.
Perante o descalabro dos socialistas franceses nas intenções de voto, tudo
apontava para que o futuro presidente viesse a ser o candidato da direita
tradicional. Mas em maio, nove meses depois de deixar a pasta da Economia,
Macron, posicionando-se no centro do espetro político, chegou ao Eliseu. E em
junho, ainda em lua de mel com os franceses, o seu La République en Marche! conseguiu a cereja para colocar em cima do
bolo: a maioria absoluta nas legislativas.
3. Depois de escolher para primeiro-ministro Édouard Philippe
(ex-membro d'Os Republicanos) e de nomear um governo com elementos dos vários
quadrantes políticos, paritário entre homens e mulheres e com quase 50% de
ministros vindos da sociedade civil, Macron começou a governar e a tomar
decisões, algumas impopulares, como o aumento da Contribuição Social
Generalizada para o financiamento da Seguro Social.
4. Com vontade de mostrar serviço, não perdeu tempo para fazer
passar no Parlamento duas das suas promessas emblemáticas - uma lei sobre a
moralização da vida pública, que impede a contratação de familiares, e outra
que autoriza o governo a fazer alterações no código de trabalho. A primeira
acabou por fazer ricochete, uma vez que era intenção do presidente oficializar
o estatuto de Brigitte Macron, a sua mulher, como primeira-dama francesa.
Perante as críticas e uma petição assinada por mais de 275 mil franceses,
Brigitte Macron acabou por ficar sem o estatuto de primeira-dama e sem
orçamento próprio.
5. "Emmanuel Macron saiu do estado de graça para reentrar na
atmosfera e assumir o custo político das suas decisões", sublinha, citado
pelo Le Figaro, Jérôme Fourquet, politólogo da Ifop. Segundo o estudo realizado
pela referida empresa de sondagens, a opinião dos franceses sobre a evolução na
França também é reveladora de um clima de fim de lua de mel. Apenas 23%
acreditam que a situação do país está a caminho de melhorar. É verdade que, por
esta altura do campeonato, em 2012, com Hollande, o número era ainda mais
baixo: 17%. Mas com Nicolas Sarkozy, em 2007, a percentagem de otimistas
ascendia a 45%.
Título e Texto: Cesar Maia, 18-8-2017
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