sexta-feira, 25 de agosto de 2017

[Para que servem as borboletas?] O homem do futuro... Invocando Nietzsche...

Valdemar Habitzreuter

Sabemos que Darwin, com sua teoria da origem e evolução das espécies, chegou à conclusão de que o homem atual evoluiu a partir de um ancestral, da família dos grandes primatas, mais especificamente do chimpanzé. Se tal evolução realmente ocorreu devemos admitir que a inteligência humana surgiu paulatinamente, pois o chimpanzé nada mais era que um animal com instintos como qualquer outro animal de grande porte.

Pouco sabemos da pré-história do homo sapiens, a não ser aquilo que os arqueólogos descobrem através dos fósseis encontrados com idade de milhares de anos e outros vestígios pelo globo terrestre antes da História com seus registros escritos. O que nos fascina, no entanto, é o surgimento de um ser-animal inteligente, e como administrava esta sua ferramenta chamada ‘inteligência’ que o tornou homo sapiens.

É claro, o instinto animal do homem nos primórdios da civilização ainda era forte, apesar de munido da inteligência adquirida. O animal-bruto não se orienta pelo discernimento, mas vale-se do instinto para preservar e persistir na vida; o animal-inteligente, além do instinto, também pondera como melhor se sair na luta pela sobrevivência. Portanto, a inteligência é um acessório a mais... Instinto e inteligência, ambas, caracterizam-se por uma ‘vontade de potência’.

Nos primórdios da civilização, os homens ainda se portavam como animais brutos guerreando entre si pela subsistência, na luta por alimentos e afins, obedecendo mais aos instintos do que à inteligência; o homem ainda estava em formação, ainda não sabia como utilizar, adequadamente, sua nova arma.

Mas, pouco a pouco, com o desenvolvimento da inteligência, os instintos animais no homem davam sinais de enfraquecimento, e este animal inteligente, então, começa a aculturar-se, isto é, começa a raciocinar causalmente, especula o que há por trás dos fenômenos da natureza, como prevenir-se dos perigos e ter um convívio tolerável com seus semelhantes. Dessa forma afasta o temor frente aos fenômenos da natureza, domina seu instinto selvagem de “guerra contra todos” e estabelece regras de convívio.

O que lhe dá essa prerrogativa é sua memória, uma característica da inteligência, que conserva na mente experiências passadas. Com isso ele teria condições de evitar certas experiências prejudiciais do passado que lhe causaram dores, dando-lhe condições de comprometer-se perante à comunidade em que se insere.

Neste sentido, estaria apto a aceitar certas regras para o convívio social lembrando-se delas toda vez que aparecesse alguma situação de conflito. Esta memória não foi nada fácil aos primeiros seres humanos recém-saídos da animalidade pura, e só com muito treinamento através de sofrimentos e dores a memória fixou-se como elemento importante para passar de animal-bruto para o animal racional.

Começa, então, o homem a relacionar-se com seus pares racionalmente; são feitos acordos e promessas entre si; tenta confiar um no outro, lembrando-se das regras da sociabilidade para não se guerrearem. Mas, essa confiança só se estabeleceria a duras penas para tornar o homem confiável. Se alguma promessa ou acordo fosse quebrado, a parte lesada tinha o direito de aplicar um castigo equivalente ao sofrimento causado.

O credor tornava-se senhor e superior em poder, tendo o direito de maltratar o infrator lembrando-o assim das regras do relacionamento social e forçando-o a abandonar o estado de animal-bruto em que ainda, em certa medida, se encontrava. Não se levava em conta o culpado em si, mas a reparação de um dano sofrido que seria uma compensação prazerosa ao causar sofrimento ao culpado. Transparece, assim, a hegemonia da ‘vontade de potência’ no homem.

A justiça nasce da vontade do poder, diria Nietzsche. Não foi através do altruísmo que a justiça teve sua origem, mas na ‘vontade de potência’ vislumbrando o super-homem do futuro que prescinde da justiça e de valores morais, destinado a ser forte e não choramingar como um fraco perante os percalços da vida, suplicando por auxílio aos deuses das religiões.

Assim, a justiça é para os fracos; os fortes, isto é, os que se situam acima do bem e do mal, não necessitam dela. É claro, a justiça baseia-se hoje no altruísmo: não fazer mal ao outro e proteger os fracos. Isto é, a humanidade ainda está no estágio embrionário de homens fracos enredados nas malhas da moralidade. O reino dos fortes ainda não chegou.

O homem despertou do instinto animal bruto para o homo sapiens; é o estágio em que se encontra o homem atual, regido por valores morais e controlado pela justiça; mas seu destino é ultrapassar o status quo de homo sapiens e evoluir para uma além-homem em que o fraco não mais terá lugar. Enquanto houver fracos, a justiça far-se-á presente, e o Estado fará o papel de distribuidor de justiça... 

Quimera ou um futuro distante? A inteligência artificial, articulada e desenvolvida pelo homem atual, já não estaria vislumbrando um ente que ultrapassaria a fragilidade humana em seu aspecto físico e, até certo modo, mental?... Ou: teria sido melhor não ter surgido a inteligência, in limine, e o instinto animal ainda reinando absoluto sem consciência de justiça e valores morais, inexistindo, assim, os complexos problemas a que a humanidade se envolveu através da inteligência? Intrincadas questões!...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 25-8-2017

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