Valdemar Habitzreuter
A sociedade carioca está
desesperada. Os tiroteios nas favelas envolvendo gangues de traficantes, forças
federais e policiais sinalizam um cenário de guerra e deixam marcas de medo e
terror. As favelas cariocas são excelentes redutos de marginais criminosos,
devido à topografia da cidade do Rio de Janeiro, mapeada de morros onde a
população mais carente – esquecida pelo Estado – acaba se estabelecendo,
construindo seus barracos desordenada e precariamente, ensejando ruelas
estreitas e becos que servem de esconderijos a traficantes e criminosos.
A maioria dos favelados é do
bem e labuta pela sobrevivência, descendo dos morros para o asfalto todos os
dias para trabalhar lá embaixo na cidade; as mais das vezes tem subempregos ou
algum bico com os quais garante a subsistência própria e de sua família; gente
boa, portanto, que quer trabalhar e levar uma vida digna e normal, e, se possível,
ter seu churrasco na laje e rodas de samba nos finais de semana.
O grande problema, no entanto,
é o alastramento e a desorganização das favelas, permitidos pelo governo e,
aliado a isso, a falta de uma assistência mais profícua a essas comunidades – melhor
escolaridade, educação, saúde e saneamento básico – que possibilitasse aos
favelados uma vida mais digna, proporcionando sua inserção na sociedade carioca
com bons empregos e não marginalizados com exíguos salários que lhes impõem uma
vida difícil, ao ponto de nutrirem simpatia aos bandidos traficantes que,
muitas vezes, distribuem benesses ao moradores.
O Estado sempre esteve
distante e omisso quanto à assistência e melhoria social dos favelados. Se
recentemente se preocupou em olhar para essa classe desfavorecida é porque em
seu seio surgiu um Estado paralelo confrontando o Estado de direito.
Traficantes têm um ambiente favorável nas favelas para estabelecerem aí seus
quarteis generais onde arregimentam facilmente seus “soldados” para traficar
drogas, com um soldo melhor do que se estivessem exercendo algum subemprego na
cidade.
A comunidade faveleira
sente-se refém desses marginais e grande parte é conivente com eles, uma vez
que recebem a assistência que o Estado lhe nega. Os que não aceitam as
diretrizes dos traficantes ou são expulsos ou mortos; o diálogo entre os
chefões do tráfico e a comunidade se faz através de fuzis...
Este status quo de guerra que
ora presenciamos nas favelas do Rio é uma demonstração de falência e fraqueza
do Estado de direito do Rio de Janeiro. O que ocasionou esse caos foram duas
vertentes de bandidagem, principalmente, nas últimas duas décadas: a
roubalheira e corrupção dos que usurparam do poder do Estado, de um lado; e o
imenso império marginal dos traficantes de drogas e armas que se estabeleceu
nas favelas cariocas, de outro.
Se quisermos estabelecer a
origem do desmonte e destruição do Estado do Rio é só voltar ao passado e
averiguar o governo Brizola: sua grande jogada eleitoreira foi a de que as
favelas eram imensos redutos de eleitores e não seria conveniente que a polícia
subisse os morros à procura de bandidos; estes passaram, então, a apoiar
Brizola e foram fieis cabos eleitorais junto às comunidades. Daí em diante,
esta tática eleitoreira foi adotada e levada adiante pelos candidatos a cargos eletivos.
Assim, o Estado paralelo estabeleceu-se e fortaleceu-se a tal ponto que, agora,
nem as forças conjuntas – federal e estadual – são capazes de debelá-lo, como
estamos vendo.
Mas, em rigor, a principal
causa dessa nefasta situação de guerra e violência no Rio é o grande
contingente de usuários de drogas na sociedade carioca dando poder de fogo aos
traficantes; é um enorme exército invisível que alimenta as gangues do tráfico
de drogas e armas; daí a demonstração de poder dos traficantes que se viu na
semana passada na favela da Rocinha, uma verdadeira guerra entre gangues rivais
sem que a forças legais constituídas – militar federal interveniente e policial
local – tenham êxito em combater esses criminosos. Essa situação subsistirá
enquanto houver demanda por drogas e o Estado permanecer desorientado, abobado
e hipnotizado, sem reação exemplar e inteligente no enfrentamento da
criminalidade...
A Rocinha, outrora fazenda
onde se plantava e se colhia bons frutos, é hoje símbolo da desigualdade social
do Rio e, ao mesmo tempo, proliferação de ervas daninhas – esta praga de
traficantes de drogas espalhando medo e terror pela violência sem limites...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 25-9-2017
Colunas anteriores:
Prezados, o Poder de fogo dos Marginais, principalmente do Tráfico, demonstra o quão grande é o consumo de Drogas no Rio. A Sociedade Carioca dá o dinheiro para a compra do Fuzil, e com o qual ela é assaltada nos Túneis e demais localidades.
ResponderExcluirHabitz muito bom Texto!
Abs,
Heitor Volkart