sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Como a esquerda usou a imprensa para tentar controlar o Facebook

Marlos Ápyus

E como a esquerda tentará novamente controlá-lo

A eleição de Donald Trump só foi confirmada no 9 de novembro de 2016. Dois dias depois, o perfil principal da Folha de S.Paulo já dava um primeiro destaque ao Facebook, no caso, a um esforço de Mark Zuckerberg em desmentir a narrativa pela qual a eleição do republicano seria culpa da rede social. Nada disso impediria o diário de, no dia seguinte, insistir no tema.

Claro, o bombardeio não partiu apenas do veículo paulistano, mas o esforço deste serve de exemplo do que a imprensa ocidental aprontava. Mais dois dias, e em clima de gestão de crise, o Facebook aparece refletindo sobre a própria influência no processo eleitoral americano. Outro sol nasce e vem a promessa de que notícias falsas seriam combatidas – Como, apenas uma semana depois, tinham tanta certeza do que havia sido fundamental para o resultado de uma eleição tão complexa? Não tinham, claro. Mas isso não importava.

Na manhã do dia 19, a Lupa, que estampa o logo da Folha no cabeçalho, manda a seguinte manchete: “Atenção, Facebook! Nós queremos ajudar“. Na noite, o jornal destaca que Zuckerberg estaria disposto a recorrer a fact-checkers como os oferecidos pela agência. Em 15 de dezembro de 2016, apenas 36 dias após a eleição de Trump, vem o sucesso da operação: “Facebook recorre a checadores para conter onda de notícias falsas”. Quem faria checagem? A própria Lupa contou no Twitter: “Em parceria com checadores como a @agencialupa, o Facebook alertará usuários sobre notícias falsas“.

Em resumo: a imprensa, que levou um baile das redes sociais e errou grosseiramente o resultado da eleição presidencial americana de 2016, após um intenso ataque ao Facebook, recebeu do CEO poderes para determinar o que seria informação falsa ou verdadeira dentro da maior rede social do mundo. No Brasil, isto ficaria a cargo de uma marca em que mais da metade dos jornalistas são confessadamente esquerdistas – ou ideologicamente opositores do presidente americano.

Como um flanelinha que exige um trocado para não arranhar o carro, o jornalismo criou a dificuldade para vender a facilidade.

Mas, para saúde da liberdade de expressão, a parceria não daria muito certo. Em verdade, findaria num tiro no pé dos envolvidos. Em abril de 2017, em decorrências das mudanças promovidas pela rede para conter a disseminação de notícias falsas, a própria imprensa começou a enfrentar quedas no alcance. Em julho, as baixas receitas publicitárias levaram o jornalismo a novamente se voltar contra o aliado do Vale do Silício. Em setembro, numa nova leva de bombardeios, atacou o modelo de negócios da rede social, e insistiu não só que a veiculação de publicidade russa teria sido primordial para a vitória de Trump, como emplacou seguidas pautas que punham em dúvida a credibilidade da marca.

Só em 22 de dezembro de 2017 a paciência de Zuckerberg com o semestre de ataques se esgotou. Foi quando noticiou-se que o serviço deixaria de “sinalizar com bandeira vermelha notícias falsas“. Azedava ali o acordo selado um ano antes. Em 12 de janeiro de 2018, veio o anúncio de que o conteúdo jornalístico praticamente sumiria da linha do tempo. Um mês depois, a Folha anunciou que deixaria de compartilhar as próprias matérias por lá.

Dias antes, contudo, uma manchete curiosa apareceu no Twitter do jornal. Nela, o bilionário George Soros, que é visto como uma das mentes por trás de tantas estratégias adotadas pela esquerda em todo o ocidente, aparece condenando o Google e o Facebook no Fórum Econômico de Davos. O texto foi traduzido do Washington Post:

George Soros, filantropo bilionário e grande doador de verbas para causas progressistaspreviu na quinta-feira (25) que regulamentação e impostos em breve destronarão o Facebook e o Googledescrevendo as grandes empresas do setor de tecnologia como poderosos monopólios que prejudicam pessoas, a inovação no mercado e a democracia.
Em um discurso feroz e de tema ambicioso, feito durante um jantar no Fórum Econômico Mundial de Davos, Soros aplaudiu a fiscalização reforçada da União Europeia aos gigantes da web. Também apelou por mais regulamentação do setor de tecnologia, para aproveitar as reações cada vez mais negativas aos gigantes do Vale do Silício.”

Ficou evidente, portanto, que a briga pelo controle da cria de Zuckerberg não mais se daria por agências de checagens de fatos, mas por lobby junto a governos de todo o mundo. É um campo que a esquerda domina melhor. E a oferta de mais poder a quem já está no poder nunca é vista por estes com maus olhos. Portanto, há o risco sério de o objetivo ser atingido dessa vez.
Se vão conseguir, só o tempo dirá. É certo, contudo, que jamais desistirão de tentar. 
Título e Texto: Marlos Ápyus, Senso Incomum, 9-2-2018

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