sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portugal: novo ciclo


O próximo será o Governo com menos perspectivas e optimismo das últimas décadas. Há muito que não se começava um ciclo político com tão pouca boa vontade. A primeira causa é a crise económica. Nos próximos três anos dominará a austeridade do plano de emergência, o que elimina veleidades e esperanças. Mas não é só isso.
Portugal é um país socialista (Salazar chamava-lhe corporativo) onde ser de direita é insulto e de esquerda honra. Em qualquer caso, um governo de intervencionistas ligeiramente liberais (que se intitulam sociais-democratas e centristas) seria sempre mal visto. Há também culpas pessoais. Passos Coelho não conseguiu convencer e empolgar. A sua vitória resulta mais de «voto útil» e mal menor do que de convicção.
Em resumo, passada a euforia da mudança, o desânimo recente voltará rapidamente. Isso significa que as únicas forças satisfeitas no novo ciclo político estão na extrema-esquerda: o PCP pela ligeira subida, o BE apesar da pesada derrota. As condições próximas serão favoráveis à sua abordagem idealista, acusatória e irresponsável. Os vencedores, PSD e CDS, ganharam a hipótese de ficar com as culpas das políticas mais im-populares das últimas décadas.
No meio disto tudo está o país, a precisar de forte dieta. A única dúvida do novo ciclo está em saber até que ponto as populações percebem isso. Se não aceitarem a austeridade, como a Grécia, o país afunda-se. Se entenderem a emergência e, mesmo gemendo, assumirem-na como a Irlanda, salvam-se.
João César das Neves, Jornal "Destak", 08-06-2011

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