domingo, 8 de abril de 2012

A próxima guerra

NAVIOS MAIS LEVES, PARA A MARINHA, TÊM UM PASSADO COMPLICADO E UM APOIO FUNDAMENTAL
MOBILE, Alabama — O mais novo navio da Marinha Americana é desenhado para combater barcos de ataque iranianos, limpar minas do Estreito de Hormuz, caçar piratas somalianos e fazer a vigilância dos vasos de guerra da China. Os que são construídos aqui parecem mesmo ameaçadores, como Darth Vaders no mar. “Vai assustar um bocado de gente”, disse o parlamentar Jo Bonner, Republicano do Alabama que representa Mobile e é um dos maiores promotores do navio no Congresso.


O Sr. Bonner fez saber que o navio necessitou de uns ajustes aqui ou ali — em sua alusão a um dos mais exigidos programas de estaleiros na história naval americana, uma lenda de uma década de duração de custos ascendentes, contratos cancelados e prazos ultrapassados.
Apenas um dos dois desses navios de 700 milhões de dólares ficou pronto para navegar até agora e está no mar. O outro tem um vazamento importante por uma rachadura no casco e permanece no estaleiro, fazendo testes de equipamento que está falhando no reconhecimento de minas subaquáticas a partir de feixes de laser sobre as ondas. Mais ultrajante é o fato de que um relatório do ano passado do Pentágono onde o principal testador de armas disse que o navio “não é esperado sobreviver a um ambiente hostil de combate”.
Mas por pior que seja, o Pentágono e a administração Obama decidiram produzir o Navio de Combate Litorâneo (Littoral Combat Ship) como sendo o futuro da guerra naval e exatamente o que necessita a Marinha para enfrentar as ameaças do século XXI.
Capaz de operar em mar alto e nas águas rasas costeiras, o rápido, manobrável e versátil navio é o produto central da indústria bélica e da estratégia do Presidente Obama projetar o poder americano no Pacífico e no Golfo Pérsico. O navio acrescenta relativamente pouca tecnologia avançada, parte do que o antigo Secretário de Defesa Donald H. Rumsfeld concebia como um esguio, militarmente proficiente complemento aos tradicionais porta-aviões e destróieres azul água da Marinha dos EUA. “Este navio é o navio certo para a ocasião certa”, disse numa recente entrevista o subsecretário da Marinha, Robert O. Work. “Temos que provar isso a todos os pessimistas contumazes”.
Para o Pentágono que terá que fazer cortes orçamentários drásticos — cerca de 450 bilhões de dólares ao longo da próxima década, e possivelmente mais de um trilhão caso o Congresso inclua reduções extras — o barco de águas rasas é uma prioridade. Relativamente barato, pelo menos comparado com um destróier de 2 bilhões de dólares, e, pois considerado crítico para o objetivo da Marinha de montar uma frota de 300 desse navios, pressupondo que todos os 55 navios de combate litorâneo sejam construídos como planejado. Presentemente, a Marinha americana tem 285 navios, constituindo – como acentuou Mitt Romney, o provável candidato Republicano à Casa branca – a menor Marinha desde 1917. (“Uma observação acurada que é totalmente irrelevante”, disse o Sr. Work. Em 1917, “não tínhamos sequer aviões na frota. Não tínhamos sistemas de combate não tripulados. Não tínhamos mísseis de cruzeiro Tomahawk”)
O Pentágono não tem feito mais do que apenas cortes modestíssimos nos investimentos em novos navios ao atrasar a aquisição de dois deles nos anos futuros, e espera que o apoio contínuo do Congresso ao seja bom, apesar de anos de objeções de alguns no Capitólio. “A estória desse navio é que me causa vergonha e embaraço de uma antiga pessoa da Marinha”, disse o Senador John McCain, um Republicano do Arizona e outrora piloto da Marinha, no fim de 2010, citando bilhões de dólares em sobrecustos.
Mas a Marinha agora insiste que reduziu os custos e que cada navio custará menos de 400 milhões, e que após uma “confusão de pronunciamentos” — palavras do Sr. Work — os problemas estão sendo resolvidos. (O primeiro navio, apesar estar rachado e fazendo água, é esperado ser empregado nas águas de Singapura, ano que vem, na área sul do Mar da China, o qual por ora acha-se em testes no mar e que seu emprego poderá ocorrer em 2014)
Analistas dizem que um fator importante que influencia a Marinha e o Congresso é que tais navios são feitos para substituírem outros navios — fragatas e varredores de minas marítimas — que estão envelhecidos e obsoletos, e que há poucos outros na linha de montagem. O novo navio de combate é visto como ainda longe de ser produzido para ser extinto agora. “É uma daquelas coisas que são como uma bola de neve que quando começa a descer a montanha, ninguém segura mais”, disse o parlamentar Duncan Hunter, um Republicano da Califórnia que tem sido um dos maiores críticos do novo navio, mas que diz que ele já atingiu as raias do inevitável. “A marinha gosta dele. Não há como possamos impedir a sua construção e emprego em larga escala”.
Aqui em Mobile, a General Dynamics e uma divisão americana de um estaleiro australiano, o Austal USA, estão sob contrato ára a construção de 10 desses navios até 2019. O estaleiro está ‘bombando’ e espera para logo empregar 4.500 operários, tornando-o no maior empregador no estado e a cidade menina dos olhos e natal do Sr. Bonner (Outra versão do navio, que tem uma aparência diferente, está sendo construída pela Lockheed Martin em Wisconsin).  
Um ‘tour’ pelo estaleiro de Mobile mostra um navio quase completo, o ‘Coronado’, com sua ponte formada de consoles de telas de vídeo que permitem aos capitão dirigir o barco com uma espécie de joystick a partir até de um laptop. Tais navios de 400 pés podem singrar à velocidades de 40 nós, ou aproximadamente 50 milhas por hora (pouco menos de 80 km/h) (os construídos em Mobile são trimarãs com cascos de alumínio — criando menos atrito na água e, pois, mais rapidez de deslocamento), e são capazes de singrarem em apenas 20 pés de água (cerca de 7 metros de profundidade). Têm uma tripulação relativamente pequena de 75 marinheiros, heliportos, e uma variedade de equipamentos modulares que podem ser alternados para diferentes missões, como busca de minas submersas, submarinos e seus torpedos, e outras operações especiais.
Um desses navios ainda a ser construído será batizado com o nome de Gabrielle Giffords, após a ex-congressista do Arizona ter sido assassinada a tiros em Tucson, no ano passado.
O ‘Independence’, um dos dois navios que já estão prontos, está agora passando por testes de caça a minas com resultados inconsistentes, no Golfo do México. Caso eventualmente se torne eficiente, revolucionará uma atividade vagarosa e perigosa que exige navios para arrastar cabos que seguram minas a partir do seu deslocar aleatório e explodi-las na superfície, depois que mergulhadores grudarem explosivos nela e os detonarem por controle remoto.

UM NAVIO PARA UMA GUERRA MODERNA
A Marinha Americana está construindo o Navio de Combate Litorâneo (the Littoral Combat Ship), um barco ligeiro, manobrável, concebido para operações em águas rasas de áreas costeiras. Um modelo construído pela General Dynamics e a Austal americana é o que se segue: 

A Marinha diz que, de um modo ideal, o navio de combate litorâneo chegará muito mais perto de um campo minado do que qualquer outro chegou até hoje sem explodir. Ao invés disso, um helicóptero decolará de seu heliporto e usará feixes de laser para localizar as mina, quando então baixará um pequeno ‘drone’ (zangão: pequeno artefato voador ou submersível não tripulado e capaz de realizar diversas operações de ataque e que tem sido a tendência de se generalizar como equipamento bélico estadunidense) preso a um cabo para dentro d’água e disparará um explosivo sobre a mina. Tal navio de combate também terá a bordo um ‘drone’ submersível maior que poderá ser lançado ao mar para caçar minas, grudar explosivos nelas, e fazê-las explodir a seguir de uma distância segura.
Nos testes, a varredura a laser do helicóptero tem registrado muitos falsos positivos — está encontrando minas, mas também lendo brilhos de luz nas águas como se fossem minas. “Estamos desenvolvendo novos algoritmos e programas (softwares) para melhorar o sistema”, disse Christopher G. Johnson, um porta-voz do Sistema de Comando Naval Americano.
Quanto à capacidade do navio em sobreviver em ambiente de combate, mísseis poderão mais facilmente penetrar em seu casco e causarem mais dano do que a um navio maior e mais poderoso. Tem também poucas e muito menos sofisticadas defesas. Ainda assim, a Matinha argumenta que o navio estará pesadamente armado com armas e mísseis e operará em águas hostis, como as do Golfo Pérsico, apenas cercado de navios maiores. “Se forem usadas táticas, técnicas e procedimentos corretos, acreditamos que o navio tem boas chances de sobreviver em combate”, diz o Sr. Work, argumentando o que o Sr. Hunter, o congressista, considera plausível mas falso.
Caso sete barcos de ataque iranianos se aproximem do novo navio, disse o Sr. Hunter, “estará fora de combate e não poderá efetuar nenhum ataque considerável”. Em suma, disse ele, “não estará lá a representar qualquer ameaça ao inimigo”.
Todavia, talvez sua aparência possa assustar potenciais inimigos. Como disse Joseph J. Rella, presidente da Austal americana, numa recente entrevista: “Se eu fosse um pirata num pequeno barco, morreria de susto ao ver um desses navios vindo em minha direção”.
Ao que parece, ninguém espera que tais navios deem sozinho conta do recado em operações navais em águas rasas, mas parece fora de questão de que o seu uso será de grande utilidade em caso de conflitos com a pirataria somaliana e em casos de fechamento do Estreito de Hormuz, como anunciado pelos clérigos fascistas iranianos e em operações similares em outros locais críticos do planeta. Locais como o Arquipélago das Falklands, por exemplo...
O Brasil, também, com necessidades imperiosas de defender suas reservas petrolíferas do pré-sal em suas águas territoriais pode ser, sem dúvida, um candidato potencial a adquirir tais navios. 
Texto: Elisabeth Bumiller, New York Times, 05-04-2012. Tradução: Francisco Vianna

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