Rodrigo Constantino
Não existe oposição liberal
organizada no Brasil. Há uma clara hegemonia da esquerda entre os vários
partidos. Mas o DEM seria o mais próximo desta bandeira que prega menos
intervenção estatal e mais liberdade econômica. E, dentro do DEM, o senador
Demóstenes Torres tem sido uma das vozes mais firmes em defesa destes valores,
assim como da ética.
Por isso é fundamental usar o
escândalo envolvendo o senador e sua mais que suspeita amizade com um
contraventor para marcar as diferenças entre a esquerda e os liberais, estes
ainda sem representação política.
Quando os homens estão unidos
por princípios claros, não há espaço para arbitrariedade. Os princípios servem
como critério objetivo para julgar os atos. Em contrapartida, quando se trata
de um grupo tribal, o seu membro será sempre tratado com complacência, enquanto
os "de fora" serão duramente condenados. O uso de dois pesos e duas
medidas é característica comum a estes grupos, e vale tudo para salvar a pele
do companheiro, por mais criminoso que tenha sido seu ato.
Aristóteles dizia que uma
sociedade adequada é governada por leis, não por homens. Com isso ele queria
dizer que devemos adotar um império de leis igualmente válidas para todos, em
oposição ao poder arbitrário que aos amigos tudo dá, enquanto aos inimigos
aplica o rigor das leis. Da mesma forma, uma associação adequada é unida por
idéias, não por homens, e seus membros são leais às idéias, não ao grupo. A
máfia, por exemplo, é o oposto de tal associação, pois seus membros devem
lealdade aos demais membros, e não a valores objetivos.
Com esta distinção em mente,
fica claro que boa parte da esquerda sempre adotou postura tribal ou mesmo
mafiosa. Seus membros são tratados como “especiais”, detentores de um
salvo-conduto para “malfeitos”. Os fins “nobres” sempre justificam os meios
obscuros, e os crimes perpetrados por seus líderes nunca são crimes, ao
contrário daqueles realizados pela oposição. São sempre dois pesos diferentes,
para se obter duas medidas diametralmente opostas.
Foi assim que um assassino
frio e cruel como Che Guevara chegou a se tornar herói, ou a mais longa e
opressora ditadura do continente até hoje é defendida. Abro um parêntese para
lembrar que tanto Mussolini como Hitler, apesar de tratados como os monstros
que eram, porque são vistos como de “direita”, eram na verdade coletivistas
antiliberais que nasceram na esquerda socialista e sempre condenaram o
capitalismo. Fecho o parêntese.
É com base na mesma lealdade
mafiosa que alguns petistas sempre partem para a acusação de uma fantasiosa
“mídia golpista” quando escândalos envolvendo seus aliados vêm à tona.
Curiosamente, eles logo esquecem esta imprensa “golpista” quando o escândalo
envolve a oposição. Dois pesos e duas medidas, a marca registrada da nossa
esquerda. Para eles, o camarada não é um “homem comum”, mas sim alguém acima
das leis. Não se importam com “o que” acontece, mas sim com “quem” acontece.
Os liberais não aceitam esta
postura. No final de 2011, escrevi para a revista “Época” algumas palavras em
homenagem justamente a Demóstenes Torres. Não conheço o senador pessoalmente,
mas acompanhei suas lutas no Senado. Esteve quase sempre do lado que julgo
correto. Condenou as cotas racistas, denunciou a doutrinação ideológica pelos
órgãos estatais, pregou maior rigor penal para combater a criminalidade, atacou
sempre o desvio de recursos públicos e defendeu a urgência de um partido que
tenha a economia de mercado e sólidos valores morais como plataforma.
Não poderia concordar mais! O
que falta em nossa política é um partido que rejeite esta visão predominante de
que o governo é uma espécie de deus clarividente capaz de gerar progresso por
decreto. Países com mais intervencionismo estatal invariavelmente acabam com
menos riqueza e liberdade. E nada mais absurdo do que combater o racismo com
segregação racial.
Logo, Demóstenes mereceu cada
elogio que fiz. Afinal, eu focava no “que” foi dito, e não em “quem” o disse.
Da mesma forma, agora que gravações comprometedoras vieram a público, enorme
decepção à parte, continuo focando no “que” mostram os fatos, não sobre “quem”
eles recaem. Defendo uma investigação minuciosa e, se for o caso, a severa
punição do senador. Sob meu ponto de vista, ele é apenas um homem comum, um
indivíduo como qualquer outro, que deve respeitar as mesmas leis.
Infelizmente, isso é algo que
a esquerda em geral e os petistas em particular parecem nunca compreender: a
importância de se ter apenas um peso, e uma medida.
Título e Texto: Rodrigo Constantino
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