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Foto: Enric Vives-Rubio
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João Lemos Esteves
1. Os jornais de ontem deram, merecidamente, amplo destaque ao
debate entre Passos Coelho e António Costa. Merecidamente, porque se tratou de
um facto histórico: pela primeira vez, o debate foi conduzido por jornalistas
das três estações de televisão generalistas, transmitido em simultâneo nas três
estações (será, portanto, um êxito de audiências) e foi o único debate
televisivo entre os dois candidatos a Primeiro-Ministro. A maioria esmagadora
dos comentadores afirmava, então, que Pedro Passos Coelho partia em vantagem
porque é o Primeiro-Ministro em exercício de funções: já António Costa partia
em desvantagem pelo simples facto de que sobre ele recaía o ónus de mostrar que
merece a confiança dos portugueses.
2. Pura mentira. Nada mais errado. O debate seria sempre muito mais
fácil para António Costa do que para Pedro Passos Coelho. Porquê? Por uma razão
muito simples: ser oposição é muito fácil – ser Governo é muito difícil. Ser
oposição e ganhar eleições é fácil – são os Governos que perdem eleições e não
as oposições que as ganham. O líder da oposição pode adoptar um discurso de
frases cativantes, pomposas, dizer tudo e o seu contrário, criticar o que o
Governo fez, branquear as suas responsabilidades na criação das dificuldades da
Nação, como um todo, e de cada português individualmente considerado. Ora, um
Primeiro-Ministro que sucedeu ao pior Primeiro-Ministro da História de Portugal
– só comparável a Vasco Gonçalves – e teve de aplicar um programa de grande
austeridade teria necessariamente de partir para o debate em desvantagem. Nós
percebemos por que razão se deixou passar a ideia de que António Costa partia
em desvantagem: descer as expectativas em relação a António Costa para o
cenário de o debate lhe correr mal.
3. Dito isto, nós admitimos que ficamos perplexos quando ouvimos e
lemos comentadores a declararem que António Costa ganhou claramente o debate.
Claramente o debate? Das duas, uma: ou já tinham um guião pré-preparado para
debitar, sucedesse o que sucedesse no debate; ou, como estamos fora de
Portugal, porventura, a diferença de longitude impediu que o debate chegasse
aqui, como chegou às casas dos portugueses. Talvez o debate chegou aqui à
Alemanha adulterado pela distância geográfico…É a única explicação.
4. Mais perplexos ficamos ainda quando começamos a consultar os
tópicos de discussão, nos programas televisivos, e constatamos que o grande
tema é discutir…as falhas de Pedro Passos Coelho! Não se discute o debate:
discute-se somente as falhas de Pedro Passos Coelho! E então as falhas de
António Costa? E as gafes de António Costa? E a relação entre António Costa e
José Sócrates? A falta de coragem de António Costa em se demarcar do legado de
José Sócrates? E o facto de António Costa não saber um número de cor daqueles
que apresenta no cenário macroeconómico? E o facto de António Costa não
explicar nada sobre o que propõe para o futuro de Portugal, remetendo todas as
respostas para o cenário macroeconómico cujo autor foi Mário Centeno – nem foi António
Costa? Parece que António Costa vai ter de se reunir muitas vezes com Mário
Centeno nos próximos dias para aprender a lição: é que Costa ainda não estudou
o que Mário Centeno (o candidato oficioso do PS a Primeiro-Ministro) lhe
preparou.
5. E quais as gafes que António Costa cometeu? Uma flagrante, logo
no início do debate: Costa apresentou um gráfico em que alegava que todos os
Governos, excepto o de Passos Coelho, tinham alcançado um crescimento económico
positivo. E destacou um: o Governo de José Sócrates que deixara um crescimento
económico de 1,9%. Como? A primeira declaração de António Costa foi para
defender o legado de José Sócrates. Ridículo. Ainda para mais, defender um
Governo que deixou um crescimento económico de 1,9% - mas que levou Portugal à
bancarrota. É normal que ninguém, de todas as ilustres figuras que já
analisaram o debate, se tenha referido a esta gafe flagrante e ridícula?
Elogiar o legado de José Sócrates porque Portugal cresceu 1, 9%, mas com uma
divida pública asfixiante, a caminho da bancarrota, é normal? É preciso
seriedade na política. E há muita gente que não está a ser séria.
6. Mais: começar o debate elogiando o legado de José Sócrates
mostra uma faceta de António Costa gravíssima – mostra que António Costa, como
José António Saraiva já escreveu diversas vezes aqui no SOL, prefere agradar ao
partido do que conquistar os portugueses. Entre o país e o partido, António
Costa preferiu o partido. Entre os portugueses e os socialistas, António Costa
prefere os socialistas. É incrível como nenhum comentador dedicou uma palavra a
mais uma revelação desta faceta de António Costa. Quem prefere os seus
camaradas – e o seu camarada Sócrates, que lançou o sofrimento em muitas
famílias portuguesas e levou Portugal a uma situação de vexame, praticamente
sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos como afirmou Teixeira dos
Santos, na altura criticado por António Costa, comentador da “Quadratura do
Círculo” - aos portugueses, não merece ser Primeiro-Ministro. Não pode ser
Primeiro-Ministro.
7. Segundo erro colossal de António Costa: a impreparação de
António Costa quanto à matéria da segurança social – e quanto ao “seu” (leia-se
de Mário Centeno) programa. Aliás, a irritação e o desconforto revelado na
expressão de Costa mostram à exaustão o desconhecimento gritante que tem sobre
esta matéria fundamental para o nosso futuro colectivo. Por exemplo: António
Costa, confrontado com o argumento de Passos Coelho de que a sua proposta é um
plafonamento vertical, refere que a redução da TSU é uma medida conjuntural que
não pode ser confundida com uma reforma estrutural. Mas, no seu programa, esta
medida é qualificada e inserida na parte dedicada à reforma da Segurança
Social! O que leva a duas conclusões:
i) António Costa quer seguir a
velha fórmula socialista de aumentar impostos para manter um Estado clientelar,
enorme, sempre à “caça” dos rendimentos honestos dos trabalhadores que fazem
muito para merecer cada cêntimo do seu salário;
ii) António Costa tem escondid
na manga, para apresentar uma vez eleito, uma reforma da segurança social que
vai desagradar muito aos portugueses. António Costa está a esconder muita
coisa…
Mas a frase foi dita por
António Costa. Meu caro leitor, ouviu alguém, nos vários debates ao debate, a
referi-la? Não: só se aludiu aos erros de Passos Coelho e à…sua falta de
empatia! Veja-se ao que chegámos…
8. Terceiro erro colossal de António Costa: o Novo Banco.
Confrontado com esta questão, Costa refere que o Governo prejudicou os
portugueses e que os contribuintes vão pagar a resolução do Banco. Mas,
habilidosamente, Costa desviou de imediato o assunto. Porquê? Porque não sabe o
que dizer – e muito menos saberia o que fazer. Até porque António Costa foi um
defensor fanático da nacionalização do BPN que é uma das causas do
desequilíbrio das finanças públicas portuguesas. Um verdadeiro sorvedouro do
dinheiro dos trabalhadores portugueses e das empresas portuguesas. Mesmo Clara
de Sousa, em pleno debate, chamou a atenção para o facto de Costa não responder
– este ainda tentou balbuciar uma resposta, mas calou-se de imediato.
9. Mas nem com o reparo de Clara de Sousa, os nossos doutos
comentadores e brilhantes intelectuais da nossa praça acharam este momento
infeliz de António Costa um facto relevante do debate. Ui, se fosse com Passos
Coelho, imaginamos o que teria sido… Estes preferem alegremente proclamar que
António Costa falou do futuro. De propostas concretas. Quais? Não dizem.
10. E qual foi o melhor momento de António Costa para estes
ilustres comentadores? Pois bem, caríssimo leitor, foi…prepare-se…a farpa ao
programa de incentivo de jovens emigrantes! Ui, que grande medida de futuro! Já
podemos estar descansados: com esta medida, o nosso futuro é brilhante! Nota:
futuro, em português, significa o que está para vir, o que virá. Não o que já
aconteceu, como foi o caso do dito programa. Para isso, em português, temos uma
palavra: passado ou, se preferirmos, um palavra mais erudita – pretérito.
11. Tudo isto dito e ponderado, façamos uma análise fria e
racional. Quem ganhou o debate? Passos Coelho esteve muito bem na primeira
parte, com António Costa francamente mal. António Costa equilibrou após o
intervalo, com Passos Coelho ainda a liderar. No final, António Costa conseguiu
um ligeiríssimo ascendente sobre Passos Coelho.
12. Ou seja: Passos Coelho venceu dois terços do debate – António
Costa apenas um. Vitória de Pedro Passos Coelho, portanto. Os portugueses, como
pessoas invulgarmente inteligentes e sensatas que são, saberão tirar as suas
próprias conclusões, independentemente do politicamente correcto.
1. Terminou o único debate entre os dois candidatos ao cargo de Primeiro-Ministro nas eleições do próximo dia 4. Impressionou a importância concedida por ambos ao tema da previdência social, em particular às pensões atuais e futuras. Mas isso é natural num país de população envelhecida, como a portuguesa.
ResponderExcluir2. António Costa (PS) criticou muito a pressão exercida pela UE (troika) sobre Portugal com vistas à adoção de um programa de austeridade.
3. Já Passos Coelho (CDS/PSD) ressaltou os sacrifícios incorridos por Portugal e a melhoria nos dois últimos anos do quadriênio do cenário econômico-social.
4. A impressão é que Antonio Costa bem explorou as contradições incorridas por Passos Coelho. Já este acentuou de modo feliz as propostas populistas e irrealistas do candidato socialista.
Cesar Maia