Cesar Maia
1. Em 2008, a resposta que o governo Lula deu a crise financeira
internacional foi relaxar a política fiscal e entrar em um descontrolado
keynesianismo de consumo, cujas consequências conhecemos. Esse relaxamento
fiscal levou o déficit público às alturas e a dívida pública ascendente
desqualificou o Brasil pelas agências reguladoras. A inflação atingiu 2
dígitos. No ano eleitoral de 2014 valeu tudo.
2. Na tentativa de recuperar confiança dos investidores, foram
dados sinais de ortodoxia com a designação do ministro Levy e medidas e
promessas de medidas de austeridade. Os resultados econômicos de 2015 - PIB,
déficit fiscal, endividamento, perda dos graus de investimento, etc., lançaram
as expectativas de reversão para um prazo muito maior.
3. A crise política, sublinhada pelo conflito entre os poderes
políticos, foi lançada ao espaço com a operação Lava Jato. Quando as baterias
pareciam apontar para a Câmara de Deputados, e a dinâmica do impeachment se
tornou letárgica, dando à presidente Dilma a sensação de calma, a prisão do
líder do governo no Senado, íntimo do poder político, gerou uma expectativa de
instabilidade. Duas semanas depois parecia ter passado.
4. As delações premiadas - tipo serial killer político - a partir das
delcíadas, e as que virão e os detalhes das que já foram feitas e não vazadas,
terminaram com a ilusão de calmaria. A percepção de metralhadora giratória
investigativa foi superada quando ela parou de girar e apontou para o
ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma. O câmbio e a bolsa reagiram
positivamente, mostrando que a queda da presidente é o único elemento de
estabilização nesse momento.
5. Lula é levado para depor e a sensação de instabilidade política
e social volta simultaneamente. Lula, imaginando que ainda tem força para
mobilizar as massas, dá sua palavra de ordem: Vamos resolver isso nas ruas. Ou
seja, na marra. Não podia haver um sinal mais claro de insegurança jurídica e
desmonte político e social.
6. Quem Lula vai mobilizar nas ruas? As massas? Provavelmente não.
Mas parte delas, como a CUT, os movimentos sociais mais ideologizados, MST,
políticos de retórica de esquerda, etc. O ex-ministro Gilberto Carvalho não
perdeu tempo e afirmou que o que aconteceu com Lula dá unidade e mobiliza a
base -digamos- orgânica do Lulismo.
7. Mas as principais medidas de ajuste fiscal e estabilidade
monetária que estão em discussão, colocadas pela presidente Dilma e pelo
governo, pelo empresariado e setores políticos moderados da esquerda são
exatamente aquelas que prejudicam a unidade e a mobilização daqueles segmentos.
Reforma da Previdência, abertura do pré-sal ao setor privado, aumento de
impostos a partir da CPMF, e por aí vai.
8. Mas a unidade e mobilização nas ruas de que fala Lula e a
esquerda só ocorrerá se essas medidas de ortodoxia fiscal e de moderação do
estatismo forem lançadas na lata de lixo. O retardamento do processo de
impeachment foi um tiro que saiu pela culatra, pois o tempo colocou outra vez
na ordem do dia e com mais intensidade, o impeachment. E com Lula e Dilma como
foco. Isso tudo num ano de eleições nacionais municipais com maior pressão
sobre as torneiras.
9. Sendo assim, a tendência é que a crise vai se agravar, a
política, a econômica e a social. E que não tangencie as instituições, como
tenta Lula após seu depoimento.
Título e Texto: Cesar Maia, 8-3-2016
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