quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Em Portugal, desemprego de brasileiros supera índice do país

Em 2009, 17,7% dos imigrantes saídos do Brasil estava sem emprego.
Estudo de três universidades portuguesas traçou perfil dos brasileiros.

Desempregado, o brasileiro Paulo Machado aguarda na fila da Segurança Social, em Lisboa (Foto: Vitor Sorano/G1)
Maior grupo estrangeiro em Portugal,  os brasileiros enfrentam índice de desemprego acima da média do país. São 116 mil pessoas em situação legal, segundo dados de 2009 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras do governo português. Entre os que estão ocupados, a maioria trabalha mais de 40 horas semanais e recebe menos de 900 euros (cerca de R$ 2.090) – o equivalente a dois salários mínimos no país. Esses dados estão em uma pesquisa inédita feita em conjunto pelo Instituto Universitário de Coimbra, pela Universidade de Coimbra e pela Universidade Técnica de Lisboa.
A pesquisa ouviu 1.398 imigrantes brasileiros em várias partes do país. As entrevistas começaram a ser feitas em janeiro e foram concluídas em junho de 2009. Segundo dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (Iped) apresentados pelo estudo, em 2009 Portugal registrou 10 mil brasileiros desempregados. Em 2008, este número variava entre 6 mil e 8 mil imigrantes.

Ivone Pinheiro trabalha das 5h às 22h em dois
empregos em Lisboa (Foto: Vitor Sorano/G1)
Segundo Catarina Egreja, pesquisadora da Universidade Técnica de Lisboa, os brasileiros têm sido cada vez mais afetados pela falta de emprego em Portugal. Para João Peixoto, que também participou da organização da pesquisa, o resultado indica que o acesso ao mercado de trabalho está mais restrito para os novos imigrantes brasileiros. “A ilusão é menor do que há cinco anos", diz.


No primeiro trimestre de 2009, ano de conclusão da pesquisa, Portugal registrou índice de desemprego de 9,1%. Entre os brasileiros, o indicador era de  17,7%.
A situação mais grave é entre as mulheres brasileiras no país: 18,3% afirmaram estar sem trabalho -- mais que o dobro das que estavam nessa situação quando saíram do Brasil, 8,2%. Entre os homens, o nível de desemprego era de 13,3%; quando saíram do Brasil, o índice era de 7,5%. Mais da metade dos pesquisados já ficaram algum período sem trabalhar desde a chegada a Portugal.


Remessa de dinheiro diminuiu
Quem deixou o Brasil para fazer a vida em Portugal reconhece que a situação piorou. A remessa de dinheiro dos imigrantes brasileiros para os familiares que estão no Brasil diminuiu, segundo a pesquisa.
'Se for para vir ganhar dinheiro, não vale a pena', diz
a paranaense Ivanise Baldicera (Foto: Vitor Sorano/G1)
Em 2006, segundo dados do Banco de Portugal (equivalente ao Banco Central brasileiro), os imigrantes enviaram para o Brasil 349 milhões de euros. A partir de então, pela primeira vez, as remessas começaram a diminuir.
Em 2008, foram 332 milhões de euros enviados. Em 2009, 310 milhões de euros.
"Estou tentando mandar alguma coisa para minha família, mas não consegui juntar dinheiro", diz Dirlei Ravalho, de 47 anos, ex-comerciante no Brasil, que há 3 anos abriu um estabelecimento em Lisboa.
"Se for para vir hoje para ganhar dinheiro, não vale a pena", diz Ivanise Baldicera, de 42 anos, bancária no Paraná, funcionária de salão de beleza em Lisboa.
A diminuição do câmbio -- que chegou a quase R$ 4 em 2003 e caiu para R$ 2,34 hoje -- também torna o envio menos vantajoso.
"Antigamente eu mandava bastante, mas o euro caiu muito", afirma Ivone Pinheiro, de 56 anos, que trabalha das 5h às 22h em dois empregos.
Na terça-feira (19), Paulo Machado, de 29 anos, aguardava na fila da Segurança Social portuguesa, onde se concedem benefícios sociais. Está sem emprego desde o início de julho e, recentemente, vem consultando a mãe, no Brasil, sobre a situação no país.
"Ela diz que não está ruim não, mas não sei se é para eu voltar", conta.
No último emprego, trabalhando 56 horas semanais, ganhava menos de dois salários mínimos do país.
Eliomar Passos trabalha como autônomo
entregando refeições (Foto: Vitor Sorano/G1)
Alguns brasileiros, no entanto, conseguem ajudar no sustento dos parentes trabalhando como autônomos. “Quando eu era empregado, não conseguia mandar dinheiro. Agora sim”,  diz Eliomar Passos, de 24 anos, que prepara e entrega refeições prontas.
Contratos de curta duração
Quase 25% dos entrevistados que conseguiram empregos têm contratos de curta duração (de 3 a 12 meses), trabalham acima de 40 horas semanais e recebem menos de 900 euros mensais. Os setores mais procurados são o comércio e os serviços (como restaurantes, transportes e hotelaria), construção e serviços domésticos.
Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de a maioria dos trabalhadores não qualificados -- 21,2% do total de entrevistados -- possuírem ensino médio, superior ou mesmo um grau mais elevado -- como mestrado e doutorado. Na média, com a imigração, a proporção de trabalhadores menos qualificados sobe e a de mais qualificados cai, na comparação com a situação dos entrevistados no Brasil e em Portugal.

Neusa Silva era professora no Brasil e trabalha em
um minimercado de Lisboa (Foto: Vitor Sorano/G1
)
Professora com magistério no Brasil, Neusa Silva, de 49 anos, trabalha como vendedora em um minimercado. No fim de semana, faz um trabalho pontual como promotora de produtos de estética.

"Como as pessoas me conhecem, faço companhia para os filhos e cubro férias do pessoal da limpeza na faculdade", diz. "Já trabalhei em até três empregos." Segundo ela, o valor da hora da trabalhada caiu para menos da metade. "Em 2001, eram 10 euros. Agora está a 4,5 euros”, diz.
Ainda em seu primeiro mês em Portugal, Samuel Lima, de 25 anos, conseguiu uma vaga de vendedor porta a porta de uma empresa de TV a cabo. Sem salário fixo, recebe de acordo com a produtividade. "Formei-me em direito no Brasil e estou fazendo mestrado na Universidade de Lisboa. Fico aqui dois anos, garantido. Depois, ainda não planejei."
Vitor Sorano, Especial para o G1, de Lisboa

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