FHC diz que o lulismo não veio para ficar e defende a alternância de poder até em São Paulo – Estado que ficará 20 anos sob o comando de seu partido
Nelson Blecher
![]() |
Foto: Ivo Gonzalez/Agência Globo |
CONTINUIDADE?
FHC transmite a faixa a Lula, seu sucessor. “Ele só pôde botar o pé no acelerador quando o mundo favoreceu”, afirma.
A alternância, em resumo, é boa para arejar o jogo democrático, uma vez que os partidos acabam por se acomodar nas máquinas governamentais. “O ideal mesmo seria reduzir a ingerência dos partidos nessas máquinas.”
Nestes tempos, porém, o que sucede é o oposto. Para FHC, em nenhuma outra época da história houve um governo, como o atual, em que cresceu tanto a ingerência do partido nas entranhas do Estado. Isso não ocorreu, segundo ele, nem no período militar, em que havia tecnocratas – em vez de partidários – controlados pelo regime. “No governo Lula, houve uma enorme penetração de sindicatos e partidos em tudo: na Petrobras, no Banco do Brasil, nos Correios, na Receita, na Polícia Federal”, diz. “E o que está acontecendo? São problemas, escândalos. Isso é natural quando o interesse privado se mistura com o interesse público.”
Nestes tempos, porém, o que sucede é o oposto. Para FHC, em nenhuma outra época da história houve um governo, como o atual, em que cresceu tanto a ingerência do partido nas entranhas do Estado. Isso não ocorreu, segundo ele, nem no período militar, em que havia tecnocratas – em vez de partidários – controlados pelo regime. “No governo Lula, houve uma enorme penetração de sindicatos e partidos em tudo: na Petrobras, no Banco do Brasil, nos Correios, na Receita, na Polícia Federal”, diz. “E o que está acontecendo? São problemas, escândalos. Isso é natural quando o interesse privado se mistura com o interesse público.”
FHC discorda que o lulismo tenha vindo para ficar, como alguns cientistas políticos apregoam. “Em parte, é fruto da desigualdade e do oportunismo político” diz. “Por vezes me perguntam o que se pode fazer para que as políticas sociais, as Bolsas, não virem personalismos. Quem começou as Bolsas fui eu e nunca liguei meu nome a elas. No Chile e no México, não foram usadas como mecanismos do populismo.” Mas, se soubesse que o lulismo alcançaria uma projeção de tamanha popularidade, será que FHC não teria aprofundado os programas sociais em seu governo? “Eu não tinha condições. Conseguimos fazer uma coisa difícil, que foi estabilizar a economia, sem que fosse em detrimento da população”, diz ele. “Governei com crise (econômica) o tempo todo. O governo Lula só pôde botar o pé no acelerador quando o mundo favoreceu. Lula pôde fazer mais na área social graças à prosperidade global e ao fato de os países emergentes se beneficiarem da China.”
“No governo Lula, houve uma enorme penetração de sindicatos e partidos em tudo”
Para FHC, acelerar o processo de integração social, criar políticas adequadas para enfrentar a crise financeira mundial e, claro, manter as políticas estabelecidas no governo anterior foram os pontos positivos da gestão de Lula. E qual será o legado que a história fará de seus mandatos? “A história depende de quem a escreve”, diz. “Tem múltiplas interpretações. Até hoje há quem defenda ou ataque Napoleão.” Lula, segundo ele, colou sua imagem à dos excluí dos. “No meu caso, ninguém poderá negar a estabilização e o Real, que era chamado de plano FHC até que deixei o governo.”
Nelson Blecher, Revista Época, nº 648, 15-10-2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-