39º capítulo (daquela Série): Os dois Rio de Janeiro

Primeiro capítulo: Páginas de vida: que me ensinaram a não gostar de nacionalismos

Último capítulo: 38º capítulo (daquela Série): Brasil, ame-o ou deixe-o!

 

Cheguei ao Rio na quarta-feira, como sabem. No sábado, desci, vi uns adolescentes na portaria, perguntei-lhes onde se dançava por ali… “Ah, no Clube Bonsucesso!”, responderam. Me explicaram como chegar, e me mandei para lá. A atração era a banda “The Fevers”.

Bom, preenchi a Ficha de Admissão, tornei-me sócio do Bonsucesso Futebol Clube.

Acho que paguei 10 Cruzeiros de entrada. E lá fui eu para o salão social. Grande salão com uma enorme varanda, um varandão. Me encostei no parapeito e me quedei observando, aí tocou “I can’t get no (satisfaction)”, dos Rolling Stones. Não resisti. Como fazia em Brazzaville quando esta ou outra música tocava, se a gente não tivesse parceira, dançava sozinho. Foi o que eu fiz no Clube Bonsucesso. (Com licença da gabarolice, in those days eu até dançava muito bem!).

Abriu-se uma clareira em torno de mim, eu dançava, o pessoal batia palmas e exclamava alguma coisa. A música acabou, voltei para o meu posto. Quatro ou cinco jovens (meninos e meninas) se aproximaram… “aí, de onde você é?”, “Sou de Portugal, cheguei do Congo…”, respondi… “Você sabe o que o pessoal dizia enquanto batia palmas?”

“Não”, respondi.

“Bicha, bicha!”

“E o que é bicha?”

“Paneleiro”

Foi a primeira “bofetada” que recebi no Rio de Janeiro.

O papo continuou com uma das meninas dizendo “Você está se perdendo aqui, devia estar na zona sul”.

“O que é a zona sul?”

“Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon…”

Perguntei à menina porque ela não estava lá, na zona sul. Ela me respondeu que estava passando o fim-de-semana com a avó, em Bonsucesso.

E assim eu “comecei” a morar no Rio de Janeiro: sendo chamado de paneleiro e percebido que morava… na zona norte.

Próximo capítulo: 40º capítulo (daquela Série): Primeiros dias no Rio