quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Esquerdeiros e a liberdade de expressão

A democracia e a liberdade de expressão
José Gomes André
Não tenho apreço político por Miguel Relvas. Não lhe vislumbro qualidades assinaláveis e considero-o um elemento tóxico no Governo, pelas polémicas em que se viu (e vê) envolvido, às quais ainda não deu resposta esclarecedora. Todavia, o que aconteceu no Clube dos Pensadores, em Gaia, e no ISCTE, em Lisboa, não pode merecer elogios. Uma coisa é manifestar-se desagrado público pela governação, algo perfeitamente legítimo e até elogiável em várias circunstâncias. Outra coisa diferente é utilizar uma manifestação para intimidar fisicamente uma pessoa ou impedi-la de exercer a sua liberdade de expressão.

E se o primeiro exemplo não me incomoda especialmente (é um caso de polícia ou porventura dos tribunais), o segundo deixa-me muito incomodado. O orador pode ser um crápula, um imbecil, até mesmo um "fascista" (como lhe chamaram), mas aquilo que distingue uma democracia consolidada é a sua capacidade para proteger os valores democráticos em qualquer circunstância. Calar um homem porque se discorda dele, com o objectivo de "proteger a democracia", é tão idiota quanto pretender extinguir o oxigénio do planeta para acabar com os fogos.

Sim, estou a parafrasear James Madison. Ele sabia muito bem que a liberdade de expressão não existe para que os tiranos sejam silenciados. Existe para que os tiranos falem e nós lhes possamos responder, denunciando as suas falácias. Isso - e não a limitação de uns para benefício de outros - é que é a democracia.
Texto: José Gomes André, Delito de Opinião, 20-02-2013

Foto: Agência Lusa

A milícia
Helena Matos
A milícia entendeu que nos dias em que está para aí virada não deixa falar em público membros do governo. Amanhã pode escolher outros alvos. É só querer. Porque a milícia só faz o que quer e goza de impunidade total. E um dos melhores símbolos do nosso tempo e do jornalismo que temos é que ontem a milícia fez a sua intervenção numa conferência sobre jornalismo: os jornalistas têm tratado os milicianos com extraordinária simpatia. Porque andaram com os milicianos nas faculdades. Porque os milicianos são fotogénicos. Porque os milicianos dão sempre um som ou uma imagem. Os milicianos que são isso mesmo  milicianos   sabem da admiração e do respeitinho que impõem e tiram partido disso. Os milicianos são iguais em todos os tempos!

Obs. Como de costume os compagnons de route acham que a cena do ISCTE se deve ao facto de ter sido com o Relvas que se licenciou à troca mandroca. Amanhã vão achar que é por ser com o ministro Vitor Gaspar ou com Nuno Crato porque apesar de ninguém questionar os respectivos curricula são o rosto disto e daquilo. Depois também vão arranjar algumas desculpas quando os milicianos atacarem alguém que não é do governo: deve ter irritado os milicianos. Até que um dia os milicianos começam a importunar os  compagnons. Aí o caso muda de figura e os milicianos aprendem em três segundos que ou recuam ou se lhes acaba a gracinha num instante.
Texto: Helena Matos, Blasfémias, 20-02-2013

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