A imprensa do PT acusa os
manifestantes de serem manipulados por «fascistas» e o movimento Passe Livre
retira-se dos protestos por considerar que «forças conservadoras estão se
aproveitando da dinâmica das massas» (recorde-se que o Passe Livre foi
inicialmente financiado pelo PT e depois «enquadrado» e tutelado pelo PSOL).
Isso aconteceu depois de grupos enviados pelo PT e comandados pelo presidente
do partido, Rui Falcão, terem sido vaiados e impedidos de participar nas
manifestações pacíficas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte ou Porto Alegre. Rui
Falcão foi o mesmo que tentou pôr «o Brasil inteiro na rua» depois de o Supremo
ter condenado o gang do Mensalão, para mostrar que o PT e as suas franjas (CUT,
MST, etc.) mandam mais do que a Justiça. Nem de propósito, uma das
reivindicações do «povo petista» das ruas é a promulgação da PEC37, uma
alteração da Constituição para retirar poderes de investigação ao Ministério
Público e concentrá-los na Polícia, ou seja, em órgãos dependentes do governo.
É contra a PEC37 que o Brasil se ergue também. Aliás, convém não perder de
vista a notícia de que espiões da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
foram desmascarados quando investigavam o governador Eduardo Campos,
pré-candidato do PSB à Presidência e rival sério no espaço político de Dilma.
Por isso, Lula e João Santana,
o técnico de marketing do PT, aconselharam Dilma a fazer uma comunicação rápida
(ela arruína-se a cada minuto de discurso) e onde promete que o dinheiro
arrecadado com o pré-sal do petróleo brasileiro será aplicado na Educação. A
decisão foi tomada depois de Lula ter reunido com os militantes do PT e de ter
«tomado nota» das suas «reivindicações», bem como da sua má-vontade contra
Fernando Haddad, o prefeito petista de São Paulo, «o traidor» que, mesmo assim,
recordem-se, incitou à violência durante a campanha eleitoral, queimando em
público um retrato do governador Alckmin. Ou seja, Dilma apropriou-se da agenda
da rua com mais um programa de marketing político, porque o PT não pode ser
«atropelado pela História». Como escrevi no post anterior, o
PT prepara-se para recolher os lucros da radicalização dos protestos — isso
fornecer-lhe-á argumentos para impor a sua agenda. Simples: como recordava o
editorial do Estado de S. Paulo, «os cidadãos comuns se tornaram duplamente
reféns: dos baderneiros que desdenham das exortações da maioria ao pacifismo –
e do costumeiro descontrole das tropas mobilizadas para reprimi-los.» Por
agora, os «cidadãos comuns» estão na rua; mas os profissionais aguardam.
Adenda: O «profissional»
que mais aguarda é Lula, evidentemente. Ao ser mobilizado por Dilma, ao
regressar ao palco do PT, reunindo com os seus militantes, ao apoderar-se do
discurso do «PT da rua», Lula está a postos para substituir a sua dama de
opereta. Esse vai ser o drama duplo da actual presidente: gerir a onda os
protestos e precaver-se contra o ataque de Lula e dos seus amigos dilectos.
Título e Texto: Francisco José Viegas*, A Origem das Espécies, 23-06-2013
* Foi Secretário de Estado da Cultura até 25 de Outubro de 2012
Leitura complementar:
Brasil, o princípio do fim do embuste
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Brasil, o princípio do fim do embuste
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