José António Rodrigues Carmo
A questão das migrações
islâmicas para o espaço europeu suscita cada vez mais acesas discussões. É bom
que isso aconteça, porque o problema é complicado.
Um dos argumentos brandidos
pelos que acham que há que acolher e não pensar no resto, é o de que os valores
do Ocidente acabam por ser aceites pelas populações acolhidas.
E referem, como exemplo, o
período das invasões e migrações germânicas sobre o Império Romano que levaram,
não à germanização da România, mas à romanização dos bárbaros.
O argumento é poderoso mas
falacioso.
Os germanos, apesar de terem
sido os maiores responsáveis pela destruição do governo imperial, não queriam
substituir o Império por algo novo e o direito, a moral, a economia, a moeda, o
equilíbrio social, a língua, as artes, etc, mantiveram as referências romanas.
Até a religião cristã, a religião do Império, acabou por desalojar o arianismo.
Os reis bárbaros eram
geralmente vistos pelas populações como generais ao serviço de Roma. E quando
vitoriosos, iam ao encontro dos vencidos, adquiriam os seus hábitos e os seus
valores, governavam à romana, ou tentavam. As suas cortes estavam cheias de
poetas e retóricos, Recesvinto, Rei dos Visogodos, proclamou em 634 um Liber Judiciorum, completamente
tributário do direito romano.
Sigismundo, Rei dos
Burgúndios, dizia-se um soldado do Império.
O Norte de Africa estava
completamente romanizado e até os Vândalos, que ali se instalaram, aceitaram o
estilo romano.
Nessa altura os árabes
começavam a sua avassaladora jihad e
foi tudo muito diferente.
Em 632, quando Maomé morreu os
árabes eram umas tribos de selvagens, para lá da Síria.
Os grandes poderes da época
eram o Império Bizantino, o Império Persa e, na Europa, os reis germânicos
mantinham viva a ideia do Império Romano.
Trinta anos depois já os
árabes, galvanizados por uma nova religião, carregavam sobre o Norte de Africa,
e conquistavam Creta, Chipre e Sicília. O Mediterrâneo era deles e os Impérios
Persa e Bizantino batiam em retirada.
Por que razão não foram os
árabes absorvidos pelos valores das regiões ocupadas, como tinha acontecido com
os germanos?
Religião!
Os germanos nada tinham a opor
ao cristianismo do Império, queriam apenas poder e o brilho que o Império projectava,
mas os árabes combatiam por uma nova fé e foi a natureza dessa fé que
impossibilitou a assimilação.
Os árabes nada tinham a opor à
civilização superior dos povos que conquistaram, e assimilaram-na com grande
rapidez, indo beber directamente ao legado helénico.
Nem sequer pretendiam
converter os conquistados, apenas que eles obedecessem a Alá.
Ou seja, exigiam a simples e
natural, submissão de seres inferiores, degradados, desprezíveis, e abjectos.
Onde chegaram, instalaram-se
como dominadores. Os vencidos eram seus súbditos, pagavam impostos especiais
(jyzia) e não faziam parte da umma, da comunidade dos crentes. Nenhuma fusão
podia acontecer entre conquistados e conquistadores, nenhum esforço os
vencedores faziam para agradar aos vencidos. Eram estes que tinham de ir ao
encontro dos seus novos senhores e não podiam ir de outro modo que não fosse
como servidores de Alá.
A fé dos vencidos não merecia
sequer a dignidade de ser rebatida. Era simplesmente ignorada. E esta era a
melhor maneira de afastar o vencido do seu estado de jahiliyyah e conduzi-lo a
Alá e à dignidade da comunidade dos crentes.
Tudo isto implica que onde o
muçulmano se instalou como dominante, a antiga civilização desapareceu. O
germano romanizou-se ao entrar no Império. Os povos onde entrou o muçulmano
islamizaram-se porque a rotura com o passado foi total. Uma nova língua, novos
costumes, um novo direito (sharia), novos valores, instituições e, acima de
tudo, uma nova religião, dominadora e intratável.
A sociedade civil desapareceu,
sendo substituída por uma sociedade religiosa e totalitária.
Foi isto que aconteceu em
todas as regiões onde o Islão chegou, desde a Pérsia a Marrocos. E esteve
prestes a acontecer na Península Ibérica, não tivesse havido algumas
circunstâncias fortuitas que impediram esse desfecho.
É por isso que o argumento é
falacioso. A ideia de que as comunidades muçulmanas são como as outras, serão
assimiladas, e acabarão por se converter aos nossos valores, às nossas leis, ao
nosso modo de vida, é puro wishfull
thinking.
Nada na História corrobora tal
esperança, pelo que a sua prevalência se deve apenas à profunda ignorância
ocidental, relativamente aos fundamentos doutrinários do Islão.
E, como dizia Sun Tzu, quem
não conhece o seu inimigo, nem se conhece a si mesmo, perderá todas as
batalhas.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook, 5-9-2015
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