quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Tauromaquia política

Luís Naves

Já não há paciência para esta tauromaquia política. Não sei se é teatro ou realidade, mas parece uma brincadeira irresponsável que tem por refém a vida dos outros.

Quatro anos de sacrifícios podem ter servido para pouco e só apetece sair disto tudo, fugir da prisão dos factos, desta tristeza brutal em que vivemos, entre a impossibilidade e o tormento. O desrespeito pelo voto, o escárnio que merece o trabalho de décadas, o triunfo dos medíocres.

A sociedade portuguesa, pelo menos na sua versão partidária, arrasta-se numa espécie de desesperança e vácuo, numa inaturável retórica de poder que repete com alegria os erros do passado e ignora parvamente as circunstâncias do presente.

As negociações falhadas são manobras, dizem os peritos, mas as consequências batem à porta de cada um de nós. O juízo da classe política durou pouco tempo e regressam a instabilidade e a má liderança.

Se o líder socialista, António Costa, está a tourear a extrema-esquerda, dando falsas esperanças de querer formar um governo de ruptura com a austeridade imposta pela Europa, haverá no final do processo um milhão de eleitores com fortes razões de queixa.

Se os socialistas estão a tourear a direita, o eleitorado do centro deixará de ter qualquer confiança num partido que foi crucial na construção da democracia portuguesa e que será irrelevante no futuro.

Seja qual for o final da história, já perdemos, mas perderemos ainda mais com um hipotético governo de esquerda que pretende conciliar uma via europeia impossível, juntando na mesma equação a ruptura e a continuidade. 
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 14-10-2015

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