Phil Lawler
Algo aconteceu na última
sexta-feira, quando o Papa Francisco usou novamente a leitura do Evangelho do
dia como mais uma oportunidade para promover sua visão pessoal sobre o divórcio
e o segundo casamento. Condenando a hipocrisia e a “lógica da casuística”, o
Pontífice disse que Jesus rejeita a abordagem dos legalistas.
É verdade. Mas, em sua
repreensão aos Fariseus, o que Jesus diz mesmo sobre o casamento?
“Assim, já não são dois,
mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem”.
…e…
“Quem se divorcia de sua
mulher e se casa com outra, comete adultério contra ela; e se ela se divorcia
de seu marido e se casa com outro, também comete adultério.”
Dia após dia, em suas homilias
na missa matinal na Casa Santa Marta, o Papa Francisco denuncia os “doutores da
lei” e a aplicação “rígida” da doutrina moral Católica. Às vezes, sua
interpretação das leituras da Bíblia do dia é forçada. Frequentemente, a sua
caracterização dos Católicos tradicionais é insultante. Mas, neste caso, o Papa
virou a leitura do Evangelho completamente de cabeça para baixo. Lendo o relato
dessa assombrosa homilia feito pela Rádio Vaticano, não pude mais fingir que o
Papa Francisco está apenas oferecendo uma nova interpretação da doutrina
Católica. Não; é mais do que isso. Ele está empenhado em um esforço deliberado
para mudar tudo o que a Igreja ensina.
Por mais de vinte anos,
escrevendo diariamente sobre notícias do Vaticano, tentei ser honesto em minha
avaliação das declarações e gestos papais. Às vezes, eu criticava São João
Paulo II e o Papa Bento XVI, quando achava que suas ações eram imprudentes.
Mas, nunca me passou pela cabeça que algum desses papas pudesse representar um
perigo para a integridade da fé católica. Olhando para trás, para muito além,
em toda a história da Igreja, eu percebo que existiram Papas ruins, homens
cujas ações pessoais foram motivadas pela ganância, inveja, sede de poder ou
simplesmente luxúria. Mas, nunca houve um Romano Pontífice que demonstrasse tanto
desdém pelo que a Igreja sempre ensinou, acreditou e praticou – no que diz
respeito a questões como a natureza do casamento e da Eucaristia.
O Papa Francisco gerou
controvérsia desde o dia em que foi eleito como sucessor de São Pedro. Mas, nos
últimos meses, a controvérsia tornou-se tão intensa, a confusão entre os fiéis
tão difusa, a administração no Vaticano tão arbitrária – e as diatribes do Papa
contra seus inimigos (reais ou imaginários) tão cheias de velhacaria – que hoje
a Igreja universal está se jogando em direção a uma crise.
Numa grande família, como um
filho deve se comportar quando percebe que o comportamento patológico de seu
pai ameaça o bem-estar de toda a família? Ele certamente deve continuar a
demonstrar respeito por seu pai, mas ele não pode indefinidamente negar o
perigo. Eventualmente, até uma família disfuncional precisa de uma intervenção.
Na família mundial que é a
Igreja Católica, o melhor meio de intervenção é sempre a oração. A oração
intensa pelo Santo Padre seria um projeto particularmente ideal para a época da
Quaresma. Porém, a intervenção também requer honestidade: um reconhecimento
sincero de que temos um problema sério.
Reconhecer o problema também
pode proporcionar uma espécie de alívio, um relaxamento no acúmulo de tensões.
Quando digo aos amigos que considero esse papado um desastre, percebo que, na
maioria das vezes, eles se sentem estranhamente mais reconfortados. Eles podem
até relaxar um pouco, sabendo que suas desconfianças não são assim tão
irracionais, que outros compartilham de seus receios sobre o futuro da fé e que
não precisam continuar numa busca infrutífera tentando conciliar o
irreconciliável. Além disso, ao dar ao problema um nome próprio, eles podem
reconhecer que esta crise não é o Catolicismo. O Papa Francisco não é um
antipapa, muito menos o Anticristo. A Sé de Pedro não está vacante, e Bento XVI
não é o “verdadeiro” Pontífice.
Para o bem ou para o mal,
Francisco é o nosso papa. E se é para pior – como infelizmente sou levado a
concluir, só posso dizer que a Igreja sobreviveu a maus papas no passado. Nós, católicos,
ficamos acostumados por décadas a desfrutar de uma sucessão de líderes de
destaque no Vaticano: pontífices que eram mestres talentosos e homens santos.
Nós crescemos acostumados a olhar em direção a Roma para orientação. Agora já
não podemos mais.
(Eu não quero dizer com isso
que o Papa Francisco perdeu o carisma da infalibilidade. Se ele decidir emitir
uma declaração ex cathedra, em união com os bispos do mundo,
podemos estar certos de que ele estará cumprindo seu dever de transmitir o que
o Senhor confiou a São Pedro: o depósito da fé. Mas este Papa escolheu não
falar com autoridade, pelo contrário, recusou-se teimosamente a esclarecer o
seu mais provocador documento de Magistério.)
Mas, se não podemos contar com
direções claras de Roma, para onde poderemos nos dirigir? Primeiramente, os
Católicos podem confiar no constante Magistério da Igreja, nas doutrinas que
agora estão sendo questionadas. Se o Papa é confuso, o Catecismo da Igreja Católica
não é. Em segundo lugar, podemos e devemos pedir aos nossos próprios bispos
diocesanos para dar um passo à frente e assumir as suas próprias
responsabilidades. Os bispos, esses também passaram anos transferindo o ônus
das questões difíceis para Roma, e agora por necessidade, eles devem
providenciar suas próprias afirmações claras e decisivas da doutrina Católica.
Talvez o Papa Francisco
resolva provar que eu estou errado, e quem sabe ainda pode emergir daí um
grande mestre Católico. Eu espero e rezo para que assim seja. Talvez todo o meu
argumento se prove equivocado. Eu já cometi erros antes, e sem dúvida, poderia
estar errado novamente; mas uma minha visão equivocada não tem grandes consequências.
Mas, se eu estiver certo, e a atual liderança do Papa se tornar um perigo para
a fé, então outros católicos, e especialmente os ministros ordenados da Igreja,
devem decidir como responder. E se eu estiver certo – como claramente estou –
em relação ao fato de que a confusão sobre os ensinamentos fundamentais da Igreja
se tornou generalizada, então os bispos, como primeiros mestres da fé, não
podem negligenciar seu dever de intervir.
Título e Texto: Phil Lawler, 1º de
março de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com,
10-3-2017
Phil Lawler é jornalista católico há mais de trinta anos. Editor de
várias revistas católicas, escreveu oito livros. Fundador da Catholic World
News, ele é o diretor de notícias e analista principal
da CatholicCulture.org.
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