sexta-feira, 10 de março de 2017

Esse desastroso pontificado

Phil Lawler

Algo aconteceu na última sexta-feira, quando o Papa Francisco usou novamente a leitura do Evangelho do dia como mais uma oportunidade para promover sua visão pessoal sobre o divórcio e o segundo casamento. Condenando a hipocrisia e a “lógica da casuística”, o Pontífice disse que Jesus rejeita a abordagem dos legalistas.

É verdade. Mas, em sua repreensão aos Fariseus, o que Jesus diz mesmo sobre o casamento?
“Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem”.
…e…
“Quem se divorcia de sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra ela; e se ela se divorcia de seu marido e se casa com outro, também comete adultério.”

Dia após dia, em suas homilias na missa matinal na Casa Santa Marta, o Papa Francisco denuncia os “doutores da lei” e a aplicação “rígida” da doutrina moral Católica. Às vezes, sua interpretação das leituras da Bíblia do dia é forçada. Frequentemente, a sua caracterização dos Católicos tradicionais é insultante. Mas, neste caso, o Papa virou a leitura do Evangelho completamente de cabeça para baixo. Lendo o relato dessa assombrosa homilia feito pela Rádio Vaticano, não pude mais fingir que o Papa Francisco está apenas oferecendo uma nova interpretação da doutrina Católica. Não; é mais do que isso. Ele está empenhado em um esforço deliberado para mudar tudo o que a Igreja ensina.

Por mais de vinte anos, escrevendo diariamente sobre notícias do Vaticano, tentei ser honesto em minha avaliação das declarações e gestos papais. Às vezes, eu criticava São João Paulo II e o Papa Bento XVI, quando achava que suas ações eram imprudentes. Mas, nunca me passou pela cabeça que algum desses papas pudesse representar um perigo para a integridade da fé católica. Olhando para trás, para muito além, em toda a história da Igreja, eu percebo que existiram Papas ruins, homens cujas ações pessoais foram motivadas pela ganância, inveja, sede de poder ou simplesmente luxúria. Mas, nunca houve um Romano Pontífice que demonstrasse tanto desdém pelo que a Igreja sempre ensinou, acreditou e praticou – no que diz respeito a questões como a natureza do casamento e da Eucaristia.

O Papa Francisco gerou controvérsia desde o dia em que foi eleito como sucessor de São Pedro. Mas, nos últimos meses, a controvérsia tornou-se tão intensa, a confusão entre os fiéis tão difusa, a administração no Vaticano tão arbitrária – e as diatribes do Papa contra seus inimigos (reais ou imaginários) tão cheias de velhacaria – que hoje a Igreja universal está se jogando em direção a uma crise.

Numa grande família, como um filho deve se comportar quando percebe que o comportamento patológico de seu pai ameaça o bem-estar de toda a família? Ele certamente deve continuar a demonstrar respeito por seu pai, mas ele não pode indefinidamente negar o perigo. Eventualmente, até uma família disfuncional precisa de uma intervenção.

Na família mundial que é a Igreja Católica, o melhor meio de intervenção é sempre a oração. A oração intensa pelo Santo Padre seria um projeto particularmente ideal para a época da Quaresma. Porém, a intervenção também requer honestidade: um reconhecimento sincero de que temos um problema sério.

Reconhecer o problema também pode proporcionar uma espécie de alívio, um relaxamento no acúmulo de tensões. Quando digo aos amigos que considero esse papado um desastre, percebo que, na maioria das vezes, eles se sentem estranhamente mais reconfortados. Eles podem até relaxar um pouco, sabendo que suas desconfianças não são assim tão irracionais, que outros compartilham de seus receios sobre o futuro da fé e que não precisam continuar numa busca infrutífera tentando conciliar o irreconciliável. Além disso, ao dar ao problema um nome próprio, eles podem reconhecer que esta crise não é o Catolicismo. O Papa Francisco não é um antipapa, muito menos o Anticristo. A Sé de Pedro não está vacante, e Bento XVI não é o “verdadeiro” Pontífice.

Para o bem ou para o mal, Francisco é o nosso papa. E se é para pior – como infelizmente sou levado a concluir, só posso dizer que a Igreja sobreviveu a maus papas no passado. Nós, católicos, ficamos acostumados por décadas a desfrutar de uma sucessão de líderes de destaque no Vaticano: pontífices que eram mestres talentosos e homens santos. Nós crescemos acostumados a olhar em direção a Roma para orientação. Agora já não podemos mais.

(Eu não quero dizer com isso que o Papa Francisco perdeu o carisma da infalibilidade. Se ele decidir emitir uma declaração ex cathedra, em união com os bispos do mundo, podemos estar certos de que ele estará cumprindo seu dever de transmitir o que o Senhor confiou a São Pedro: o depósito da fé. Mas este Papa escolheu não falar com autoridade, pelo contrário, recusou-se teimosamente a esclarecer o seu mais provocador documento de Magistério.)

Mas, se não podemos contar com direções claras de Roma, para onde poderemos nos dirigir? Primeiramente, os Católicos podem confiar no constante Magistério da Igreja, nas doutrinas que agora estão sendo questionadas. Se o Papa é confuso, o Catecismo da Igreja Católica não é. Em segundo lugar, podemos e devemos pedir aos nossos próprios bispos diocesanos para dar um passo à frente e assumir as suas próprias responsabilidades. Os bispos, esses também passaram anos transferindo o ônus das questões difíceis para Roma, e agora por necessidade, eles devem providenciar suas próprias afirmações claras e decisivas da doutrina Católica.

Talvez o Papa Francisco resolva provar que eu estou errado, e quem sabe ainda pode emergir daí um grande mestre Católico. Eu espero e rezo para que assim seja. Talvez todo o meu argumento se prove equivocado. Eu já cometi erros antes, e sem dúvida, poderia estar errado novamente; mas uma minha visão equivocada não tem grandes consequências. Mas, se eu estiver certo, e a atual liderança do Papa se tornar um perigo para a fé, então outros católicos, e especialmente os ministros ordenados da Igreja, devem decidir como responder. E se eu estiver certo – como claramente estou – em relação ao fato de que a confusão sobre os ensinamentos fundamentais da Igreja se tornou generalizada, então os bispos, como primeiros mestres da fé, não podem negligenciar seu dever de intervir.
Título e Texto: Phil Lawler, 1º de março de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com, 10-3-2017 
Phil Lawler é jornalista católico há mais de trinta anos. Editor de várias revistas católicas, escreveu oito livros. Fundador da Catholic World News, ele é o diretor de notícias e analista principal da CatholicCulture.org.

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