José António Rodrigues Carmo
Uma revolução telúrica está a
acontecer na Turquia sob os olhares cada vez mais preocupados do Ocidente.
Revolução cuja importância se
pode comparar à que aconteceu no Irão, em 1979 e que afastou esse país da
órbita da modernidade e da ocidentalização, lançando-o no seio do “lado negro
da força”.
Recip Erdogan, acaba de ser
eleito para sultão e consegue aprovar uma nova Constituição que irá enterrar
definitivamente a herança modernizadora de Kemal Ataturk.
![]() |
Recep Tayyip Erdogan, foto: Alkis
Konstantinidis/Reuters
|
Ataturk, relembre-se, chegou à
conclusão de que a decadência otomana se devia ao lastro com que o Islão
carregava a sociedade. Feito o diagnóstico, de uma assentada, mudou o alfabeto,
do árabe para o latino, e desencadeou uma implacável repressão que afastou a
religião islâmica para um canto, colocando-a sob controlo.
A Constituição que legou,
firmava esse controlo.
O relativo sucesso da Turquia
(em comparação com os restantes países muçulmanos), deve-se, segundo muitos
autores, a esta visão de Ataturk.
Mas a ascensão de Erdogan e a do
seu partido destruíram deliberadamente a herança de Ataturk e o seu modelo de
sociedade.
Nestes últimos anos o
erdoganismo islamista infiltrou-se nas instituições, nas empresas, nas escolas,
em todo o tecido social, e tem um poder real que vai muito para além do
institucional.
Um poder islamista que advoga
o regresso ao Islão político, que persegue às claras jornalistas, militares e
magistrados, calando toda a oposição aos seus projetos. Um projeto ditatorial ou
mesmo totalitário.
Erdogan sempre disse ao que
vinha, mesmo quando Obama o achava o seu melhor amigo. Entre despudorados
espichos de antissemitismo e incitamentos ao ódio ao ocidente e a judeus,
dizia, para quem o queria ouvir, que a “democracia é como um autocarro... quando
chegas ao teu destino, sais”.
As ações, essas, falam por si:
foi esta elite islamista que apoiou uma flotilha de extremistas contra Israel;
foi esta Turquia islamista que se colocou do lado do Hamas, é esta Turquia que
ocupa metade de Chipre, reprime violentamente os curdos, ameaça a Holanda,
insulta a Alemanha, e silencia toda e qualquer discordância interna.
Face a isto, o que realmente
espanta é que ainda esteja na NATO e que haja “especialistas” que recomendam a
entrada da Turquia na UE, esquecendo que os turcos são agora os donos do local
onde os troianos meteram clamorosamente os pés, ao receber no seu perímetro um
belo presente envenenado que ficou para a História com o nome de “Cavalo de
Tróia”.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook,
17-4-2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-