A título de defender os direitos desses
mesmos trabalhadores, os sindicalistas cassaram-lhes o elementar direito de
trabalhar, por meio da paralisação dos transportes coletivos
Estado de S. Paulo
Como era previsível, milhões
de trabalhadores tiveram de aderir compulsoriamente à tal “greve geral” convocada
pelas centrais sindicais para protestar contra as reformas trabalhista e
previdenciária. A título de defender os direitos desses mesmos trabalhadores,
os sindicalistas cassaram-lhes o elementar direito de trabalhar, por meio da
paralisação dos transportes coletivos. E aqueles que tentaram chegar ao
trabalho de outras maneiras foram igualmente impedidos ou tiveram imensa
dificuldade graças ao bloqueio criminoso de ruas, avenidas e estradas realizado
por “movimentos sociais” que se comportam como bandos de delinquentes. Quando e
onde nenhuma dessas táticas funcionou, os sindicalistas partiram para a
pancadaria pura e simples.
Os acontecimentos de ontem
serviram para mostrar que, embora haja uma insatisfação generalizada com o
atual governo, a representatividade dos organizadores da balbúrdia travestida
de “greve geral” é pífia. A maioria dos brasileiros tem manifestado, nas
pesquisas de opinião, seu desagrado com as reformas – naturalmente impopulares
–, mas deixou claro ontem que não compactua com a violência nem com a
exploração mesquinha de sua insatisfação por parte de grupelhos
político-sindicais. Com seus principais líderes acuados por inúmeras denúncias
de corrupção e depois de terem provocado a maior crise econômica da história
brasileira quando estiveram no governo, deixando mais de 14 milhões de
desempregados, esses tipos sabem que, no voto, não têm mais como ganhar – então
partem para o grito.
Não faltaram imagens e
situações para simbolizar essa disposição truculenta da tigrada. Em São Paulo,
pequenos grupos de baderneiros queimaram pneus para interromper o trânsito em
diversos pontos, impedindo a livre circulação de quem queria chegar ao
trabalho. A mesma tática foi usada em várias outras capitais.
No caso de São Paulo, a
polícia foi rápida e interveio para liberar a passagem, prendendo vários desses
vândalos. No entanto, como eles não desistem, havia a perspectiva de mais
violência até o final do dia de ontem, em manifestações cujo único propósito
era tumultuar ainda mais a vida dos paulistanos.
Em muitas cidades,
sindicalistas, como verdadeiros mafiosos, obrigaram comerciantes a fechar as
portas e agrediram quem ousasse desafiá-los. Houve pancadaria dentro do
Aeroporto Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, protagonizada por integrantes da
Central Única dos Trabalhadores (CUT) devidamente uniformizados, assustando os
passageiros que apenas queriam embarcar para cumprir seus compromissos. Também
no Rio, decerto contrariados com o fato de que o transporte não parou, os
sindicalistas depredaram ônibus.
Tudo isso indica claramente o
fracasso de um movimento de espertalhões que pretendia sequestrar o
descontentamento da população para utilizá-lo como arma contra o governo que
tenta consertar o estrago legado pelo PT. Nada disso significa, é claro, que eles
vão desistir e se resignar. Ao contrário: continuarão a agredir a verdade dos
fatos e a tentar confundir a opinião pública para se apresentarem como solução
dos problemas que eles mesmos criaram.
Por isso, não surpreende que o
principal chamamento para a tal “greve geral” tenha partido do próprio PT, que
para tanto fez uso até do horário eleitoral a que tem direito na TV, pago com
dinheiro do contribuinte. E por isso não surpreende que o chefão petista, Lula
da Silva, tenha aproveitado o ensejo de uma greve que ele considerou um
“sucesso total” para anunciar-se candidato a presidente: “Hoje eu posso dizer
com certeza: quero ser candidato a presidente outra vez. Vou pedir ao povo
brasileiro a licença para votar em mim”.
Lula e PT apelam
descaradamente ao embuste, transformando em “grevistas” os cidadãos impedidos
de trabalhar pelo gangsterismo sindical, porque sabem que não lhes restam
muitas alternativas – num cenário em que o outrora poderoso partido luta para
não se transformar em nanico nas próximas eleições e em que o demiurgo petista
tem mais chance de ir para a cadeia do que para o Palácio do Planalto.
Título e Texto: Editorial, Estado de S. Paulo, 29-4-2017
Relacionados:
Analisando com a cabeça das Centrais sindicais Niterói aderiu, POR COMPLETO, à greve de 28/04.
ResponderExcluirOs fatos:
- 30 pessoas bloquearam o vão central da ponte Rio-Niterói no sentido Rio.
- 25 pessoas bloquearam a entrada na Estação das Barcas - Praça Araribóia em Niterói.
- 20 pessoas bloquearam e atearam fogo em pneus na Rodovia do Contorno da Baía.
Realidade: ninguém saía de Niterói para o Rio.
Conclusões das Centrais:
A) O povo de Niterói, por unanimidade, aderiu aos protestos contra as Reformas trabalhistas e previdenciária.
B) A Polícia agiu com violência desproporcional para a retirada dos manifestantes, agredindo as pessoas que exerciam seu pleno direito de greve.
C) a OAB foi, como sempre, solidária ao direito de greve dos trabalhadores e contra a ação violenta da Polícia.
Será tão difícil fazer certas pessoas entender, inclusive advogados, que os direitos são recíprocos - são de todos - daqueles que rejeitam; assim como daqueles que apoiam as reformas e que o direito de "opinar" e de "ir e vir" ou se equipara ou transcende, até mesmo, ao direito de greve?
Fica aqui para reflexão.
Wilson J. de Mattos