sábado, 22 de agosto de 2020

Obamagate: pior que Watergate

Para livrar-se da cadeia, muita gente precisa ver Donald Trump fora da Casa Branca

Ana Paula Henkel

As notícias do cenário político no Brasil andam a mil por hora. As manchetes do fim do expediente raramente são as mesmas que iniciaram o dia, e é necessário um tempo extra para acompanhar o noticiário político internacional. Com a globalização, a pandemia e o efeito de ação e consequência quase imediato entre muitos países, as eleições presidenciais norte-americanas neste ano — e seus desdobramentos — podem ter um impacto forte também no Brasil e, aqui na terra do Tio Sam, a política também anda acima da velocidade máxima permitida. Apertem os cintos.

Richard Nixon foi o 37º presidente norte-americano, e quem o conhece apenas pelos filtros de Hollywood não imagina como ele foi popular. Na verdade, o ex-senador pela Califórnia foi protagonista de uma das maiores goleadas eleitorais da história dos Estados Unidos quando reeleito presidente, com 520 dos 537 votos possíveis no colégio eleitoral, em 1972. O republicano venceu em 49 dos 50 Estados norte-americanos.

Sua popularidade erodiu-se completamente em 1974 pela crise que ficou conhecida pelo nome do conjunto de prédios em que ficava a sede do Partido Democrata em Washington, o Complexo Watergate. Nixon teve conhecimento das atividades de espionagem realizadas contra os adversários e acabou engolido pela revelação do escândalo que levou à sua renúncia.

Dois jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, foram os responsáveis por algumas das revelações mais importantes do caso, como mostrado no espetacular filme Todos os Homens do Presidente, de 1976. O episódio logo entrou para o imaginário popular e é especialmente importante para o jornalismo, que, até hoje, se orgulha de ter derrubado um presidente norte-americano.

Um verdadeiro esquema hollywoodiano de espionagem sob a administração de Obama

O caso Watergate foi tão marcante para a política e para o jornalismo que, quase sempre, quando um novo escândalo surge, sobretudo se ligado a uma longa investigação, adiciona-se o sufixo “Gate”. Mesmo sendo um recurso repetitivo, não deixa de ser revelador do espírito de muitos políticos e jornalistas de terem um novo Watergate para chamar de seu.


Se o jornalismo norte-americano quer um Watergate do século 21, depois das constrangedoras tentativas de criar escândalos envolvendo Donald Trump e a Rússia e um impeachment vazio, aparentemente o momento chegou: são fortes os indícios de que Barack Obama pode ter mandado o FBI espionar o atual presidente ainda quando era apenas um candidato. No entanto, a verdade é que grande parte da imprensa norte-americana, ou assessoria do Partido Democrata, como queiram, tenta a todo custo empurrar para debaixo do tapete o escândalo que contém requintes de fazer a crise que interrompeu o mandato de Richard Nixon parecer brincadeira de criança.

O pano de fundo da descoberta de um esquema hollywoodiano de espionagem sob a administração de Obama foi a investigação sobre o suposto conluio entre Trump e a Rússia nas eleições presidenciais de 2016. Os números que mostram o tamanho do absurdo irresponsável promovido pela narrativa do Partido Democrata são impressionantes. Depois de dois intermináveis anos de investigações, 2.800 intimações, 500 testemunhas, 19 advogados (a maioria ligada ao Partido Democrata), 40 agentes do FBI, 50 autorizações de escutas telefônicas e 500 mandados de busca, não se chegou a nenhuma prova de que Donald Trump ou qualquer outro cidadão norte-americano tenha operado em conluio com os russos.

A CIA e o FBI foram utilizados na espionagem anti-Trump

Com as eleições presidenciais nos EUA marcadas para novembro deste ano, toda notícia ou opinião é explorada ao extremo, mas detalhes das investigações que mostram o antigo governo democrata usando não apenas o FBI mas também parte do sistema Judiciário norte-americano para espionagem não contam com o mesmo destaque que o horror que é Donald Trump não ter um animal de estimação até hoje. Os detalhes da operação, que estão no relatório oficial do Departamento de Justiça e que não rendem apenas um texto mas um roteiro cinematográfico, apontam como o Partido Democrata produziu dossiês falsos sobre o atual presidente dos Estados Unidos para, por meio de agentes do FBI e do governo, forçar juízes a expedir mandados especiais de vigilância.

Esta semana, mais uma peça foi adicionada ao quebra-cabeça. O ex-advogado do FBI Kevin Clinesmith declarou-se culpado da acusação de inserir uma informação falsa nos processos de requerimento de mandados especiais de vigilância. Clinesmith admitiu que adulterou um e-mail enviado ao Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira (Fisa). O documento foi utilizado para justificar a operação de vigilância contra Carter Page, ex-conselheiro de campanha de Trump, durante a investigação do FBI sobre a interferência russa nas eleições de 2016.

Clinesmith trabalhou por quatro anos como conselheiro-geral assistente no Departamento de Segurança Nacional e Lei Cibernética do FBI. Em dezembro de 2019, o inspetor-geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, concluiu que Clinesmith alterou um e-mail de alta sensibilidade da CIA no quarto pedido ao tribunal de mandados especiais para vigiar Carter Page em 2017.

O caso é a primeira acusação criminal decorrente da investigação em andamento pelo procurador John Durham, de Connecticut, sobre as origens da investigação na Rússia. Em 2019, o procurador-geral William Barr encarregou Durham de revisar a forma como o FBI lidou com sua investigação sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016.

Os céticos e militantes ainda preferem insistir que o governo Obama não tinha motivos para se envolver em abusos de autoridade

Mas você não lerá nada sobre esse escândalo nas páginas dos jornais ou sites de notícias da grande mídia. Embora alguns continuem tentando empurrar a falsa narrativa de que todo o esquema não passa de uma grande teoria conspiratória da direita norte-americana, jornais alinhados com o Partido Democrata, como The New York Times e The Washington Post, já não conseguem esconder o caso.

Os céticos e militantes ainda preferem insistir que o governo Obama não tinha motivos para se envolver em abusos de autoridade porque os democratas davam como certa a vitória nas eleições em 2016, já que as pesquisas mostravam grande vantagem de Hillary Clinton na corrida pela Casa Branca. Richard Nixon venceu em 49 Estados em 1972. Seus comparsas não precisavam invadir os escritórios do Partido Democrata para espionar o que lá se fazia. Mas, como observaram os agentes do FBI envolvidos no caso na época, os espiões de então queriam uma “apólice de seguro” se o impensável acontecesse.

Em 2016, o impensável aconteceu para os democratas. Não sabemos onde esse escândalo vai parar, mas não é preciso ser um teórico da conspiração para entender o que estará na mesa na eleição de novembro quando os Estados Unidos escolherão seu presidente. Em jogo, muito mais do que apenas a cadeira de homem mais poderoso do mundo. Para não ganhar um tíquete de entrada no rol de criminosos e possivelmente na cadeia, muita gente agora depende da saída de Donald Trump da Casa Branca.

Título e Texto: Ana Paula Henkel, Revista Oeste, 21-8-2020

Um comentário:

  1. “Não conheço um só membro das nossas elites que não tenha opiniões sobre a política norte-americana. A base dessas opiniões é o que leem nos jornais e veem na TV. Acontece que o instrumento básico do debate político nos EUA é o livro, não o artigo do jornal, o comentário televisivo ou a entrevista de rádio.

    Não há aqui uma só ideia ou proposta política que, antes de chegar aos meios de comunicação de massas, não tenha se formalizado em livro, demarcando as fronteiras do debate que, nessas condições, é sempre pertinente e claro. Também não há um só desses livros que, em prazo verbo, não seja respondido por outros livros, condensando e ao mesmo tempo aprofundando a discussão em vez de limitá-la às reações superficiais do primeiro momento.

    Ora, esses livros nunca são traduzidos ou lidos no Brasil. Se alguém os lê, deve mantê-los em segredo, pois nunca os vejo mencionados na nossa mídia, seja pelos comentaristas usuais ou pelos acadêmicos iluminados que os chefes de redação tomam como seus gurus. Resultado, a elite que confia nos canais jornalísticos como sua fonte básica de informação acaba sendo sistematicamente enganada.

    Não só forma opiniões erradas sobre o quadro internacional, mas, com base nelas, diagnostica erradamente a situação local e toma decisões estratégicas desastrosas, que só enfraquecem e a tornam dia a dia mais sujeita aos caprichos da quadrilha governante.

    Só para tornar o exemplo mais nítido: quem quer que tenha lido, além das autobiografias de Barack Obama, as investigações sobre sua vida pregressa feitas por Jerome Corsi, Brad O’Leary e Webster Griffin Tarpley (antiobamistas por motivos heterogêneos e incompatíveis) sabia de antemão que, se eleito, ele usaria o prestígio da própria nação americana para dar respaldo ao antiamericanismo radical dentro e fora dos EUA; que, no Oriente Médio, isso significaria sonegar apoio a Israel e aceitar pacificamente o Irã como potência nuclear; na América Latina, elevar Hugo Chávez, as FARC e o Foro de São Paulo ao estatuto de árbitros supremos da política continental.

    Como no Brasil ninguém leu nada disso, o que se impregnou na mente do público foi a visão de Obama como um progressista moderado, algo como um novo John F. Kennedy ou Martin Luther King.

    Nos EUA, com a ajuda da grande mídia cúmplice, Obama enganou metade do eleitorado. No Brasil, enganou a opinião pública inteira.

    Agora, só resta aos ludibriados atenuar retroativamente o vexame do engano mediante um novo engano, persuadindo-se de que, se até o governo americano apoia Hugo Chávez *, é porque ele não é tão perigoso quanto parecia…”

    Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 27 de julho de 2009, in “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, páginas 73 e 74.

    * Hugo Chávez, que por catorze anos governou a Venezuela, morreu em 5 de março de 2013, em decorrência de um câncer.

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