quarta-feira, 11 de abril de 2012

País dos horrores


Peter Rosenfeld
Lendo jornais e revistas brasileiros e assistindo aos noticiários nas televisões, qualquer cidadão de bem deste País deve ficar apavorado.
Só pode ter a impressão ou, mais que impressão, a certeza de que tudo no Brasil se faz e se consegue com o auxílio da corrupção.
Corrupção geralmente envolvendo somas consideráveis, com as quais poderia se tornar um País realmente importante e bem servido de tudo: hospitais e postos de saúde, escolas, estradas, portos e aeroportos, enfim, tudo aquilo que se tornou corriqueiro nos dias de hoje.
E todas as obras necessárias para isso seriam bem construídas, bem acabadas, limpas e decentes, ao contrário do que vemos atualmente.
É verdade que o Brasil é um continente, compreendendo uma área territorial que o coloca entre os maiores (em tamanho) do mundo.
Tem uma população que, igualmente, é uma das maiores da terra.
Está virtualmente livre das enormes dificuldades que a natureza impõe aos seres humanos em muitos lugares: terremotos, nevascas, tsunamis e sei lá mais o quê!
Tem fartura de água e de sol.
Com toda a água que temos, regiões grandes, principalmente no Nordeste (mas também no Sul), sofrem agudamente sua falta!
O conhecido conto que diz que quando Deus criou a terra e no Brasil não havia nada de ruim, um anjo lhe havia perguntado por que esse cuidado com o País, ao que Deus lhe teria respondido: “espere só para ver a gentinha que colocarei lá”, tem todo o jeito de ser verdadeiro.
É triste constatar, mas nenhum brasileiro já ganhou um prêmio Nobel, apesar de termos tido um Santos Dumont que foi o primeiro a fazer uma máquina de voar (apesar de os americanos reivindicarem – sem razão, esse feito para os irmãos Wright).
Tivemos e temos cientistas excepcionais, seja na área de saúde, na área de física e química, matemática; arquitetos e engenheiros de primeiríssima categoria, médicos de renome mundial (a revista Veja que está circulando esta semana, edição 2.264, reporta o primeiro transplante multivisceral (transplante de vários órgãos em uma única operação), comandada por dois médicos (Drs. Ferraz Neto e Sergio Meira), com duração de dezesseis horas!!
Em outras palavras temos, sim, gente excepcionalmente boa, competente e trabalhadora.
Mas, e sempre há um mas, na mesma edição dessa revista temos figuras tristes (moralmente) de um Carlinhos Cachoeira com seu senador Demóstenes Torres, Renan Calheiros, José Sarney e família, Romero Jucá, Moreira Franco, Valdemar da Costa Neto e milhares, sim, milhares de outros que infelicitam o Brasil há anos, alguns há décadas, mas são as vestais intocáveis.
Que a política não seja uma reunião de anjos é mais do que natural! Mas que os políticos brasileiros, com poucas exceções, sejam esse ajuntamento de gente do mal, que primeiro e antes de tudo pensa em si mesmo e como tirar o melhor proveito pessoal das situações e, talvez depois, pensa em como fazer para ajudar outros e, finalmente e em último lugar, cumprir seu dever e trabalhar pelo País, isso é muito triste, deprimente mesmo!
Venho acompanhando a política brasileira há uns tantos decênios, e fico verdadeiramente triste, quase deprimido, ao constatar a contínua deterioração moral da classe política.
Isso ocorreu em todo o Brasil. Quando jovem, morava no Rio Grande do Sul e, muitas vezes, fui à Assembléia Legislativa do Estado para assistir aos debates que eram travados por homens de bem, cultos, alguns grandes oradores.
Aos 19 anos, mudei-me para trabalhar no Rio de Janeiro. Não frequentei a Assembleia Legislativa, mas acompanhava as atividades pelos jornais. Havia alguns deputados excepcionais, intelectual e moralmente.
Atualmente, é o desastre que todos conhecemos!
No Rio, em três oportunidades distintas, morei mais de 40 anos; em Porto Alegre, quase outro tanto. Em outras cidades, os restantes para completar minha idade atual.
Em termos de “gente”, só posso estar muito decepcionado e triste pela degringolada moral ocorrida em nosso País.
Isso porque, como designei o presente, o Brasil se tornou um país de horrores em termos morais. Claro que ainda há muitas pessoas sérias, honestas, que se preocupam em fazer bem à coletividade.
Mas não é a maioria; entre aqueles que, de uma forma ou de outra, comandam a vida (a nossa própria e a dos demais brasileiros) há pouquíssimos!
A maioria pensa primeiro em si mesma, em como tirar proveito pessoal (sob o aspecto material e, de passagem, pelo resto)!
Os José Dirceus e Carlos Cachoeiras da vida estão aí para comprovar o que digo!
Fico a pensar como os meus netos (e os dois bisnetos que alegram minha vida) sobreviverão nesse país dos horrores.
Será que chegarão a conhecer um Brasil decente, em que os maus, ruins, serão minoria, devidamente castigada vivendo em prisões?
Será que conhecerão um Brasil que não seja o do futuro, como escreveu o austríaco Stefan Zweig no final da década de 30 do século passado, mas o do presente, de que os brasileiros poderão se orgulhar?
Deixo esses pensamentos com meus leitores, fazendo votos de que não sejam tão pessimistas como estou!
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 11 de abril de 2012
Edição: JP

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