Rodrigo Constantino
Prezado ministro Guido
Mantega, ilustríssima presidenta Dilma.
Eu represento a ONG Besta
(Brasileiros Excluídos dos Subsídios, Tetas e Afins). Somos pessoas comuns, sem
lobby em Brasília. Entre nós não há um único político. Tampouco contamos com
invasores de terras, ex-terroristas comunistas, grandes empresários blindados
pelo protecionismo ou algum outro grupo agraciado pelas benesses estatais.
Por isso a vida tem sido tão
difícil para nós. Dependemos apenas de nosso trabalho mesmo. E, convenhamos, o
ambiente institucional no Brasil não é dos melhores para quem não desfruta de
influência no governo. Os obstáculos são desafiadores demais.
A carga tributária é
escandinava, com serviços públicos africanos. A burocracia é asfixiante, as
leis trabalhistas são obsoletas, e a mão de obra é desqualificada. A
infraestrutura é caótica, e a justiça é lenta demais. Por fim, o alto custo do
capital acaba impedindo a sobrevida de muitas empresas.
É sobre este último ponto que
gostaria de falar. Sabemos como é difícil atacar os gargalos. O governo teria
que reduzir seus gastos, e muitos perderiam suas mamatas. Reformas dolorosas
teriam de ser encaminhadas ao Congresso, dificultando a “governabilidade”, ou
seja, a divisão do butim pelos políticos e seus comparsas. Resta mexer na taxa
de juros!
Economistas podem afirmar que
o custo do capital no capitalismo deveria ser definido pelo próprio mercado.
Eles podem argumentar que, se o custo ficar artificialmente baixo, vai ter mais
inflação à frente. Mas quem liga para isso? Basta o governo decretar uma
redução dos juros e a inconveniente lei econômica estará revogada. Cria-se
riqueza com uma simples canetada do governo.
Não foi isso que fizeram nos
EUA? Após a crise do setor de tecnologia, o banco central americano jogou a
taxa de juros para 1%, e assim a segurou por longo período. Paul Krugman
aplaudia, demandando uma bolha imobiliária para curar o estouro da bolha do
Nasdaq. Os liberais vão dizer que isso foi justamente o que aconteceu, mas que
seus efeitos foram terríveis, como vimos em 2008. Mas ninguém pode negar que a
farra foi divertida enquanto durou. E, se depender do Bernanke, vem mais por
aí.
Voltando ao Brasil, temos uma
taxa de juros elevada demais. Entre as causas, temos altos tributos,
compulsório elevado, pouca oferta de poupança doméstica, concorrência reduzida
por excesso de regulação e insegurança jurídica no arresto de bens dos inadimplentes.
Mas nós sabemos que a ganância dos banqueiros é o verdadeiro vilão. É verdade
que bancos estrangeiros também atuam no país e cobram mais pelos empréstimos
aqui. Mas é que eles ficam mais gananciosos ao atravessarem a fronteira (deve
ser o clima).
Para aumentar a oferta de
poupança no país e reduzir os juros, o governo teria que gastar menos. Voltamos
ao problema anterior. É muito mais fácil disponibilizar mais crédito através
dos bancos públicos, mesmo sem lastro em poupança efetiva. Os economistas
diriam que isso é inflacionário, mas é pura paranóia. A Argentina está aí para
comprovar.
O problema não é o crédito
público crescente, como no caso do BNDES, que já teve aporte de quase R$ 300
bilhões do governo petista para emprestar aos grandes grupos com taxas
subsidiadas. O problema é esta moleza não ser estendida a todos! Nós também
queremos pagar juros menores que a inflação em nossos empréstimos. Se a farinha
é pouca, então basta imprimir mais, ora!
Por isso a Besta aplaude as
medidas recentes do governo, de reduzir na marra a taxa de juros dos bancos
públicos. O BB e a Caixa são ou não estatais? Esse papo de autonomia e gestão
responsável é coisa de economista chato. A presidenta Dilma mostrou quem manda,
impondo uma queda drástica nas taxas desses bancos. Marx defendia o monopólio
estatal no crédito como caminho para o socialismo. Não estamos lá ainda, mas
com 40% do setor nas mãos do governo, a trajetória é clara.
Alguns economistas questionam
porque a redução dos juros não foi feita antes se não há riscos inflacionários,
como garante o governo. Ora, a resposta é simples: porque faltava “vontade
política”. Este é um governo com coragem, ao contrário dos demais. Este é o
tipo de governo que revogaria até a lei da gravidade para impedir a queda de um
avião!
Mas a Besta considera que a
medida foi tímida. O governo tem que acabar com a usura e a agiotagem, e impor
logo juro zero para todos. Crédito infinito e sem custo: eis uma bandeira
realmente popular. Alice, personagem de Lewis Carroll, aprovaria. Nós da Besta
também. Queremos juro zero!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, 18-04-2012
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