Cesar Maia
1. Lá se vão 100 anos em que a propaganda passou a ser um
instrumento político fundamental, seja para ganhar eleições, seja para os
governos conquistarem apoio, seja para os políticos projetarem suas legítimas
ambições de ascensão. Nesses 100 anos, uma máxima afirmou-se como sabedoria
desse processo e passou a pautar os profissionais da propaganda política.
2. “Se é verdade que não há um bom governo sem uma boa propaganda,
também não há uma boa propaganda sem um bom governo”. Os governos podem ser
objetivamente bons, mas se não conseguem comunicar adequadamente o que têm
feito pela população, podem ter uma opinião pública desfavorável. Mas nos
últimos 50 anos, a massificação pela TV, a especialização dos publicitários em
campanhas eleitorais, divulgação dos governos e comunicação da oposição, surgiu
o apogeu do chamado marketing político.
3. A sofisticação crescente das técnicas usadas no marketing
político produziu um grave equívoco, querendo contrariar a máxima básica entre
bom governo e boa propaganda. Os (chamados) marqueteiros foram convencendo os
políticos que bastava uma boa propaganda para que as imagens dos políticos e
dos governos junto à opinião pública fossem construídas independentemente das
ações e dos fatos efetivos.
4. Ou seja, que através do marketing político se poderia construir
a opinião das pessoas, descolada da realidade dos governos. Os governos
passaram a derramar bilhões em propaganda para tornar a avaliação de seus
governos descolada das performances dos mesmos e dos interesses da
população.
5. A contratação de um publicitário de grande qualidade, Duda
Mendonça, pelo PT na eleição presidencial de 2002, produziu essa ilusão de
ótica para o PT e Lula. Com o mensalão e o afastamento de Duda Mendonça, seu
parceiro João Santana veio a substituí-lo e constituiu-se a fórmula do governo
imbatível: uso ilimitado de dinheiro e uso ilimitado da propaganda. E
exportou-se para seus aliados na América Latina.
6. Essa fórmula está na raiz do mensalão e do petrolão: os meios
publicitários e financeiros justificam os fins – permanecer indefinidamente no
poder. Essa fórmula gerou uma espiral de necessidades e para abastecê-las,
dinheiro extraído dos fornecedores do governo, e compensado por sobrepreço.
7. O uso dessa fórmula pode até prorrogar a vida útil de um governo
reduzindo a percepção pelas pessoas dos erros e da mediocridade. Mas há um
limite, quando o fracasso governamental se espalha e passa a ser percebido pela
população diretamente, pelos trabalhadores, empresários, profissionais, etc.,
atingidos pelo desastre governamental. A tentativa de insistir na fórmula
propaganda e corrupção para continuar governando se exaure e volta por cima do
governo como uma erupção vulcânica.
8. Manter o poder cada vez mais e -até exclusivamente- via
propaganda e corrupção tem um alto preço. É um equívoco imaginar que quando da
implosão do governo haverá seu tempo para a alternância no poder. Vide Itália e
Mãos Limpas: projeta-se para um prazo muito, muito longo. Se é que tem volta.
9. Aqui na América do Sul vivemos uma conjuntura que demonstra
cabalmente essa situação: Brasil e Venezuela são irmãos gêmeos no fracasso, no
abuso da propaganda e nos desvios de recursos públicos.
Título e Texto: Cesar Maia, 14-3-2016
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