Cesar Maia
1. No início de 1990, quando desenvolvia sua pré-candidatura a
governador, Cesar Maia foi contatado por um intelectual e político, que pediu
que ele não forçasse sua candidatura e que houvesse uma concentração de forças
em torno de Brizola. E que isto era fundamental para a estabilidade política
futura com Collor presidente. Ele prestou atenção e foi conversar com alguns
políticos sêniores e politólogos a respeito das razões relacionadas com a
estabilidade política e a avaliação feita.
2. Era a teoria do Triângulo das Bermudas na política brasileira.
Os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo formam este triângulo,
decisivo para a definição da política brasileira, especialmente em momentos
críticos. Mesmo que não se consiga formar este triângulo com três políticos de
dimensão nacional, é fundamental que pelo menos um o seja. De outra forma, o
barco da política brasileira flutuará ao sabor das ondas do momento. E
dependerá apenas da capacidade e abrangência do Presidente da República.
3. Até a revolução de 1930 e entre 1946 e 1960, o Rio enquanto
Distrito Federal dependia da força de seus parlamentares e, eventualmente, pela
importância e autonomia do prefeito. Foi o caso único de prefeito, de Pedro
Ernesto (preso por Getúlio), que seria decisivo na eleição presidencial de
1938, abortada pelo Estado Novo, e de parlamentar de Carlos Lacerda. A política
brasileira oscilou entre Minas Gerais e São Paulo, o que denominou-se política
do Café com Leite. A própria revolução de 1930 só ocorreu por causa da
intervenção de Minas Gerais e seu governador Antônio Carlos de Andrada.
4. A partir de 1960 isto vai ficando mais claro, com a criação do
Estado da Guanabara. O golpe militar de 1964 não teria ocorrido sem o Triângulo
das Bermudas: Guanabara, Minas Gerais e São Paulo, ou seja, Carlos Lacerda,
Magalhães Pinto e Ademar de Barros dando sustentação. O processo de
redemocratização viabilizou-se com o Triângulo das Bermudas: Rio, Minas e S.
Paulo, liderado por Brizola, Tancredo Neves e Franco Montoro, a partir de 1983.
5. A reversão desse quadro se dá com o Triângulo das Bermudas
enfraquecido com Moreira Franco, Newton Cardoso e Orestes Quércia, abrindo um
vácuo para a ascensão de Collor. Em 1990, com as políticas de Minas e São Paulo
que ficariam enfraquecidas sob as lideranças de Helio Garcia e Fleury, era
–naquele raciocínio inicial – fundamental eleger Brizola para dar peso político
em pelo menos um vértice do Triângulo das Bermudas.
6. Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994, o Triângulo
das Bermudas estava apagado – e aderente – na eleição de seus parceiros do PSDB
(Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Marcelo Alencar). Mas em 1998, dois dos
vértices do triângulo foram perdidos com a eleição de Itamar Franco em Minas e
Garotinho no Rio, apoiado por Brizola. Voltou o Triângulo das Bermudas de dois
vértices; formou-se uma aliança entre os governadores Olivio Dutra (Rio Grande
do Sul), Itamar Franco (Minas Gerais) e Garotinho (Rio de Janeiro). Fernando Henrique
enfraqueceu o triângulo atraindo Garotinho com um empréstimo fortemente
subsidiado em base aos royalties – de US$ 9 bilhões.
7. Com Lula e Dilma, o Triângulo das Bermudas foi desenergizado,
com os mandatos parciais de Alckmim – Lembo e de Serra – Goldman em São Paulo,
Anastasia em Minas Gerais e o amigo Cabral no Rio.
8. Neste momento atual, crítico, com a economia brasileira
afundando e discutindo-se o impeachment de Dilma, o Triângulo das Bermudas está
desmontado: Pimentel, amigo de Dilma em Minas Gerais; Pezão, amigo de Dilma no
Rio de Janeiro; e o perfil conciliador de Alckmin em São Paulo. O barco se move
ao sabor das ondas. Um eventual temporal político o fará afundar.
9. Neste sentido, as eleições de 2018, para cumprirem suas
necessárias dimensões políticas, deverão ir além do foco presidencial e
necessitarão remontar o Triângulo das Bermudas, com três novos governadores de
peso político intrínseco e nacional em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em São
Paulo. Pelo menos dois. Portanto, a dinâmica 2016-2018 é bem mais complexa do
que apenas a destituição e/ou eleição de outro presidente.
Título e Texto: Cesar Maia, 10-3-2016
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