sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

[Para que servem as borboletas?] A angústia da morte

Valdemar Habitzreuter

Como encarar a angústia de saber que vamos morrer? O que ela pode nos ensinar? Muito... Mas queremos ficar longe desse tema porque mais nos interessa a vida. Ninguém quer saber de morrer. E por conta disso tentamos afugentar os pensamentos sobre a morte e, mais ainda, fugir do sentimento angustioso de que um dia vamos ser abraçados por ela. É... ela se insinua como nossa amante! Aposto que muitos de vocês já estão desistindo de ler este post... pensar na morte assusta.

Evitamos pensar na morte. Pensamento esse que nos angustia. Queremos tão somente saber da vida, pensar no melhor modo de viver. Mas a angústia da morte pode nos ser útil para a vida quando nos detemos no pensamento sobre a morte. Não há por onde escapar: a morte é certa. Vemos outros morrerem e não sabemos que experiência eles têm dela. Cada qual terá sua própria experiência no ato de morrer. Pensar na morte nos angustia, preferimos pensar na vida e espantamos o pensamento da morte e, no fundo, achamos que não seremos atingidos por ela.

A experiência nos mostra que sempre nos angustiamos quando as coisas boas da vida também vêm semeadas de espinhos. A angústia é nossa companheira de vida. Não nos damos conta que o sonho da bela vida não pode ser sempre tão bela quanto esperamos. Há coisas e fatos que a perturbam. O mar de rosas também tem seus espinhos. Admitir isso é meio caminho andado para compreender a existência. Existir não é coisa fácil. Devemos nos perguntar pela maneira mais significativa de viver. E essa pergunta passa pela avaliação da angústia da morte, o que nos leva ao questionamento se levo uma vida autêntica ou inautêntica.

Geralmente nos ufanamos de que levamos uma vida autêntica porque vivemos conforme manda o figurino ditado pela conveniência social. Estamos num mundo rodeado de coisas e pessoas onde prevalece a satisfação de se sentir adaptado ao que se convenciona ser o modo feliz de se viver. As coisas bem ordenadas à nossa disposição é o que importa para se ter uma vida agradável. Ver pessoas de sucessos são exemplos de vida que queremos imitar. Estamos sempre observando como se vive ao nosso redor. Estamos à espreita do que nos pode proporcionar uma existência tranquila e aprazível.

Em cima disso trabalhamos e nos movimentamos em nossa existência. Fazemos projetos. Temos várias possibilidades de nos realizar. Posso ser médico. Engenheiro. Professor... Tantos outros projetos que posso realizar ou não. Portanto, há muitas possibilidades de nos promover na vida. Tudo depende do esforço e dedicação de cada um para realizar o que se pretende. E assim levamos a vida que passa, cheia de planos.

A única coisa que, inadvertidamente, não nos damos conta é duma possibilidade que, incontestavelmente, terá que se realizar e vai se realizar como projeto existencial: a morte. A cada instante somos projetados para a morte e a vida vai se encurtando. É o projeto infalível de nossa existência. A morte impossibilita qualquer outro projeto quando ela se apresenta e se concretiza. É a impossibilidade de todas as possibilidades que ainda possamos alimentar.

E o que deduzir disso? Perscrutemos o que a angústia da morte nos tem a dizer. É dela que precisamos nos aproveitar para repensar a vida. Todos os nossos projetos nesta existência estão coadunados com a nossa finitude, com a morte. Pensar a vida passa pelo pensamento da morte. Quando a angústia da morte nos assalta é sinal de que queremos, no fundo, saber o que melhor nos convém na vida, quais os projetos que realizam o ser.

A morte é o projeto existencial capital que nos conclama para a vida autêntica. Mas só se vislumbrarmos o ensinamento que se esconde por detrás da sombra dela, o que ela nos tem a anunciar. A morte pode ser o acontecimento mais precioso do ser humano se a vida sempre a tem como companheira, a nos mostrar o que é essencial durante nossa existência: ser.

O que achamos ser uma vida plena e feliz, muitas vezes é puro engano. Contentamo-nos com superficialidades. Giramos em torno do faz de conta em que tudo é visto numa perspectiva impessoal, sem contornos próprios de autenticidade pessoal. A vida que achamos boa é aquela vida corriqueira e comum na qual todo mundo se encontra com muito falatório, conivência e convivência social, no diz-que-diz-que de assuntos vãos e sem compromissos pessoais obrigando a que nosso ser real, fundamento da vida autêntica, seja esquecido e desprezado. Daí a nossa vã e superficial passagem pela existência e que nos leva a temer a morte.

Muitos talvez já experimentaram a sombra da morte e foram assaltados pela angústia de um fim iminente, ou uma doença grave com perspectiva de morte em que tais experiências serviram para o despertamento para uma nova vida, de encarara-la de outra perspectiva, valorizando o essencial e não o agito superficial do simples viver.

Nossa existência só faz sentido quando descerramos o véu que encobre nosso ser próprio de estar aí existindo, escondido e esquecido por conta das ocupações que o tolhem para uma vida plena com sentido. A experiência de quase morte já fez muitos a repensar a vida e dar-lhe outro rumo, deram chance ao ser.

Não damos muita chance ao ser. O que mais nos interessa é o fascínio do mundo e suas atrações onde o ser perde sua importância ao dedicarmo-nos à superficialidade da vida, às voltas com a posse e manejo das coisas, inventando mil e uma técnica a nos dar facilidades e comodidade material. Enquanto nosso ser não nos pertencer, deixando-o no abismo do esquecimento, nosso périplo pela existência será enfadonho. A angústia da morte pode nos despertar para a vida autêntica quando fizermos a abertura ao acontecimento do ser.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 1-12-2017

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5 comentários:

  1. Justamente por causa desta angustia é que foram, desde os primórdios da humanidade , criadas todas as religiões.
    A não aceitação de um fim , devolvendo a matéria á natureza , para reciclagem , criou céus, reencarnações ,energia permanente ,ciclos de vida , juizo final , chamada dos mortos, etc...
    É tudo mais simples , voltamos como chuva ou adubo e alimento para seres vivos que fazem a "faxina" no universo reaproveitando parte de nós.
    É assustador , mas é a realidade do "Deus" , o resto é criação do ser humano ,e de seus medos!
    Os animais não sofrem deste mal!

    Paizote

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    1. PS; E eu sofro destes medos , porém sem lenitivo magico que as religiões oferecem aos simples.
      Paizote

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    2. Sempre tive a minha morte como uma irmã próxima que pode vir quando quiser, porém, não consigo conviver com a "morte" de entes queridos. Me entristece por demasia, saber que jamais tornarei a vê-los nessa vida.

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  2. Meus caros, apresento a síntese de um trabalho meu.
    Ninguém vive ou viverá de novo no passado, todos nós vivemos sempre no futuro, porque o presente é sempre indubitavelmente um lapso temporal.
    As consequências e responsabilidades, as ações e reações são sempre humanas.
    Se o tal Deus ajuda ou não, jamais haverá evidencias.
    Os projetos divinos, não podem ser conhecidos por nenhuma mente humana.
    Imaginar-se falando com deus é psicopatia ou esquizofrenia.
    O som e a luz precisam de matéria para serem vistos ou ouvidos.
    Suas intensidades variam conforme o meio em que circulam.
    Se não houvesse matéria(ar) o som não se propagaria, não seria ouvido.
    Se não houver matéria a luz nunca seria vista.
    Se não houvesse matéria nunca existiria o homem.
    Como disse Arquimedes, dá-me uma alavanca e um ponto de apoio e moverei a Terra de lugar.
    O homem acha que viajaria na velocidade do pensamento, mas sem três pontos conhecidos é impossível chegar-se a qualquer lugar.
    Muitos propagam a parábola dos talentos e suas inúmeras versões feitas por diversos seres pensantes fico com a "teoria da libertação":
    - Devemos agir com solidariedade frente as injustiças.
    O EFEITO MATEUS da parábola são paradoxos, seremos punidos por dizermos verdades, e ficaremos ricos disseminando mentiras e enchendo as burras dos religiosos.
    Estou condenado.
    Se eu pudesse falar com deus eu diria: CALA-te!
    - Não possuo ídolos, nem outros deuses, não tenho porque adorar-te ou bajular-te, o senhor que assim exige de seus servos, é egoísta, manipulador e ditador.
    Nós somos as essências, se usarmos nossas finalidades em torno do desconhecido, apenas para satisfazer o conhecimento, passamos a ser utilidades descartáveis.
    MORTOS não possuem RAZÃO.
    Somos parte do universo, somos suas crias, suas evoluções e seu alimento.
    Quando morremos a natureza agradece, é menos um a destruí-la.
    Quando nascemos certamente houve a troca indispensável.
    Quando evitamos a troca superpopulando a natureza, desaparece algumas coisas necessárias ao mundo natural.
    Água, florestas e a fauna diminuem, o lixo urbano e aeróbico aumentam
    Assim manipulamos o clima e culpamos as tecnologias e as energias.
    MORRER É A DÁDIVA, O PRESENTE DA NATUREZA, PARA ELA MESMA.
    FUI...

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  3. DEUS SEGUNDO ESPINOZA ( Deus monologando para você )

    "Pára de ficar rezando e batendo no peito!

    O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua

    vida.

    Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que

    Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e

    frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

    Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas

    praias.

    Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. Pára de me

    culpar da tua vida miserável:

    Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou

    que tua sexualidade fosse algo mau.

    O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu

    amor, teu êxtase, tua alegria.

    Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer. Pára de

    ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.

    Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus

    amigos, nos olhos de teu filhinho...

    Não me encontrarás em nenhum livro!

    Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu

    trabalho? Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te

    critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.

    Eu sou puro amor. Pára de me pedir perdão. Não há nada a

    perdoar.

    Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres,

    de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

    Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

    Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?

    Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos

    que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?

    Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de

    mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te

    manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

    Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.

    A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que

    teu estado de alerta seja teu guia.

    Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho,

    nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

    Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.

    Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos.

    Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva

    um registro.

    Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um

    inferno.

    Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar

    um conselho.

    Viva como se não o houvesse.

    Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de

    existir.

    Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te

    dei.

    E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste

    comportado ou não.

    Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais

    gostaste? O que aprendeste? Pára de crer em mim - crer é supor,

    adivinhar, imaginar.

    Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

    Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas

    tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no

    mar. Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas

    que Eu seja?

    Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

    Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas

    relações, do mundo.

    Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o

    jeito de me louvar. Pára de complicar as coisas e de repetir como

    papagaio o que te ensinaram sobre mim.

    A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este

    mundo está cheio de maravilhas.

    Para que precisas de mais milagres?

    Para que tantas explicações?

    Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti...

    aí é que estou."



    Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu:

    "Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na

    harmonia de tudo o que existe.-

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