Valdemar Habitzreuter
Como encarar a angústia de
saber que vamos morrer? O que ela pode nos ensinar? Muito... Mas queremos ficar
longe desse tema porque mais nos interessa a vida. Ninguém quer saber de
morrer. E por conta disso tentamos afugentar os pensamentos sobre a morte e,
mais ainda, fugir do sentimento angustioso de que um dia vamos ser abraçados
por ela. É... ela se insinua como nossa amante! Aposto que muitos de vocês já
estão desistindo de ler este post... pensar na morte assusta.
Evitamos pensar na morte.
Pensamento esse que nos angustia. Queremos tão somente saber da vida, pensar no
melhor modo de viver. Mas a angústia da morte pode nos ser útil para a vida
quando nos detemos no pensamento sobre a morte. Não há por onde escapar: a
morte é certa. Vemos outros morrerem e não sabemos que experiência eles têm
dela. Cada qual terá sua própria experiência no ato de morrer. Pensar na morte
nos angustia, preferimos pensar na vida e espantamos o pensamento da morte e,
no fundo, achamos que não seremos atingidos por ela.
A experiência nos mostra que
sempre nos angustiamos quando as coisas boas da vida também vêm semeadas de
espinhos. A angústia é nossa companheira de vida. Não nos damos conta que o
sonho da bela vida não pode ser sempre tão bela quanto esperamos. Há coisas e fatos
que a perturbam. O mar de rosas também tem seus espinhos. Admitir isso é meio
caminho andado para compreender a existência. Existir não é coisa fácil.
Devemos nos perguntar pela maneira mais significativa de viver. E essa pergunta
passa pela avaliação da angústia da morte, o que nos leva ao questionamento se
levo uma vida autêntica ou inautêntica.
Geralmente nos ufanamos de que
levamos uma vida autêntica porque vivemos conforme manda o figurino ditado pela
conveniência social. Estamos num mundo rodeado de coisas e pessoas onde
prevalece a satisfação de se sentir adaptado ao que se convenciona ser o modo
feliz de se viver. As coisas bem ordenadas à nossa disposição é o que importa
para se ter uma vida agradável. Ver pessoas de sucessos são exemplos de vida
que queremos imitar. Estamos sempre observando como se vive ao nosso redor.
Estamos à espreita do que nos pode proporcionar uma existência tranquila e
aprazível.
Em cima disso trabalhamos e
nos movimentamos em nossa existência. Fazemos projetos. Temos várias
possibilidades de nos realizar. Posso ser médico. Engenheiro. Professor...
Tantos outros projetos que posso realizar ou não. Portanto, há muitas
possibilidades de nos promover na vida. Tudo depende do esforço e dedicação de
cada um para realizar o que se pretende. E assim levamos a vida que passa,
cheia de planos.
A única coisa que,
inadvertidamente, não nos damos conta é duma possibilidade que,
incontestavelmente, terá que se realizar e vai se realizar como projeto
existencial: a morte. A cada instante somos projetados para a morte e a vida
vai se encurtando. É o projeto infalível de nossa existência. A morte
impossibilita qualquer outro projeto quando ela se apresenta e se concretiza. É
a impossibilidade de todas as possibilidades que ainda possamos alimentar.
E o que deduzir disso?
Perscrutemos o que a angústia da morte nos tem a dizer. É dela que precisamos
nos aproveitar para repensar a vida. Todos os nossos projetos nesta existência
estão coadunados com a nossa finitude, com a morte. Pensar a vida passa pelo
pensamento da morte. Quando a angústia da morte nos assalta é sinal de que
queremos, no fundo, saber o que melhor nos convém na vida, quais os projetos
que realizam o ser.
A morte é o projeto
existencial capital que nos conclama para a vida autêntica. Mas só se
vislumbrarmos o ensinamento que se esconde por detrás da sombra dela, o que ela
nos tem a anunciar. A morte pode ser o acontecimento mais precioso do ser
humano se a vida sempre a tem como companheira, a nos mostrar o que é essencial
durante nossa existência: ser.
O que achamos ser uma vida
plena e feliz, muitas vezes é puro engano. Contentamo-nos com
superficialidades. Giramos em torno do faz de conta em que tudo é visto numa
perspectiva impessoal, sem contornos próprios de autenticidade pessoal. A vida
que achamos boa é aquela vida corriqueira e comum na qual todo mundo se
encontra com muito falatório, conivência e convivência social, no
diz-que-diz-que de assuntos vãos e sem compromissos pessoais obrigando a que
nosso ser real, fundamento da vida autêntica, seja esquecido e desprezado. Daí
a nossa vã e superficial passagem pela existência e que nos leva a temer a
morte.
Muitos talvez já
experimentaram a sombra da morte e foram assaltados pela angústia de um fim
iminente, ou uma doença grave com perspectiva de morte em que tais experiências
serviram para o despertamento para uma nova vida, de encarara-la de outra
perspectiva, valorizando o essencial e não o agito superficial do simples
viver.
Nossa existência só faz
sentido quando descerramos o véu que encobre nosso ser próprio de estar aí
existindo, escondido e esquecido por conta das ocupações que o tolhem para uma
vida plena com sentido. A experiência de quase morte já fez muitos a repensar a
vida e dar-lhe outro rumo, deram chance ao ser.
Não damos muita chance ao ser.
O que mais nos interessa é o fascínio do mundo e suas atrações onde o ser perde
sua importância ao dedicarmo-nos à superficialidade da vida, às voltas com a
posse e manejo das coisas, inventando mil e uma técnica a nos dar facilidades e
comodidade material. Enquanto nosso ser não nos pertencer, deixando-o no abismo
do esquecimento, nosso périplo pela existência será enfadonho. A angústia da
morte pode nos despertar para a vida autêntica quando fizermos a abertura ao
acontecimento do ser.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 1-12-2017
Colunas anteriores:
Justamente por causa desta angustia é que foram, desde os primórdios da humanidade , criadas todas as religiões.
ResponderExcluirA não aceitação de um fim , devolvendo a matéria á natureza , para reciclagem , criou céus, reencarnações ,energia permanente ,ciclos de vida , juizo final , chamada dos mortos, etc...
É tudo mais simples , voltamos como chuva ou adubo e alimento para seres vivos que fazem a "faxina" no universo reaproveitando parte de nós.
É assustador , mas é a realidade do "Deus" , o resto é criação do ser humano ,e de seus medos!
Os animais não sofrem deste mal!
Paizote
PS; E eu sofro destes medos , porém sem lenitivo magico que as religiões oferecem aos simples.
ExcluirPaizote
Sempre tive a minha morte como uma irmã próxima que pode vir quando quiser, porém, não consigo conviver com a "morte" de entes queridos. Me entristece por demasia, saber que jamais tornarei a vê-los nessa vida.
ExcluirMeus caros, apresento a síntese de um trabalho meu.
ResponderExcluirNinguém vive ou viverá de novo no passado, todos nós vivemos sempre no futuro, porque o presente é sempre indubitavelmente um lapso temporal.
As consequências e responsabilidades, as ações e reações são sempre humanas.
Se o tal Deus ajuda ou não, jamais haverá evidencias.
Os projetos divinos, não podem ser conhecidos por nenhuma mente humana.
Imaginar-se falando com deus é psicopatia ou esquizofrenia.
O som e a luz precisam de matéria para serem vistos ou ouvidos.
Suas intensidades variam conforme o meio em que circulam.
Se não houvesse matéria(ar) o som não se propagaria, não seria ouvido.
Se não houver matéria a luz nunca seria vista.
Se não houvesse matéria nunca existiria o homem.
Como disse Arquimedes, dá-me uma alavanca e um ponto de apoio e moverei a Terra de lugar.
O homem acha que viajaria na velocidade do pensamento, mas sem três pontos conhecidos é impossível chegar-se a qualquer lugar.
Muitos propagam a parábola dos talentos e suas inúmeras versões feitas por diversos seres pensantes fico com a "teoria da libertação":
- Devemos agir com solidariedade frente as injustiças.
O EFEITO MATEUS da parábola são paradoxos, seremos punidos por dizermos verdades, e ficaremos ricos disseminando mentiras e enchendo as burras dos religiosos.
Estou condenado.
Se eu pudesse falar com deus eu diria: CALA-te!
- Não possuo ídolos, nem outros deuses, não tenho porque adorar-te ou bajular-te, o senhor que assim exige de seus servos, é egoísta, manipulador e ditador.
Nós somos as essências, se usarmos nossas finalidades em torno do desconhecido, apenas para satisfazer o conhecimento, passamos a ser utilidades descartáveis.
MORTOS não possuem RAZÃO.
Somos parte do universo, somos suas crias, suas evoluções e seu alimento.
Quando morremos a natureza agradece, é menos um a destruí-la.
Quando nascemos certamente houve a troca indispensável.
Quando evitamos a troca superpopulando a natureza, desaparece algumas coisas necessárias ao mundo natural.
Água, florestas e a fauna diminuem, o lixo urbano e aeróbico aumentam
Assim manipulamos o clima e culpamos as tecnologias e as energias.
MORRER É A DÁDIVA, O PRESENTE DA NATUREZA, PARA ELA MESMA.
FUI...
ResponderExcluirDEUS SEGUNDO ESPINOZA ( Deus monologando para você )
"Pára de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua
vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que
Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e
frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. Pára de me
culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou
que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu
amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer. Pára de
ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu
trabalho? Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te
critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou puro amor. Pára de me pedir perdão. Não há nada a
perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres,
de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos
que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de
mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te
manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que
teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho,
nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva
um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um
inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar
um conselho.
Viva como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de
existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te
dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais
gostaste? O que aprendeste? Pára de crer em mim - crer é supor,
adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no
mar. Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas
que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas
relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o
jeito de me louvar. Pára de complicar as coisas e de repetir como
papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este
mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti...
aí é que estou."
Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu:
"Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na
harmonia de tudo o que existe.-