Rui Ramos
O destino de Rui Rio não é ser oposição ao
governo, mas ao próprio PSD. Foi sempre assim quando, no passado, o PSD foi
posto na situação em que Rio o colocou, de subordinação ao PS.
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Foto: Filipe Amorim/Global Imagens |
Não deve uma política, como
alguém disse, ser julgada pelos resultados? Talvez, mas neste caso já temos
resultados suficientes. Em menos de uma semana, Rui Rio [foto] conseguiu que uma sua
vice-presidente fosse vaiada no congresso, e que o seu candidato a líder do
grupo parlamentar não fosse votado pela maioria dos deputados. Pelo meio, voltou a pôr Santana Lopes com dúvidas.
Não vale a pena distribuir
culpas. É mais importante registar o significado de tudo isto: o destino de Rui
Rio não é ser oposição ao governo, mas ao próprio PSD. E vai ser assim, porque
foi sempre assim quando, no passado, o PSD foi posto na situação em que Rio o
colocou, de subordinação ao PS. Não haverá paz.
As personalidades terão
certamente alguma parte em tudo isto. Mas seria um erro começar por aí. O que
está em causa é uma opção de fundo. Ao aproximar-se do PCP e do BE,
António Costa iria fatalmente provocar uma de duas coisas: ou fazia o PSD
explorar a bipolarização, e clamar, como diz Assunção Cristas, que a partir de
agora os portugueses têm de escolher entre dois blocos, e quem não quiser o PCP
e o BE na área do poder tem de eleger 116 deputados do PSD e do CDS; ou então,
o PSD seria tentado a entrar num jogo de equívocos com o PS.
O engano aqui seria presumir
que, só por a direção do PSD ter optado pelo jogo com o PS, haverá mais tranquilidade
(ou “normalidade”). Não: haverá menos. É verdade que PS, PSD e CDS têm em comum
a integração europeia. Sem isto, este regime seria impossível. Mas esses
grandes princípios não condenam os partidos à harmonia, na medida em que não
significa que só possa haver um tipo de soluções institucionais ou opções de
governação. Dir-me-ão: noutros países, os grandes partidos entendem-se para
governar. Sim, na Alemanha — onde, depois de anos de coligação, a CDU e o
SPD nunca estiveram tão divididos e valeram tão pouco. O mesmo,
aliás, aconteceu ao PSD e ao PS em 1985, após o Bloco Central. Por isso, por
mais interessados que estejam em extrair capital de uma “nova fase” de
consenso, nem PSD nem PS estão à vontade para se comprometer, com medo de
alienar dirigentes e eleitores.
O primeiro efeito do corrente
jogo será, portanto, uma grande cacofonia. Do lado do PS, por cada porta-voz
que saúde a disponibilidade do PSD para pactos, haverá outro porta-voz a dizer
que não haverá pactos nenhuns. Do lado do PSD, por cada dirigente que queira
transformar os debates com o primeiro-ministro em fraternais “sessões de trabalho”, haverá outro dirigente a clamar
que um “governo de esquerda” lhe “repugna”. Aliás,
curiosamente, nenhuma direção do PSD terá usado a palavra “esquerda” com tanto
nojo como a atual. Nada disto é inédito. Ninguém como Sousa Franco, em 1978, ou
Mota Pinto, entre 1983 e 1985, se mostrou tão impaciente e quezilento com o PS:
é quem tem expectativas que mais se zanga.
Mas então, como fazer as
“reformas”? Bem, para começar, as reformas são as reformas que só o PSD e o CDS
querem fazer. Porque haveria António Costa de lhes facilitar a vida? O PS já
explicou que só está interessado em “acordos” com os todos os partidos. Seria, portanto,
preciso imaginar soluções de que estivessem igualmente convencidos CDS, PSD,
PS, BE e PCP. Poderíamos, a esse respeito, assentar numa regra: fora de uma
emergência, tudo em que partidos tão diferentes concordarem tenderão a ser, ou
detalhes técnicos, ou manigâncias à custa dos contribuintes (como o financiamento partidário), à custa do equilíbrio dos poderes (como a governamentalização do Ministério Público), ou à custa
do Estado (como a feudalização agora conhecida por “descentralização”). Em suma, neste contexto, ninguém fará “reformas”,
e as que se fizerem – será melhor que não sejam feitas.
Título e Texto: Rui Ramos, Observador,
23-2-2018
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ResponderExcluirNa cabeça de Rui Rio, 2019 não tem grande história: o PS vence, o PSD fica em segundo. O objetivo é impedir que o PS chegue à maioria absoluta, concedendo ao PSD o privilégio único de ser uma espécie de Bloco de Direita
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