Cesar Maia
1. O debate público sobre o impeachment da presidente Dilma, no
calor da sua impopularidade e de uma clara maioria na Câmara de Deputados
liderada pelo presidente da casa, foi sendo arrefecido entre empresários e
economistas, com a interrogação: Michel Temer, com seu PMDB, será mesmo uma
alternativa? As respostas entre aqueles foram se tornando consensual: não vale
a pena o risco. Melhor deixar como está para ver como fica.
2. Nesse quadro, Dilma, mesmo se desgastando com Lula, com o PT e
com a CUT, reforçou o ministro Joaquim Levy. A presença garantida de Levy, por
Dilma, ajudava àquela resposta: Bem, pelo menos temos um dos nossos no governo
e a garantia de paz sindical. Nesse sentido, Lula passava a ser o agente maior
da desestabilização de Dilma ao desestabilizar Levy. Ingênuo ele não é. Pego em
flagrante, reuniu o PT e pediu silêncio a respeito.
3. De repente, dia 29 de outubro, o PMDB apresenta seu programa
alternativo: “Uma Ponte para o Futuro”. No palco, o vice-presidente Michel
Temer e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB.
4. O programa alternativo é a transcrição do que empresários e
economistas liberais vinham propondo para a economia brasileira: literalmente.
Os pontos: uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada,
volta ao regime de concessões no petróleo, liberdade comercial ignorando o
Mercosul, ampliar a idade mínima de aposentadoria, acabar com as vinculações
constitucionais incluindo educação e saúde, fim de todas as indexações,
incluindo benefícios previdenciários e salários, permitir que convenções
coletivas de trabalho prevaleçam sobre as normais legais, reduzir o número de
impostos, racionalizar (flexibilizar) os licenciamentos ambientais... E por aí
vai.
5. É claro que um programa como esse não tem a mínima chance de
tramitar no Congresso com Dilma na presidência, Lula, CUT e PT na garupa.
Haveria a necessidade de um governo novo, carregado de expectativas que, na
lógica de Maquiavel, assumiria e faria tudo isso de uma vez, num pacotão para
tramitar em regime de urgência, “carregado de esperança e legitimidade”. Não
foi assim que Collor fez?
6. Dessa forma, o real, verdadeiro e único objetivo da “Ponte” é
atravessar o rubicão da crise e da impopularidade de Dilma e alcançar o outro
lado do poder. Esse é o “Futuro” que leva a “Ponte”.
7. Com a confiança do empresariado e de economistas liberais,
exponenciado pela mídia que abraçou o programa do PMDB, é desmontado o
argumento que ruim com Dilma, pior com Temer. Sem a confiança de Lula, do PT e
da CUT, sem o lastro parlamentar do PMDB, o que restaria a Dilma? Ser tragada
pela crise? Aceitar pedir licença por razões de saúde? Ou ser atropelada por um
impeachment e ficar bradando contra o golpe?
8. O ‘Panorama visto’ da “Ponte” é que não haverá nenhuma pressa
para que as medidas de ‘ajuste fiscal’ caminhem em 2015. E que deixem que a
crise se aprofunde e asfixie Dilma, que teria deixado de ser solução.
Título e Texto: Cesar Maia, 3-11-2015
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