O
ainda primeiro-ministro está a ver bem quando se afasta de um governo de gestão
e coloca a responsabilidade no líder do PS para a formação do próximo
executivo. É uma leitura simples que só por ser nova demorou tanto tempo a ser
digerida.
João Marcelino
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Ilustração: Rui Ricardo |
Na entrevista à RTP, Passos
Coelho acabou de vez com a esperança daqueles que, na direita, acham que ele e
o PSD, mais Portas e o CDS, deveriam esgotar todos os argumentos para
suportarem uma eventual decisão do PR por um governo de gestão, ou outro da
mesma linha.
Não deve ser assim – e Cavaco
Silva deve tomar a devida nota da afirmação do ainda primeiro-ministro: “Cabe
ao PS apresentar uma solução de governo”.
A questão não está nas
motivações que levaram António Costa a rebentar com uma rotina antiga de
permitir a rotatividade ente PS e PSD, mesmo quando em minoria. Nem sequer no
facto, evidente, da coligação à esquerda ser muito frágil. Francisco Louçã
falou disso sem complexos (e também com o propósito político de colocar o ónus
dessa falha no PCP…). Quando uma coligação não se materializa em todas as suas
dimensões, não só de partilha de um governo como na assunção de um programa
comum e a prazo certo – e nem sequer é capaz tirar uma foto conjunta, quanto
mais tentar um entendimento a três! -, algo está mal, obviamente. Passos Coelho
assinalou todos esses dados do problema. Mas isso, percebeu-se também, são
questões que ele entende que devem ser geridas por essa maioria e, futuramente,
avaliadas pelo eleitorado.
Passos Coelho está a ver bem
quando, por isso, se afasta de um governo de gestão e coloca a responsabilidade
no líder do PS para a formação do próximo executivo. É uma leitura simples que
só por ser nova demorou tanto tempo a ser digerida.
Passos Coelho demarcou-se
também de Paulo Portas quando abordado sobre a eventualidade de, em algum dia
no futuro, o PS vir a necessitar do PSD para fazer passar medidas importantes
no que respeita aos compromissos europeus. É certo que afirmou que num caso
desses, em que o PS não encontrasse respaldo à esquerda, António Costa teria de
se demitir. Mas não disse, nunca, que esse apoio virá a faltar ao País. Um
político responsável não o pode sequer insinuar. Foi uma diferença em relação
ao que Portas deixara cair no Parlamento aquando da discussão do programa de
governo, e da sua rejeição pela maioria de esquerda.
O registo de Passos Coelho foi fiel ao que
se conhece dos últimos anos: frio, sereno, apontado ao futuro para além das
cortinas da sala
Outra “orientação” de Passos
Coelho teve a ver com as eleições presidenciais. Aos nervosos elementos da
direita que se têm declarado chocados com a posição (cautelosa) de Marcelo
Rebelo de Sousa sobre este processo de formação do novo executivo, o presidente
do PSD remeteu a análise ao apoio formal para dezembro, nos órgãos do partido.
Foi evidente que não subscreve a tese do aparecimento de algum talibã que diga
o que uma escassa minoria de outros talibãs gostaria de ouvir dizer. É certo
que também ele gostaria de ter outro candidato a Belém, como se viu na moção de
estratégia ao último congresso do PSD, mas Durão Barroso não passou nas
sondagens – e o povo é quem mais ordena.
O registo de Passos Coelho foi
fiel ao que se conhece dos últimos anos: frio, sereno, apontado ao futuro para
além das cortinas da sala. Ele sabe, sobretudo depois ver como o PCP obrigou o
PS a engolir o sapo histórico do 25 de novembro na Assembleia da República, que
aquela coligação tem tudo para correr mal. É só esperar pelo momento em que o
PS, de cujas convicções europeias ninguém de bom senso deverá duvidar, tiver de
fazer aprovar políticas de acordo com as metas comuns. Depois de um (pouco de)
tempo de alguma euforia, de estado de graça gerado pela aplicação de políticas
populares, a realidade acabará por se impor. E nesse dia a direita precisará de
contar com um líder que tenha, serenamente, previsto o inevitável. Foi isso
que, na RTP, Passos Coelho demonstrou saber, como poucos na sua área.
Título e Texto: João Marcelino, Ponto 3,
21-11-2015
Grande Entrevista Especial - Pedro Passos Coelho de 20 Nov 2015 - RTP Play - RTP
Assisti à entrevista. Temos Estadista!
ResponderExcluirSerenidade, sim. Segurança, também!
Sem ironias e sem um plasmado sorriso cínico que, nada mais, nada menos, serve para disfarçar a insegurança e a má-fé.