Luís Naves
No final de 1975, Portugal era
controlado pelo Conselho da Revolução, uma junta militar de onde tinham sido
afastados, em Março, todos os membros conservadores. Em Abril desse ano, nas
primeiras eleições livres, e contra as expectativas da esquerda revolucionária,
o país votara nos partidos burgueses, mas o conteúdo político da nova
Assembleia Constituinte não se reflectia nos governos provisórios que o
Conselho da Revolução nomeava. Sob o quinto governo provisório (radicalizado e
sem ministros do Partido Socialista, que vencera as eleições) a economia
portuguesa estava essencialmente nacionalizada e os revolucionários, usando
assembleias populares fáceis de controlar, tentavam apoderar-se das empresas,
do aparelho de estado e de todas as instituições civis, incluindo os órgãos de
comunicação. No início de Novembro, a Assembleia Constituinte foi cercada, numa
evidente humilhação dos deputados eleitos. O país enfrentava três cenários:
triunfava a democracia, havia guerra civil ou a revolução evoluía para um processo
soviético de tomada de poder.
O golpe militar de 25 de Novembro de 1975 permitiu o
triunfo da democracia, mas a elite que beneficiou do regime resultante tem hoje
vergonha do que aconteceu naquele dia. Ao pôr fim ao chamado “Verão Quente”, o
25 de Novembro representou o triunfo da facção militar democrática que mais
tarde devolveria o poder aos partidos que tinham vencido as primeiras eleições
livres e de sufrágio universal. Graças ao 25 de Novembro, Portugal teve uma
nova Constituição em 1976, curiosamente hoje defendida sobretudo pelos mesmos
partidos que procuraram destruí-la à nascença. Sem o 25 de Novembro, Portugal
não seria hoje uma democracia ou teria um regime com mais feridas por
cicatrizar. É por isso estranho ver agora os três antagonistas de ontem a
tentarem disfarçar as duas trincheiras de 1975: de um lado estava o PS, que
liderou com coragem a resistência à tomada de poder pelos radicais; do outro
lado, os comunistas e a extrema-esquerda, tentando apoderar-se de um país que
os rejeitava ou não compreendia.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 25-11-2015
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