Alberto Gonçalves
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A nossa sorte é que apenas uma
ínfima minoria dos muçulmanos decide castigar-nos à bomba ou à bala. O nosso
azar é a imensa quantidade de muçulmanos que, para dizer o mínimo, não se
incomodam demasiado com tão simpático passatempo. Na terça-feira, em Istambul,
durante um jogo de futebol entre a Turquia e a Grécia, o minuto de silêncio
pelas vítimas de Paris foi violado pelos gritos de "Alá é grande". No
mesmo dia, em Dublin, homenagem idêntica no Irlanda-Bósnia suscitou nos adeptos
"visitantes" um berreiro em louvor da Palestina. É estúpido recusar a
existência dos islâmicos moderados? É ainda mais estúpido acreditar
incondicionalmente no peso dessa moderação.
Há cerca de um ano, uma
sondagem apurava que perto de 40% dos muçulmanos franceses tinham opinião
positiva acerca do ISIS. Na Alemanha, 46% da população muçulmana manifestava
tendência similar. E no Reino Unido a percentagem subia para 54%. Contas por
alto, os três países citados "integram" pelo menos sete milhões de
pessoas que, em nome do Profeta ou do que calha perturbar as suas cabecinhas,
defendem o assassínio, a tortura, a decapitação, a violação, a escravatura e os
massacres em geral de "blasfemos" e "apóstatas". Para
cúmulo, note-se que as questões da sondagem estavam limitadas ao ISIS, logo
desconhece-se o apoio popular a colectividades recreativas como o Hezbollah, a
Al-Qaeda, o Hamas, o Boko Haram e etc.
Em primeiro lugar, estas
ligeirezas deviam enterrar em definitivo o mito do islão "moderado".
Não importa recuar quinze séculos e descobrir que não há passagem do Alcorão a
convocar matanças para concertos rock ou restaurantes: importa que uma parcela
suficiente dos seus seguidores actuais comete matanças assim, e que uma parcela
assustadora as ache legítimas. E que, salvo especialíssimos casos, os restantes
devotos primam pelo silêncio, fruto da indiferença ou do medo ou de razões de
que nem suspeitamos.
Depois, convém reparar que, ao
contrário do que consta, a ameaça não nos bate à porta: entrou na sala e
refastelou-se no sofá com à-vontade. Não é preciso ser grande estratega militar
para desconfiar que, perante o brutal crescimento das comunidades muçulmanas
neste lado de Bizâncio, bombardear alvos, por exemplo na Síria, não resolve tudo.
Mas reagir do modo frequentemente demonstrado nos últimos dias não resolve
nada.
Em Paris, perante as câmaras e
a multidão que cantava Imagine, uma das maiores aglomerações de banalidades,
cretinices e embaraços alguma vez musicados, um homem discutia os atentados com
o filho quase bebé. "São homens maus, papá", lamentava o pequeno.
"Sim, mas há homens maus em todo o lado", respondia o pai. "Eles
têm armas e podem disparar porque são muito maus", insistia o pequeno. "Não
há problema, eles têm armas mas nós temos flores", argumentava o pai.
"Mas as flores não fazem nada, servem para...", desesperava o
pequeno. "Claro que fazem", interrompia o pai, "olha toda a
gente a colocar flores ali: servem para combater as armas". "Servem
para nos proteger?", pasmava o pequeno. "Sim", triunfava o pai.
O nível da argumentação
vigente desceu a tal ponto que até uma criança o acha pateta. Com as melhores
ou as piores das intenções, as pessoas repetem clichés apalermados que, longe
de ajudarem a Europa a sair da situação em que caiu, dizem um bocadinho sobre a
apatia que a deixou aqui. E dizem imenso sobre a tresloucada cegueira que a
deixará sabe Deus, perdão, Alá onde.
De acordo com a cartilha
omnipresente, é proibido confundir os muçulmanos com o terrorismo. E é
obrigatório ignorar que são os muçulmanos, os "maus" e a vasta
maioria dos "bons", que respectivamente alimentam e toleram a
confusão. Tolhidos por acusações de "discriminação", sofremos em
silêncio (ou com cânticos de "paz" e patranhas ecuménicas) uma vaga
discriminatória talvez sem precedentes e sem remédio. Enquanto o islão não
cumprir a modernidade, o futuro da Europa, talvez do Ocidente, não promete.
Esperemos sentados. Ou agachados, para fintar as balas.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 22-11-2015
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