Nuno Rogeiro
Hão-de dizer-vos que o vosso
executor é, afinal, uma vítima.
Hão-de dizer-vos que a França
só teve "aquilo que merecia".
Hão-de trazer-vos a boa nova:
o "Ocidente" é o mal maior.
E hão-de afirmar que os que
defendem as liberdades civis, a dignidade das nações, e o valor da pessoa
humana são os principais culpados pelos massacres de inocentes.
Hão-de dizer-vos que se deve
responder à brutalidade continuada com a deserção, com o abandono, com a
cedência.
Hão-de proclamar, com todas as
letras, que devemos entregar os nossos filhos, os nossos cônjuges, os nossos
pais, ao carniceiro, em nome da "paz" e da "tolerância".
Hão-de mesmo dizer-vos que o
carrasco não deve ser tocado, porque será pior.
Hão-de tentar confundir-vos,
misturando "explicação e compreensão" do fenómeno terrorista com
minimização e até desculpa, ou atenuação, do mesmo.
Hão-de dizer-vos que um ataque
a bairros populares, multiculturais, alvos fáceis, de uma cidade também portuguesa,
é uma ofensiva contra a "grande burguesia" e o "grande
capital", cúmplices dos "cruzados".
Hão-de dizer-vos que o
problema é a "extrema direita". Ou os marcianos.
Hão-de dizer-vos que as
vítimas do terror não são, em grande medida, também muçulmanos.
Hão-de dizer-vos que o
terrorismo contra civis é a resposta "igualizadora" dos
"humilhados" e "não integrados".
Hão-de dizer-vos que o Dito
Estado Dito Islâmico é uma invenção.
Hão-de dizer-vos tudo isto.
E hão-de esperar que
acreditemos.
Mas esquecem-se da força
especial dos humildes.
E dos injuriados que decidem
abandonar o silêncio.
E dos cordeiros que resolvem
não tolerar mais os intolerantes.
E dos que se cansaram de
perder amigos, maridos, mulheres, filhos, pais e netos, devorados por este Baal
Moloch de perversão em nome da "pureza".
E dos que, calmamente, mas com
determinação, não vão dar mais um milímetro de caminho, de palavra, de acção,
aos imperadores do sangue.
E dos que, atacados, decidem
defender os mais fracos e os que não possuem voz nos media e nos parlamentos, mas que são o último reduto da nossa
humanidade.
Não passaram.
Não passarão.
Título e Texto: Nuno Rogeiro, revista Sábado, nº 603, 19 a 25 de novembro de 2015
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Está tudo muito certo, mas falta dizer quem dirá tudo isto.
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