João Bosco Leal
Tive um grande amigo, já
falecido, que sempre dizia: "Jamais faltará miséria ao miserável ou
fartura ao farturento".
Era um português com muito
pouca escolaridade, talvez com somente um ou dois anos do primário, mas com
enorme discernimento, com o qual levava a vida de modo extremamente correto,
justo. Ajudava muitas pessoas que o procuravam e, em seu julgamento, achava que
devia, mas também sabia falar verdades sobre os que, como dizia: "não
valiam o que comiam".
Assim também era minha avó
paterna. Também portuguesa e mulher de pouquíssimo estudo, era extremamente
inteligente e de pouquíssimas brincadeiras. Sempre falava sério, mas com
carinho, ensinando o que podia ensinar, e era muito, pois me ensinou muito do
pouco que sei.
Até sua morte falava coisas
que até hoje me fazem pensar como, durante sua vida, foi capaz de fazer tantas
observações que a permitiam resumir determinados comportamentos, que devíamos
ter ou não, em simples frases, ditados.
Considero espetacular a vida
dessas pessoas que conheci muito de perto e, entre elas, identifico uma clara
analogia: Apesar de serem de origem humilde, e de terem chegado ao Brasil sem
praticamente nada, trabalharam duro durante toda a vida e, com isso,
construíram um patrimônio suficiente para manter diversas de suas gerações.
Nunca vi nenhum dos dois
ostentar nada do que possuíam, mas nunca os vi com nenhum tipo de avareza,
muito pelo contrário, ajudavam muito e a muitos. Entretanto, nunca percebi
nenhum tipo de desperdício em nenhum dos dois. Nada era jogado fora,
desperdiçado.
Outro ponto em comum era como
nunca estavam reclamando de algo ruim, de uma doença, com eles ou com alguém da
família, uma perda - ainda que enorme, como a de um cônjuge, filho, neto -, um
prejuízo, nada, não havia reclamações. A vida continua e deve ser assim
encarada.
Aqueles acontecimentos fugiam
ao seu controle, eram as variáveis incontroláveis da vida, como o clima para o
agricultor. Precisavam continuar, pois outros permaneciam vivos e, quanto à
perda material, esta só poderia ser recuperada com mais trabalho.
Entretanto, vejo pessoas com
dificuldades para as menores coisas da vida. Estão gripadas, reclamam, deitam,
contam para todo mundo, fazem o maior drama, mas o que é realmente necessário -
se cuidar -, elas não fazem.
Caiu? Nem olhe para os lados.
Levante-se. Não espere que alguém venha lhe ajudar. Não se envergonhe ou fique
encabulado. Todos podem tropeçar e cair. Humilhante é ser incapaz de se
levantar sozinho, necessitar de ajuda por um simples tombo.
Pessoas com quedas muito
maiores - como a da perda de filhos, por exemplo -, levantam-se e continuam a
vida, pois sabem que ainda necessitarão ajudar os que ficaram.
Na cidade em que moro, conheço
um homem saudável, com cerca de 35 anos, que vive nos semáforos pedindo
esmolas. Ele possui um estreitamento enorme das arcadas dentárias, tanto
superior como inferior, que inclusive lhe dificulta a fala. Após haver
contribuído com ele por dezenas de vezes, um dia estacionei o carro e o chamei,
oferecendo-me para levá-lo a um cirurgião dentista que trata exatamente destes
casos, tendo dito a ele que o ajudaria para que fosse operado, mas ele
recusou-se imediatamente. Logo imaginei o motivo: curado, ele teria de
trabalhar como todos. Não poderia mais pedir esmolas.
Reclamar de uma situação e
não agir para repará-la é o mesmo que mostrar uma ferida e não tratá-la.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, jornalista, escritor e empresário, 27-11-2015
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