Jacinto Flecha
Uma das
manifestações disso é a insistência no neologismo afrodescendente, como se uma palavra nova pudesse criar uma realidade nova.
Antes de a esquerda
inventar artifícios racistas como esse, todos conviviam muito bem no nosso
País, sem preocupação com a cor da pele ou a origem no continente negro. Tanto
é assim que, numa música do meu tempo de criança, um famoso cantor negro
ufanava-se de viver num país sem preconceito racial:
Sou
preto sim, porém feliz
Porque tive a sorte de nascer neste País
Neste País onde não há preconceito
O homem que é direito
É senhor do seu nariz.
Lembro-me bem da música, pois refletia os sentimentos mútuos nas
relações da minha família com as dos colonos, em sua maioria afrodescendentes (avant
la lettre). Com eles, meus irmãos e eu passávamos momentos muito agradáveis
em peladas e outros brinquedos infantis. Depois que ingressei na Faculdade de
Medicina, prestei a uma dessas famílias um favor pelo qual me ficaram muito
agradecidos. Conseguindo a internação do chefe da família em um hospital
público, a recuperação da sua doença hepática foi completa. Ocorreu nessa
ocasião um fato pitoresco, com o qual ele depois divertia os amigos. Como não
se conhecia na nossa região a doença de Chagas nem o barbeiro (inseto que a
transmite), quando o médico perguntou se havia barbeiro onde ele morava,
respondeu ingenuamente:
— Tem, sim senhor. Conheço pelo menos dois…
Estou imaginando agora o que acharia esse saudoso amigo negro se alguém
o chamasse de afrodescendente. Não entenderia. E se algum
esquerdopata lhe desse a explicação, continuaria não entendendo. Talvez
imaginasse que alguém o acusou de algum crime, e já estaria pensando numas boas
chicotadas para o caluniador.
É insensato aplicar um qualificativo único a tantos graus de influência
da origem africana, como existem entre nós. Não é a mesma coisa ser
identificado como negro, crioulo, preto, moreno, mulato, cafuzo, caburé, pardo,
trigueiro, caboclo. Por isso mesmo, ninguém se sente confortável sendo lançado
numa panela única junto com uma multidão, cada um com a cor da pele diferente.
Por outro lado, nunca vi um pretinho manifestar-se ofendido ao ser chamado de
pretinho. Se um desconhecido precisasse dele para um recado, poderia chamar,
sem receio de estar ofendendo:
— Ei, pretinho, vem cá.
A palavra afrodescendente é apresentada como destinada
a não ofender o negro, moreno ou qualquer outro cuja cor da pele indique algum
grau de participação da raça negra. Bem ao contrário disso, desagrada muito aos
descendentes de negros alguém ressaltar essa qualidade que não precisa ser
lembrada. Eles não se manifestam, mas se você quiser criar um inimigo de pele
escura, comece a chamá-lo de afrodescendente. Se a ideia era combater o
racismo, o resultado será o oposto, pois a palavra é ofensiva, e na prática
funciona como demonstração de racismo. De moreninho a preto retinto, passando
por morenos e mulatos de várias tonalidades, ninguém gosta de ser lembrado a
toda hora de suas origens africanas, única utilidade desse neologismo
pernóstico. Os próprios interessados em divulgar essa ideia sabem disso. Quer
uma prova?
Os feriados são instituídos para homenagear alguém ou lembrar algum
fato histórico: Independência, Proclamação da República, Paixão de Cristo,
Imaculada Conceição, “São” Tiradentes, “São” carnaval, etc.
Qual o homenageado com o feriado “consciência negra”, infeliz ideia de
alguns esquerdistas? Para que serve isso? Parece até que estavam meio
“desligados” quando usaram nela o adjetivo negra, já que esta
palavra “racista” não deve ser usada. Terão esquecido isso, quando
identificaram o feriado com a palavra proibida? Ou será politicamente correto
chamar negro de negro, na denominação desse feriado? Se “afrodescendente” é uma
palavra bem aceita, por que não usaram consciência afrodescendente?
Como eu estou sempre procurando espetar uma flecha merecida em algum
esquerdista, pensei em promover num abaixo-assinado a mudança do nome para consciência
afrodescendente. Mas o melhor mesmo seria extinguir esse feriado
estapafúrdio nas cidades onde foi instituído. Pouquíssimas, felizmente. Neste
feriado de origem inqualificável, use você também seus meios de comunicação
para protestar contra essa excrescência comemorativa.
Se você é dos que embarcaram no uso desse injurioso afrodescendente, sugiro
reconsiderar o assunto. Coloque-se na posição de quem tem a pele um tanto
escura, e de repente começam a lembrá-lo disso. Você gostaria?
Título, Imagem e Texto: Jacinto
Flecha, ABIM,
19-11-2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-