sexta-feira, 8 de setembro de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Dando a Trump o que foi de César

Aparecido Raimundo de Souza

O Império Romano, naqueles gloriosos e insignes idos, se estendia do Oriente Médio até à Península Ibérica, tendo abrangido, durante certa época, até a Inglaterra. Impossibilitados de colocarem tropas aquarteladas em toda essa imensa extensão, para garantirem seu poderio, os romanos designavam um cônsul – espécie de agente – para cada localidade.

Recordem que na época da condenação e execução de Jesus Cristo, quem representava Roma, em Jerusalém, era Pôncio Pilatos. Cônsul Pôncio Pilatos. Por conta disso, os povos, refreados, dominados e escravizados pela espada desse sanguinário se viam compelidos a seguirem, rigorosamente, a orientação desse emissário, que falava em nome de Júlio César. Essa figura emblemática, meio que abichada, não dispunha, por vezes, de forças suficientes à retaguarda, para impor as suas decisões e vontades.

Nesse passo, se houvesse qualquer infortúnio ou contratempo às suas ideias, com certeza isso significava um vitupério direto a Roma e ao seu Regente Maior. Se chegasse aos ouvidos do Todo Poderoso a notícia de uma simples rebeldia da plebe subjugada, curvada, sopitada, o César, desafiado, irado e ultrajado, determinava, na mesma hora, o envio de uma “expedição punitiva”.

Assim, seguia um batalhão do exército, que invadia a região e castigava, implacavelmente, os revoltosos: centenas e milhares eram mortos e esquartejados (à la carte nos moldes Tiradentes), para que a exposição das partes dos seus corpos servisse de advertência aqueles que tinham a sorte de sobreviverem.

Nessa algaravia, não saiam apenas repreendidos os supostos autores do crime de “lesa-majestade”. A cidade, em peso, sofria as penas: casas e monumentos eram destruídos, poços de água envenenados, represas e barragens explodidas e reduzidas a escombros.  Tudo a que se referia a serviço público literalmente se traduzia inutilizado.

Sufocada a insurgência e executados sumariamente os que se levantavam contra o Cônsul, retornava à base, permanecendo, no entanto, em prontidão, para outra carnificina, se necessário. Em sua marcha vitoriosa, de regresso, carregavam, dentro de jaulas, completamente pelados, os reis, suas mulheres, filhos e demais chefes, desfilando com eles pelas ruas de Roma, como se fossem animais perigosos.

Algum tempo depois, essas criaturas tinham as cabeças sentenciadas pelos tribunais e, a partir daí se tornavam cativos e escravos ou culminavam crucificadas em praças públicas. Houve casos em que os filhos desses reais (notadamente as moças jovens) se destinavam a servir as lascivas e libertinagens dos soldados de Júlio César, que as obrigavam a manter, com esses bárbaros, relações sexuais animalescas.

Esse exemplo pouco ortodoxo (levando em conta que naquele tempo não havia a galera dos direitos humanos) frutificou através dos anos, tendo atravessado o século XX e galhardamente entrado pelo século XXI, com a intenção espúria de se apostolar infinitamente.

No tempo em que a Inglaterra ostentava influência e gozava de prestígio e superioridade, dezenas de “expedições punitivas” foram despachadas para várias partes do planeta, especialmente Ásia e Oriente Médio. 

Registra a história, que diante da resistência da Dinamarca, os ingleses remeteram uma frota de navios que se postou em Copenhague, bombardeando aquela metrópole seguidamente, e sem interrupções, até que o líder se dobrasse, vencido e aniquilado, aos pés onde, mais tarde, muito mais tarde, reinaria Tony Blair como primeiro ministro do Reino Unido, no período compreendido entre 2 de maio de 1997 a 27 de junho de 2007.

Na verdade, não difere muito (ou quase nada), desse tempo dos diplomáticos de César, em vista do que se passa atualmente, com a fortaleza do Pato Donald Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos. Quem transmite, hoje, as ordens do Júlio Cesar não é um cônsul, mas um espertalhão com status de braço direito do homem mais forte do mundo, conhecido pelo nome de Michel Temer.

Não, amados, é Palocci. Ou seria Lula? Que é isso? Lula, porra nenhuma. Nem um, nem outro. Falamos de uma mulher linda, na flor dos 28 anos, modelo, batizada Hope Hicks. Por debaixo dos panos, vomitam as más línguas, se faz, às vezes, de amante ardente e fogosa de Trump.

Sem desviar o foco, essas determinações até bem pouco tempo vinham à baila via fax, e-mails. Contudo, com a chegada da modernidade, optaram para o uso de possantes satélites e os WhatsApp dos celulares, sem deixarem de lado o centenário Código Morse, e o sistema de fumaça dos antigos índios Lenapes, os primeiros e últimos moradores da Ilha de Manhattan. 

Por derradeiros anos, acompanhamos pelos meios de comunicação, as “famosas “expedições punitivas” a Granada, Líbia, Panamá, Somália, Haiti, Sudão, a ex-lugoslávia, e, principalmente, para o Iraque, artilhariando, quase que semanalmente, de acordo com o bom ou mau humor do dirigente dos Estados Unidos (na época George W. Bush), ou de seus militares de meia pataca enclausurados no “intocável” e “indestrutível” Pentágono.  

Igualmente como ocorria na Roma antiga, o presidente Manuel Noriega do Panamá, em 20 de dezembro de 1989, se viu carregado coercitivamente aos beijos e tapas, para Washington, onde após julgamento, “à moda da casa”, acabou condenado e se achava encarcerado e cumprindo a “correção” que lhe impuseram, até que veio a óbito forçadamente. Mesmo fim trágico teve o presidente do Iraque Saddam Hussein em 30 de dezembro de 2006, quando sua cabeça kikikikikiki acabou enforcada nas mãos de um malvado carrasco.

A operação do presidente do Panamá teve um nome bonito, “Operation Jus Cause”. O que difere, ou o que torna excepcional ou aristocrático ou dito de outra forma, célere e notável, entre o que os romanos faziam ao que hoje está embutido no que em dias atuais evangelizam, rotularíamos de “designação”.

Mudaram muitas coisas, desde então, principalmente o discurso. Hoje os poderosos falam em “guerra”: guerra do Panamá, guerra de Granada, guerra da Somália, guerra do Golfo, guerra do Afeganistão, guerra da puta que pariu, enquanto naqueles remotos de outrora, se alcunhavam as barbáries de “expedições punitivas”.

Custa um bocado entendermos que espécie de guerreamentos seriam esses embates: no Panamá, por exemplo, partiram desta para melhor, cerca de duzentos mil panamenhos, e, no máximo, vinte americanos.

No Iraque, na cognominada “Guerra do Golfo”, perderam a vida trezentos mil iraquianos e apenas trinta e quatro americanos – sendo que, quase todos, foram feridos em desastres causados por eles mesmos, ou imolados no que apelidaram ardilosamente de “fogo inimigo”.

Estamos vendo, ouvindo e a droga até já se tornou chata e corriqueira: a agressão impiedosa ao Afeganistão. Não sei se os senhores se recordam, afinal, não fazem tantos janeiros assim, embarcações situadas 40 ou 50 quilômetros de distâncias direcionaram mísseis sobre aqueles infelizes e desgraçados.

No mesmo cheiro do peido mal dado, aviões superpoderosos, dotados de recursos das mais avançadas tecnologias, atacaram incessantemente populações indefesas de um quadrante pobre, fraco, faminto e oprimido.

Parece realmente incrível que uma nação tida como “civilizada”, empreendedora e realizada como a norte-americana, seja capaz de confundir uma mera “expedição punitiva”, própria, alias, caros leitores, diga-se de passagem, com a sacanagem picardiante dos romanos, com as “conflagrações armamentistas”.

Talvez seja por isso que continuaremos assistindo, de camarote, às velhas, enfadonhas e maçantes reprises como os filmes dos tempos do ronca das tardes da Rede Globo (após o Vídeo show) ou via idêntica, as cenas que marcaram, para sempre o 11 de setembro de 2001, quando dezenove terroristas suicidas, exatos dezesseis anos atrás, detonaram as Torres Gêmeas do Word Trade Center.

Como diria o Conde Otto de Bismarck – “fica provado, mais uma vez, agora e acreditamos ‘ad aeternum’, o direito internacional estará sempre à boca do canhão”. Otto tinha razão. Prova recente, as mimosidades e os carinhos constantes entre a Coreia do Norte do tresloucado Kim Jong e suas bombinhas atômicas para testes nucleares e o psicodélico e barulhento Tio Sam.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza. De Assis, interior de São Paulo. 8-9-2017

Colunas anteriores:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-