Aparecido
Raimundo de Souza
O Império Romano, naqueles gloriosos e insignes
idos, se estendia do Oriente Médio até à Península Ibérica, tendo abrangido,
durante certa época, até a Inglaterra. Impossibilitados de colocarem tropas
aquarteladas em toda essa imensa extensão, para garantirem seu poderio, os
romanos designavam um cônsul – espécie de agente – para cada localidade.
Recordem que na época da condenação e execução de
Jesus Cristo, quem representava Roma, em Jerusalém, era Pôncio Pilatos. Cônsul
Pôncio Pilatos. Por conta disso, os povos, refreados, dominados e escravizados
pela espada desse sanguinário se viam compelidos a seguirem, rigorosamente, a
orientação desse emissário, que falava em nome de Júlio César. Essa figura
emblemática, meio que abichada, não dispunha, por vezes, de forças suficientes
à retaguarda, para impor as suas decisões e vontades.
Nesse passo, se houvesse qualquer infortúnio ou
contratempo às suas ideias, com certeza isso significava um vitupério direto a
Roma e ao seu Regente Maior. Se chegasse aos ouvidos do Todo Poderoso a notícia
de uma simples rebeldia da plebe subjugada, curvada, sopitada, o César,
desafiado, irado e ultrajado, determinava, na mesma hora, o envio de uma
“expedição punitiva”.
Assim, seguia um batalhão do exército, que invadia
a região e castigava, implacavelmente, os revoltosos: centenas e milhares eram
mortos e esquartejados (à la carte
nos moldes Tiradentes), para que a exposição das partes dos seus corpos
servisse de advertência aqueles que tinham a sorte de sobreviverem.
Nessa algaravia, não saiam apenas repreendidos os
supostos autores do crime de “lesa-majestade”. A cidade, em peso, sofria as
penas: casas e monumentos eram destruídos, poços de água envenenados, represas
e barragens explodidas e reduzidas a escombros.
Tudo a que se referia a serviço público literalmente se traduzia
inutilizado.
Sufocada a insurgência e executados sumariamente
os que se levantavam contra o Cônsul, retornava à base, permanecendo, no
entanto, em prontidão, para outra carnificina, se necessário. Em sua marcha
vitoriosa, de regresso, carregavam, dentro de jaulas, completamente pelados, os
reis, suas mulheres, filhos e demais chefes, desfilando com eles pelas ruas de
Roma, como se fossem animais perigosos.
Algum tempo depois, essas criaturas tinham as
cabeças sentenciadas pelos tribunais e, a partir daí se tornavam cativos e
escravos ou culminavam crucificadas em praças públicas. Houve casos em que os
filhos desses reais (notadamente as moças jovens) se destinavam a servir as
lascivas e libertinagens dos soldados de Júlio César, que as obrigavam a
manter, com esses bárbaros, relações sexuais animalescas.
Esse exemplo pouco ortodoxo (levando em conta que
naquele tempo não havia a galera dos direitos humanos) frutificou através dos
anos, tendo atravessado o século XX e galhardamente entrado pelo século XXI,
com a intenção espúria de se apostolar infinitamente.
No tempo em que a Inglaterra ostentava influência
e gozava de prestígio e superioridade, dezenas de “expedições punitivas” foram
despachadas para várias partes do planeta, especialmente Ásia e Oriente
Médio.
Registra a história, que diante da resistência da
Dinamarca, os ingleses remeteram uma frota de navios que se postou em
Copenhague, bombardeando aquela metrópole seguidamente, e sem interrupções, até
que o líder se dobrasse, vencido e aniquilado, aos pés onde, mais tarde, muito
mais tarde, reinaria Tony Blair como primeiro ministro do Reino Unido, no
período compreendido entre 2 de maio de 1997 a 27 de junho de 2007.
Na verdade, não difere muito (ou quase nada),
desse tempo dos diplomáticos de César, em vista do que se passa atualmente, com
a fortaleza do Pato Donald Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos. Quem
transmite, hoje, as ordens do Júlio Cesar não é um cônsul, mas um espertalhão
com status de braço direito do homem mais forte do mundo, conhecido pelo nome
de Michel Temer.
Não, amados, é Palocci. Ou seria Lula? Que é
isso? Lula, porra nenhuma. Nem um, nem outro. Falamos de uma mulher linda, na
flor dos 28 anos, modelo, batizada Hope Hicks. Por debaixo dos panos, vomitam
as más línguas, se faz, às vezes, de amante ardente e fogosa de Trump.
Sem desviar o foco, essas determinações até bem
pouco tempo vinham à baila via fax, e-mails. Contudo, com a chegada da modernidade,
optaram para o uso de possantes satélites e os WhatsApp dos celulares, sem
deixarem de lado o centenário Código Morse, e o sistema de fumaça dos antigos
índios Lenapes, os primeiros e últimos moradores da Ilha de Manhattan.
Por derradeiros anos, acompanhamos pelos meios de
comunicação, as “famosas “expedições punitivas” a Granada, Líbia, Panamá,
Somália, Haiti, Sudão, a ex-lugoslávia, e, principalmente, para o Iraque,
artilhariando, quase que semanalmente, de acordo com o bom ou mau humor do dirigente
dos Estados Unidos (na época George W. Bush), ou de seus militares de meia
pataca enclausurados no “intocável” e “indestrutível” Pentágono.
Igualmente como ocorria na Roma antiga, o
presidente Manuel Noriega do Panamá, em 20 de dezembro de 1989, se viu
carregado coercitivamente aos beijos e tapas, para Washington, onde após
julgamento, “à moda da casa”, acabou condenado e se achava encarcerado e
cumprindo a “correção” que lhe impuseram, até que veio a óbito forçadamente.
Mesmo fim trágico teve o presidente do Iraque Saddam Hussein em 30 de dezembro
de 2006, quando sua cabeça kikikikikiki acabou enforcada nas mãos de um malvado
carrasco.
A operação do presidente do Panamá teve um nome
bonito, “Operation Jus Cause”. O que
difere, ou o que torna excepcional ou aristocrático ou dito de outra forma,
célere e notável, entre o que os romanos faziam ao que hoje está embutido no
que em dias atuais evangelizam, rotularíamos de “designação”.
Mudaram muitas coisas, desde então,
principalmente o discurso. Hoje os poderosos falam em “guerra”: guerra do
Panamá, guerra de Granada, guerra da Somália, guerra do Golfo, guerra do
Afeganistão, guerra da puta que pariu, enquanto naqueles remotos de outrora, se
alcunhavam as barbáries de “expedições punitivas”.
Custa um bocado entendermos que espécie de
guerreamentos seriam esses embates: no Panamá, por exemplo, partiram desta para
melhor, cerca de duzentos mil panamenhos, e, no máximo, vinte americanos.
No Iraque, na cognominada “Guerra do Golfo”,
perderam a vida trezentos mil iraquianos e apenas trinta e quatro americanos –
sendo que, quase todos, foram feridos em desastres causados por eles mesmos, ou
imolados no que apelidaram ardilosamente de “fogo inimigo”.
Estamos vendo, ouvindo e a droga até já se tornou
chata e corriqueira: a agressão impiedosa ao Afeganistão. Não sei se os
senhores se recordam, afinal, não fazem tantos janeiros assim, embarcações
situadas 40 ou 50 quilômetros de distâncias direcionaram mísseis sobre aqueles
infelizes e desgraçados.
No mesmo cheiro do peido mal dado, aviões
superpoderosos, dotados de recursos das mais avançadas tecnologias, atacaram
incessantemente populações indefesas de um quadrante pobre, fraco, faminto e
oprimido.
Parece realmente incrível que uma nação tida como
“civilizada”, empreendedora e realizada como a norte-americana, seja capaz de
confundir uma mera “expedição punitiva”, própria, alias, caros leitores,
diga-se de passagem, com a sacanagem picardiante dos romanos, com as
“conflagrações armamentistas”.
Talvez seja por isso que continuaremos
assistindo, de camarote, às velhas, enfadonhas e maçantes reprises como os
filmes dos tempos do ronca das tardes da Rede Globo (após o Vídeo show) ou via
idêntica, as cenas que marcaram, para sempre o 11 de setembro de 2001, quando
dezenove terroristas suicidas, exatos dezesseis anos atrás, detonaram as Torres
Gêmeas do Word Trade Center.
Como diria o Conde Otto de Bismarck – “fica
provado, mais uma vez, agora e acreditamos ‘ad
aeternum’, o direito internacional
estará sempre à boca do canhão”. Otto tinha razão. Prova recente, as
mimosidades e os carinhos constantes entre a Coreia do Norte do tresloucado Kim
Jong e suas bombinhas atômicas para testes nucleares e o psicodélico e
barulhento Tio Sam.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de
Souza. De Assis, interior de São Paulo. 8-9-2017
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