Aparecido Raimundo de Souza
Sete de setembro!
O que foi mesmo que aconteceu de importante nesse dia? O que se comemora
nessa data? Qual feito heroico marcou a história? Por mais que leia jornais,
revistas, livros de histórias, escute emissoras de rádio e assista aos canais
de televisão e, de lambuja, ainda veja, de sobremesa, não sei quantos soldados
marchando pra lá e pra cá, feito um bando de babacas, fazendo uma serie de
piruetas como veados assustados, a murrinha (é murrinha mesmo), em peso,
mostrando seus carros de trocentos anos atrás, a aeronáutica seus tanques
sucateados e o exército as suas armas, mísseis e bombas enferrujadas, sinceramente não consigo atinar
com o fio da merda perdão, senhores, da meada. Fio da meada.
Embora seja brasileiro nato, não vim da nata, ou
seja, não nasci em berço esplendido, nem com aquilo virado para a lua.
Confesso, todavia, me sinto traído como filho da terra. Ou pior, como rebento
da pútria. Pútria ou pátria. Ficarei com a pútria. Seguindo em frente, me sinto
iludido, enganado, tanto quanto os índios que ainda estão sendo dizimados, até
nossos dias, desde os tempos em que um tal de Marechal Rondon vomitou aquela
célebre frase “Morrer se necessário for, matar um índio, nunca”. Rondon, para
quem não sabe, como militar e sertanista, se constituiu no sujeito que mais
mandou índios das tribos Bororo, Nhambiquara e Urupá para as valas. E o povo,
burro feito uma porta sem tranca, acredita, piamente, que essa espécie de
jargão surgiu com louvores vindos do fundo mais profundo de coração. Da mísera
criatura. Ledo engano!
Muito bem, voltando ao texto. Como cidadão filho
dessa terra de ninguém, confesso que me sinto atraiçoado, e satirizado por
inteiro. E por que me sinto assim? Por
não saber, ao certo, o que aconteceu em sete de setembro? Alguém tem conhecimento?
Ninguém sabe? Ah, perdão, não foi com o sete, foi com a seta!...
Algum maluco quebrou a seta. É isso: destruíram a
seta?
A propósito, a seta... que seta seria essa? Indicava o quê? Algum rumo que todos
precisassem seguir? Alguma senda a tomar, como atalho, para se chegar, quem
sabe, a descoberta de algum segredo importante, ou a um feito maravilhoso e
memorável, como por exemplo, o de acabar com a pouca vergonha que assolava o
País inteiro? Talvez bater de frente com “os cabeças” do PCC (Partido dos
Canalhas Corruptos), ou com os assassinos de rostos ocultos de uma infinidade
de criaturas inocentes que perderam suas vidas estupidamente, porque
encontraram em seus caminhos um punhado de balas perdidas? Afinal, meus
queridos, o que se comemora nesse sete? E por que alguém está falando tanto
nessa seta de setembro?
Vamos pesquisar: segundo os compêndios, a
história, ou dito de outra forma, a lorota, aconteceu assim: aconselhado por
José Bonifácio, Dom Pedro viajou para São Paulo. José Bonifácio queria Dom
Pedro longe da mulher dele, pelo menos por uns meses. Eles viviam brigando
igual gato e rato e Dom Pedro, nesses rompantes tinha por mania rasgar as
calcinhas de seda pura da esposa. E não parava por aí. De roldão, quebrava os
pratos de porcelana real que pertenciam a sua sogra, a mãe de Dona Leopoldina,
a imperatriz Maria Teresa de Nápoles e Sicília.
Havia outro objetivo em jogo. Era Dom Pedro
conversar o quanto antes com os políticos paulistas, para tentar pôr um fim às
discordâncias que havia entre eles. Uns queriam derrubar um presidente que nem
havia sido escolhido, outros pedir mais dinheiro ao FMI. Corrente paralela,
queria porque queria, fosse aberta uma CPI para trazer à baila os secretos
motivos de José Bonifácio ter tanto poder sobre Dom Pedro. Enquanto sua
majestade viajava, chegavam ao Rio de Janeiro novos decretos de Lisboa anulando
as falcatruas que ele, Pedro, havia feito por aqui e exigindo sua volta
imediata para Portugal.
De São Paulo, Dom Pedro foi a Santos tomar um bom
banho de mar e queimar um pouco o corpo que era branco igual folha de papel. E
claro, o mais importante. Visitar uma mulher bonita e gostosa conhecida como
Domitila de Castro Canto e Mello. Domitila o pegou, de fato, num canto e deu o
golpe, acabando Marquesa de Santos. Na verdade, essa rameira, não passava de
uma de suas muitas amantes por aqui arranjadas desde que aportara no Brasil.
Antes Pedroca se deitara com uma bailarina francesa Noémi Thierry, com quem
teve um filho, Adèle Bonpand, Clemente Saisset e, pasmem, amigos leitores, com
a irmã de Domitila, a fogosa e intrépida Maria Benedita. Na viagem de volta,
Dom Pedro recebeu um emissário, o soldado Taborda, que vinha do Rio de Janeiro.
Nesse momento, Dom Pedro se encontrava às margens de um riacho, que acreditam
ser o riacho do Ipiranga, em São Paulo.
O tal emissário lhe entregou uns decretos e as
cartas: uma missiva vinha da lavra de José Bonifácio e outra de sua
companheira, Dona Leopoldina, aconselhando-o a proclamar a Independência e
voltar logo para casa, ou quando chegasse iria encontra-la nos braços de
Pilombeta, seu segurança pessoal. Depois de ler os decretos e as cartas, Dom
Pedro, furioso e pior, pê da vida, se dirigiu aos soldados e, às pessoas que o
acompanhavam. Arrancou de suas roupas as cores portuguesas e disse, aos berros:
“Laços fora, soldados! Camaradas! As Cortes de Lisboa querem mesmo escravizar o
Brasil. E o veado do cara que cuida da segurança pessoal da minha mulher, o
capitão Pilombeta, quer me botar um belo de um par de chifres. Cumpre,
portanto, declarar sem mais demora, a minha independência. Estamos
definitivamente separados de Portugal. Foda-se o resto...”.
Dizem os autores, nessa hora, levantando a
espada, o cidadão gritou, eufórico: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu
Deus, juro fazer a liberdade do Brasil. Brasileiros, a nossa divisa de hoje em
diante será: Independência ou Morte”. Isso é o que está dito e o que conta a
história, por sinal, escabrosamente mentirosa.
Não havia, em verdade, nenhum cavalo por perto, nem Dom Pedro montou em
um, para desembainhar a sua real espada. Aliás, nem espada havia. Ele levantou,
sim, acima da cabeça, os decretos e as cartas e gritou: “Camaradas, estou com
uma diarreia dos diabos. Comi além da conta em casa de Domitila e estou quase a
me esborrar pernas abaixo. Por favor, me achem uma boa moita, tenho que aliviar
a barriga ou a bosta vai me subir à cabeça”. Era o dia 7 de setembro de 1822.
Nada, portanto a ver com a seta que estamos tentando tratar aqui.
Com esse compromisso assumido por Dom Pedro, às
margens do riacho Ipiranga, onde, aliás, ele e seus soldados cansaram de lavar
os regos de suas bundas, o Brasil sentiu o cheiro forte de suas primeiras e
grandes cagadas. Como se pode ver, não houve nenhum feito heróico nesse dia. A
não ser o fato do príncipe regente, na falta de papel sanitário, quebrar, cheio
de raiva, a seta (finalmente atinamos com a seta) de indicação para o Rio de
Janeiro e pendurar nela, um pedaço de sua vestimenta real, com a qual, além dos
decretos e das cartas, limpara seu belo e magro traseiro, num dia ensolarado de
começo de mês de setembro.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza. De Assis,
interior de São Paulo, 7-9-2017
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