domingo, 27 de janeiro de 2019

Como se degrada um país

Helena Matos

Junte-se um PM disposto politicamente a tudo a um PR frívolo. Acrescente-se a subordinação à agenda ditada por radicais institucionais na AR e subversivos nas ruas. No final temos um país degradado.


Está a olhar para mim… Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno” – à nossa frente, diante dos nossos olhos, a coisa estava a acontecer: o primeiro-ministro, aquele que foi clareado nos cartazes do seu próprio partido, recorria sem escrúpulos ao argumento racial.

Não é novidade que Costa se porta como um rufia perante a líder do CDS. Novidade ou aviso é que além da compra do eleitorado da função pública, António Costa vai jogar a carta da cor da pele na luta política se tal lhe parecer vantajoso.

Na mesma semana em que Jerónimo de Sousa deixava de ser o “operário metalúrgico” para se tornar “no sogro”, António Costa reivindicou a cor da sua pele para responder a Assunção Cristas. A luta de classes deu lugar à luta das que já foram raças, depois etnias e agora serão aquilo que os donos das palavras determinarem. E António Costa se lhe for útil vai entrar nesse terreno.

Vários carros e caixotes do lixo arderam nos últimos dias em Setúbal.” A revolta dos objetos ganhou novos protagonistas: agora são os caixotes do lixo que ardem. E os automóveis. E os ecopontos, coitadinhos, apesar de tanta aula de educação ambiental são os primeiros a marchar nessa espécie de autocombustão indignada. Não deixa de ser irónico que, naquilo que nos é apresentado como protesto pelas más condições de vida, a fúria dos indignados se vire contra um dos serviços que lhes é prestado – a recolha de lixo – serviço esse que contribui para que a sua vida tenha mais condições. Entretanto, os últimos desenvolvimentos da guerra dos objetos diz-nos que os caixotes do lixo desenvolveram uma nova valência pois além de arderam lançam pedras aos bombeiros e aos polícias: “Uma equipa dos bombeiros de Sacavém foi apedrejada com violência quando tentava apagar as chamas de dois ecopontos incendiados à entrada do Bairro da Quinta da Fonte, na Apelação. Tiveram de pedir ajuda à PSP, sendo que a patrulha que acorreu ao local também foi apedrejada.” Tudo indica que a guerra dos objetos se vai prolongar. Quem tiver curiosidade sobre os próximos episódios pode recorrer aos canais franceses pois aí esta série já passa há largos anos.

A “bosta da bófia”: na mesma semana em que escreveu “bosta da bófia” a propósito da polícia, Mamadou Ba solicitou proteção à “bosta da bófia” por ter sido “abordado esta sexta-feira quando se dirigia para um debate sobre a crise da democracia, em Lisboa, pelo cabeça de lista do Partido Nacional Renovador (PNR), João Patrocínio, que o confrontou com as suas declarações no Facebook sobre a PSP, enquanto um outro militante gravava a situação para, posteriormente, a partilhar nas redes sociais.” Digamos que Mamadou Ba foi alvo de uma grandolada ao contrário. Só que se os alvos dos arruaceiros forem aqueles que antes grandolavam, então os grandoleiros de ontem de imediato sentem as suas vidas risco e chamam pela mesma polícia que minutos antes insultavam.

Mas deixemos as idiossincrasias do dirigente da SOS Racismo e alarguemos a questão: quais foram os programas de inclusão criados para a comunidade chinesa? Eram ricos os imigrantes ucranianos quando chegaram a Portugal? Não. E os resultados escolares dos seus filhos quais foram?… Felizmente para eles ficaram livres do paternalismo libertador dos ativistas. Os seus filhos empenharam-se mais na Matemática que nas dramatizações sobre os abusos de que os seus avós foram vítimas. Mais cedo ou mais tarde teremos de nos interrogar sobre os resultados da atividade dessas associações que ninguém escrutina, dos coletivos de um elemento e dos ativistas-empresários da indignação. As políticas do ressentimento engrossam-lhes os currículos, garantem-lhes um modo de vida (em geral confortável) mas pouco ou nada de positivo parecem ter para apresentar como saldo da sua atividade.

PS. O Bloco de Esquerda quer renacionalizar os CTT. E como sempre acontece quando o Bloco quer alguma coisa todos sabemos à partida que mais cedo ou mais tarde o querer do Bloco se há de impor.
Catarina Martins pretende agora que nacionalizar os correios “é defender os serviços públicos, é defender também o Interior” coisa que não quer dizer nada, mas faz títulos. No Interior tal como Litoral não se escrevem cartas e aquilo que Catarina Martins defende é sim o crescimento do poder do BE através do crescimento tentacular do Estado. Desde que um serviço seja estatal ele pode degradar-se como está a acontecer ao SNS ou encerrar balcões como faz a CGD que o BE olha para o lado.
Enquanto os CTT não são renacionalizados Catarina Martins pode começar a preparar-se para essa grande hora. Como? Proibindo o BE de usar o e-mail e os SMS, mesmo o fax só em campanha eleitoral. Messenger, nem vê-lo. Comunicar só através de carta quiçá manuscrita com caneta de aparo. Vai ser um sucesso.
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 27-1-2019

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