Gustavo
Um leitor, o David, enviou-me
um link para um comercial de Red Bull que foi tirado do ar pelo Conar, o
Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária. Ele mostra a famosa passagem
bíblica em que Jesus está no barco com Pedro e outros apóstolos, que estão
pescando. Jesus começa a andar sobre as águas. É por que ele é santo e coisa e
tal? Não, é porque ele toma Red Bull, diz o próprio Cristo, com uma voz meio
chapada, que está mais para Bob Marley do que para o Messias. Ah, então é por
isso que ele anda sobre as águas? Não - responde o Filho de Deus -: é só escolher
as pedras. E lá vai ele, o Salvador, aos saltinhos, entre um gole e outro do
energético.
Não vi nada de ofensivo no
comercial, que achei até engraçado. Sendo ateu, esse tipo de coisa não me
afeta. Acho divertidíssimo, por exemplo, o filme A Vida de Brian, do grupo
inglês Monty Python, uma das obras mais sarcásticas que já vi, que tira um
tremendo sarro da história de Jesus. Proibi-lo seria uma estupidez, além de um
óbvio atentado à liberdade artística (ao contrário de uma campanha da Benetton,
veiculada há alguns anos, em que um padre e uma freira aparecem se beijando na
boca). Mas admito que há quem se sinta ofendido em sua fé religiosa. E que veja
no comercial de Red Bull uma afronta. Nesse caso, além de simplesmente não
consumirem o produto - ainda somos livres para fazer escolhas, não? -, essas
pessoas têm, sim, o direito de reclamar. Pesquisei e descobri que em outros
paises democráticos, como a África do Sul e a Itália, esse e outros comerciais
do mesmo produto e de teor semelhante também foram retirados do ar a pedido de
cristãos mais sensíveis.
"Ah, mas isso é
censura", apressa-se a bradar quem acredita que a liberdade não tem
limites. Nada mais forçado. Censura seria se fosse uma imposição arbitrária do
Estado, determinada não pela Lei, mas pela discricionaridade do governante - ou
dos militantes de algum movimento político que querem colocar o Estado a seu
serviço. Ou seja, se fosse um ato de uma ditadura - como aquela que os
esquerdistas veneram e que o papa Bento XVI visitou esta semana (e onde a festa
de Natal, por exemplo, ficou proibida por trinta anos, e rezar em público até
há alguns anos dava cadeia, como ocorria em todas as tiranias comunistas). Nem
a África do Sul de hoje nem a Itália são, ao que eu saiba, ditaduras. Além
disso, a Constituição brasileira protege a liberdade de religião, punindo a
profanação de símbolos religiosos (algo que se tornou comum, por exemplo, nas
paradas gays). Pode-se dizer que é uma Constituição autoritária?
Antes de criticarem a suposta intolerância de católicos ou protestantes, seria bom perguntarem a si mesmos: e se fosse Maomé? Há alguns dias, o chefe da BBC de Londres confessou publicamente que a emissora só aceita fazer piadas ou críticas a Jesus, mas não a Maomé. Sua justificativa: é que os cristãos, ao contrário dos muçulmanos, não reagem quando provocados... Acho que jamais vi maior confissão de cinismo e covardia maior do que essa, um claríssimo duplo padrão moral. O fato de os cristãos não reagirem quando insultados (talvez levando ao pé da letra a máxima de que é melhor dar a outra face) é, a meu ver, um ponto a seu favor, uma prova de que estão habilitados a viver numa sociedade democrática. Ao contrário dos islamitas que se explodem em mercados públicos e matam crianças.
Sejamos honestos: nenhuma
religião é mais combatida, atacada, vilipendiada, execrada, espinafrada,
esculhambada (com ou sem motivo, não importa) do que a cristã - e, em especial,
a fé católica. Muitos que enxergam intolerância religiosa na retirada do
comercial de Red Bull esquecem que, de todas as liberdades de que gozamos em
uma democracia, a pioneira, a mãe de todas as demais, é a liberdade religiosa,
de crença e de culto. Liberdade que é afrontada praticamente todos os dias no
Brasil, por "movimentos" que, a pretexto de defender o caráter laico
do Estado e os direitos de minorias, querem impor suas ideologias totalitárias,
tentando calar a boca de padres e pastores e banir, por exemplo, crucifixos de
repartições públicas. Em um país cultural e majoritariamente (a seu modo, mas
ainda assim) cristão, não há como não ver nisso uma clara imposição autoritária
de uma minoria organizada. Pior: uma intromissão numa questão de foro íntimo,
pessoal, que é a religião. Não se trata, portanto, de uma rendição ao
politicamento correto, mas exatamente do oposto.
Muitos que enxergam censura na
decisão do Conar sobre o comercial de Red Bull que faz troça com Jesus não vêem
nenhum problema em pedir prisão para um humorista por uma piada considerada
sexista ou preconceituosa (aqui sim, pode-se falar de patrulha politicamente
correta). Geralmente são os mesmos que acham plenamente normal e compreensível
muçulmanos queimarem embaixadas - e pessoas - por causa de uma charge do
profeta Maomé. Anestesiados por um entorpecente mental chamado multiculturalismo,
são implacáveis ao atacar severamente o suposto machismo ou casos de pedofilia
na Igreja Católica, enquanto fecham os olhos ou mesmo procuram justificar
crimes semelhantes ou piores cometidos pelo Islã.
Só para dar um exemplo mais ou
menos próximo: na Faixa de Gaza, hoje dominada pelos terroristas islamitas do
Hamas e transformada numa cabeça-de-ponte do Irã, meninas de 8 anos de idade
são forçadas a se casarem com homens mais velhos, em cerimônias de casamento
coletivo. Se fossem cristãos, seriam acusados de pedófilos e estupradores. Mas
não se vê quase ninguém denunciando-os como tal. Para a maioria dos que torcem
o nariz para o cristianismo, as prescrições - e são apenas prescrições, sem
qualquer efeito legal impositivo - de um velhinho vestido de branco sobre
aborto e homossexualismo causam mais revolta do que o apedrejamento de mulheres
acusadas de adultério e o estupro de crianças - de ambos os sexos - pelos
devotos de Maomé. Tampouco os que se dedicam a criticar o papa e a Igreja se
dão conta de que a religião mais perseguida do mundo hoje é o cristianismo.
Querem dados? Então lá vai. No
Iraque, até 2003 havia cerca de 1 milhão de católicos; hoje sobraram menos da
metade. São todos os dias atacados por terroristas islamitas, e praticamente
não restou nenhuma igreja intacta no país. No Egito, que passou recentemente
por uma revolução tida por democrática, os cristãos coptas, a comunidade
religiosa mais antiga do país - muito mais antiga do que o Islã -, sofre
perseguições diárias dos fanáticos salafitas, que ganharam bastante poder
depois da queda do ditador Hosni Mubarak. Critica-se George W. Bush por ter
invadido o Iraque e despachado Saddam Hussein para o inferno, mas não se diz
uma palavra sobre esse holocausto cristão. Em outros lugares - Sudão, Índia,
Paquistão, Arábia Saudita, China - os cristãos são diariamente ameaçados e
atacados, sendo proibidos de professar o culto livremente. Não por acaso,
muitos desses países são muçulmanos ou ditaduras. Cristãos são impedidos de
professar sua fé e assassinados todos os dias no mundo. Mas quem se importa?
Como já disse, sou ateu, mas nem por isso anticlerical, o que não é nenhuma contradição. O direito à heresia, como sabia Voltaire, é uma conquista da civilização. Mas não significa o fim da liberdade de crença. Ironicamente, hoje o anticlericalismo é uma ideologia aliada das formas mais extremas de fundamentalismo religioso (no caso, islâmico), sendo um traço comum à esquerda mais "progressista" e "sofisticada" e aos fanáticos da Al Qaeda. Já perceberam como os que adoram jogar lama em 2000 anos de cristianismo - ou seja: na própria civilização ocidental, que não seria a mesma sem os papas e os afrescos da Capela Sistina - não dizem uma palavra sobre as atrocidades cometidas em nome do Islã? Pelo mesmo motivo por que repudio a intolerância e o fanatismo de certos pastores evangélicos e mulás, acho a militância antirreligiosa e, sobretudo, anticristã, uma tolice. É por isso que concordo 110% com a frase do Diogo Mainardi: "Em Deus eu não acredito, mas na Igreja, sim".
Como já disse, sou ateu, mas nem por isso anticlerical, o que não é nenhuma contradição. O direito à heresia, como sabia Voltaire, é uma conquista da civilização. Mas não significa o fim da liberdade de crença. Ironicamente, hoje o anticlericalismo é uma ideologia aliada das formas mais extremas de fundamentalismo religioso (no caso, islâmico), sendo um traço comum à esquerda mais "progressista" e "sofisticada" e aos fanáticos da Al Qaeda. Já perceberam como os que adoram jogar lama em 2000 anos de cristianismo - ou seja: na própria civilização ocidental, que não seria a mesma sem os papas e os afrescos da Capela Sistina - não dizem uma palavra sobre as atrocidades cometidas em nome do Islã? Pelo mesmo motivo por que repudio a intolerância e o fanatismo de certos pastores evangélicos e mulás, acho a militância antirreligiosa e, sobretudo, anticristã, uma tolice. É por isso que concordo 110% com a frase do Diogo Mainardi: "Em Deus eu não acredito, mas na Igreja, sim".
Nessa questão do comercial do Red Bull, assim como em todas as outras que envolvam a liberdade religiosa, estou com os cristãos, embora eu seja uma ovelha desgarrada. Aliás, exatamente por isso: se for para ficar a favor apenas da liberdade dos que pensam igual a mim, que espécie de democrata seria eu? A liberdade, numa democracia, é sempre a de quem pensa diferente de nós mesmos. Não vou deixar de tomar um Red Bull na balada, mas nem por isso vou escarnecer da crença alheia. Até porque, não há nada de democrático nisso.
Título e Texto: Gustavo, no Blog “Do Contra”, 31-03-2012
O comercial sumiu!!
É mt imbecil achar q pode fazer chacota com a fé alheia,tbm sou ateu mas nem por isso acho certo fazer piadas com a crença das pessoas..se vc acha isso certo vc é apenas mais um idiotizado.
ResponderExcluirChacota com os torcedores de outros times pode.
ResponderExcluirChacota com os idiotas seguidores da mula nordestina pode.
Chacota com fanáticos pmdebistas ou psdebistas pode.
Chacota com héteros, gays e lésbicas pode, mas a lei pune.
Pergunto qual a diferença de FÉ com a fanatismo dos exemplos acima?
NENHUMA!
Sem celeuma cabe muito bem fazer chacotas e ironias com fanáticos religiosos.
IDIOTA É SER POLITICAMENTE CORRETO OU ACHAR-SE.
FUI...
O YOUTUBE VIVE DE CHACOTAS E IRONIAS MONTADAS...
ResponderExcluirEu não entendi muito bem a postagem. O autor é contra à favor ou muito antes pelo contrário?
ResponderExcluirÉ errado criticar ou fazer piada com qualquer líder religioso , pois o que se estará agredindo não é a liderança , mas aqueles que neles creem.
Então tanto faz se a chacota é contra Cristo, Maomé,Buda, Zoroastro ,Shiva ,Lutero,Confucio , Abraão ,Lao-tsé,Kardec, e muitos outros. Sempre será uma agressão contra pessoas ingênuas ou nem tanto ,mas que cometerem um único pecado, Ter fé em algo ou alguém!
Há que se respeitar as diferenças,e principalmente se estas forem as religiosas...Senão será o caos!
Paizote
Chacota com fanáticos religiosos ,até pode!
ResponderExcluirCom os criadores da religiões , não pode! Pois atenta contra o direito do outro de ter opinião diferenciada.
Não faz diferença ser cristão ou muçulmano, até mesmo na política ser de direita ou de esquerda, gremista ou colorado,etc...
O que precisa é ser do bem! O resto é tudo bijoteria!
Paizote