sábado, 21 de abril de 2012

Espanha vai à luta pela Repsol-YPF

O país europeu se alia aos EUA em sua ofensiva contra a Argentina e busca apoio de outros países europeus e sul-americanos
Francisco Vianna
Na luta pelo petróleo, cresce o conflito criado pela Casa Rosada pela estatização da REPSOL-YPF. O governo de Cristina F. Kirchner disse que não está nem aí para as reações e as gestões da embaixada norte-americana
O governo espanhol, na pessoa de seu presidente, Mariano Rajoy, anunciou ontem que obteve o “compromisso” de apoio dos EUA à sua ofensiva comercial contra a Argentina pela desapropriação e estatização da petroleira privada hispano-portenha REPSOL-YPF, enquanto o Departamento de Estado norte-americano informava que realiza gestões em Buenos Aires para expressar a sua preocupação com a medida que contraria as regras de mercado em todo o mundo.
O chanceler espanhol, José Manuel García Margallo, se reuniu em Bruxelas com a secretária de Estado, Hillary Clinton, e afirmou que os Estados Unidos estão ‘mais próximos’ da posição espanhola. Margallo anunciou que Clinton se comprometeu em "estudar as propostas" da Espanha que buscam uma resposta da comunidade internacional frente à expropriação e estatização da ‘joint-venture’.


Em Washington, no entanto, o Departamento de Estado informou que a embaixada norte-americana em Buenos Aires realizou gestões junto à administração de Cristina Kirchner para expressar a preocupação de seu governo pela estatização de uma empresa privada que não passava por qualquer situação de dificuldade econômica ou financeira, anunciada na segunda-feira passada. Em Bruxelas, o chanceler espanhol aparentava muito otimismo ontem com relação ao seu objetivo declarado de conseguir una "retificação" da presidente Cristina Fernández de Kirchner quanto ao ocorrido e que mais preocupou nas relações bilaterais desde que a Espanha retornou à democracia em sua monarquia constitucional, em 1975.
"Clinton nos pediu que lhe transmitíssemos isso, que é o que nós esperamos dos EUA e que é o que se faz entre bons aliados e bons amigos como são Estados Unidos e Espanha", disse García Margallo, que também lembrou que Washington retirou há "bem pouco" uma série de benefícios comerciais da Argentina em suas relações bilaterais.
Dessa maneira, a Espanha levou ontem adiante sua estratégia de agregar o maior número de países e de instituições internacionais que puder para protestar contra a estatização das ações da espanhola REPSOL em ‘joint-venture’ com a YPF e reclamar junto ao governo de Cristina Fernández de Kirchner que reveja sua decisão de se apropriar, por decreto, do controle acionário (de 51%) da petroleira.
Sem dúvida, para o governo argentino restou dar importância ou não a possíveis represálias internacionais, que fatalmente ocorrerão, caso Buenos Aires não reveja sua decisão. "O governo nacional não está preocupado com qualquer tipo de represália", disse o Ministro do Interior, Florencio Randazzo.
Através de intensas negociações paralelas na Colômbia, onde Rajoy se achava em visita oficial, e em Bruxelas, no Palácio da Moncloa, sondou uma série de medidas contra a Argentina, sobre as quais tratará hoje na reunião semanal do Conselho de Ministros.
Apesar de que nem o mandatário nem seu gabinete terem adiantado em que consistem tais represálias, nas últimas horas ganharam destaque as versões sobre o virtual cancelamento das importações de óleo de soja e de carne provenientes da Argentina.
A possível aplicação da primeira medida foi sugerida pelo Ministro da Indústria, José Manuel Soria, à mídia espanhola, ao assinalar que "existem outros países" que poderão substituir a Argentina no fornecimento de 40% das importações da Espanha dessas mercadorias básicas para a fabricação de biocombustíveis. A ser concretizada esta medida, a Argentina perderia um mercado em que fatura 1,05 bilhão de dólares por ano.
Por outro lado, também já se estuda o corte dos auxílios ao desenvolvimento destinados à Argentina, que, segundo o jornal ABC, nos últimos 4 anos fizeram ingressar no país mais de US$ 130 milhões. A mesma fonte midiática revela ainda que a raiz da tensão produzida por este enfrentamento "é analisada" como sendo a continuidade da sede da Fundação Carolina em Buenos Aires.
Em ambos os lados do Atlântico, os funcionários espanhóis buscam energicamente novos apoios para pressionar a Casa Rosada através de uma combinação de opções que vão desde uma declaração internacional conjunta de repúdio à expropriação até a mais difícil meta de deixar a Argentina fora do G-20. 

Cúpula do G-20, Washington
Mas, ontem, as manifestações de repúdio à estatização da YPF e à desapropriação de ações da REPSOL não pararam por aí. No mesmo dia em que em Madri o Conselho Geral do Poder Judiciário (CGCP) decidiu não enviar "por uma questão de responsabilidade institucional" sua delegação à Cúpula Judicial Ibero-americana que se realizará em Buenos Aires, García Margallo também garantiu ter convencido os mandatários de 11 países europeus a dar respaldo a uma possível ‘moção de repúdio’ contra a Argentina.
Juan Manuel Santos
Estes Estados, que compõem o chamado "Clube de Berlim", debaterão na próxima segunda-feira, a pedido especial da Espanha, "todas as opções possíveis" que esse país possa tomar para responder à altura à "decisão arbitrária", populista, e demagógica de estatizar a petroleira.
Para isso, o presidente Rajoy voltou a aproveitar seu giro na América latina para agregar apoios ao seu enfrentamento com o governo argentino. Na Colômbia, ontem, recebeu um grande e simbólico elogio. "Aqui na Colômbia nós não estatizamos, presidente Rajoy", disse Juan Manuel Santos, o presidente colombiano. “Aqui nós temos regras estáveis para o jogo comercial”, acrescentou Santos e ainda agradeceu ao Presidente Mariano Rajoy o apoio que a Espanha tem dado para a assinatura de um tratado de livre comércio com a União Europeia, nos moldes básicos do tratado que mantém da mesma natureza com os EUA.

ARGENTINA EM ROTA DE COLISÃO
Apesar de ser considerado um jornal de ‘esquerda’ – para os padrões americanos, é claro – o Washington Post, em um dos seus editoriais, disse que quando Cristina F. de Kirchner foi reeleita em outubro passado, ela tinha duas opções: uma era a de continuar a praticar sua política populista e autocrática que marcou seu primeiro mandato e a outra a de liderar seu país de volta aos mercados globais e ao mundo democrático. “Esta semana” – disse o editorial – “a Sra. Fernandez fez sua clara escolha ao estatizar a maior empresa privada de petróleo do país”.
Assim como no recente recrudescimento da causa perdida de propugnar pela alegada soberania argentina sobre as Ilhas Falklands, a medida populista e demagógica da Casa Rosada – que recebeu o aplauso barato da população portenha que ainda se deixa impressionar por essas manobras cosméticas destinadas a encobrir as dificuldades domésticas e a sua incapacidade de resolvê-las – assegurou que a Argentina vá mergulhar num completo isolamento do resto do mundo, e se afastar cada vez mais do progresso econômico que acontece nos seus países vizinhos.
O jornal da capital americana explica que a estatização, feita principalmente às expensas da empresa petroleira espanhola REPSOL, segundo as palavras da presidente argentina, foi feita “para recuperar a soberania sobre uma empresa estrangeira cuja produção estava em queda”, mas, é claro, não mencionou que a produção da ‘joint-venture’ hispano-portenha tinha sido causada amplamente por más políticas governamentais, incluindo o congelamento dos preços domésticos da energia fóssil e os controles das remessas de lucros. Isso sem mencionar que, já de caso pensado, a Casa Rosada praticamente obrigou alguns estados a cancelar suas concessões de exploração e extração de petróleo em diversas áreas, para forçar a desvalorização das ações da empresa na bolsa.
O fato irá simplesmente desabilitar a Argentina de atrair capital externo e a competência necessária para explorar suas grandes reservas de óleo e gás, incluindo seus substanciais depósitos de xisto betuminoso.
Tamanha guinada em direção à esquerda é uma má notícia não apenas para os empresários, mas também uma quase certeza de que a nova estatal não passará de um enorme cabide de empregos para apaniguados do regime, talvez por inspiração do que ocorre no setor no Brasil, com a gigante Petrobrás, e também para o consumidor argentino que sentirá no bolso todo o custo disso ao pagar, na bomba, pelo litro da gasolina, o dobro ou mais do que está pagando hoje.
Desde que foi reeleita, a governante continuou a atacar a mídia independente, incluindo os dois jornais mais importantes do país, o ‘Clarín’ e o ‘La Nación’. Os economistas que ousam escrever ou dizer que a verdadeira taxa de inflação na Argentina está acima de 20 por cento ao ano são submetidos a perseguições veladas, mas implacáveis, enquanto personalidades do governo são exaltadas. Cristina Fernandez é considerada como sendo guiada por um círculo de militantes liderados por seu filho, Maximo, e nomeado após o governo do presidente esquerdista Hector Campora, do início da década de 1970.
De nada vale a lição de que Campora tenha ajudado a precipitar um dos colapsos políticos e econômicos periódicos que têm vitimado a Argentina por mais de meio século. A maldição que paira sobre esse país que já foi rico é a incapacidade de sua classe política, extremamente corrupta, de aprender com seus fracassos e tropeços — ou com os de seus vizinhos. Enquanto o Brasil e o México crescem a todo vapor, integrando-se cada vez mais e melhor com a economia mundial e consolidando progressivamente democracias estáveis, a Argentina da Sra. Cristina Fernandez de Kirchner ruma inexoravelmente para outro desastre.
Apesar de ser pouco o que o resto do mundo possa fazer para evitá-lo, uma maneira de enviar um apelo de ‘acorde!’ à Argentina seria removê-la do Grupo dos 20, o suposto clube da elite das nações que se reúne para avaliar os problemas econômicos mundiais e como lidar cada uma com eles da maneira mais eficaz. O vizinho Chile, que já ultrapassou de muito a Argentina em desenvolvimento social (econômico e político) e em índice de desenvolvimento humano, seria o país ideal, até por uma questão de justiça, para substituir Buenos Aires no grupo.
Título, Imagens e Texto: Francisco Vianna (com base na imprensa internacional), 20-04-2012

Relacionados:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-